João Casagrande e Rafael Guimarães tinham algo em comum durante grande parte de suas vidas: sempre quiseram jogar games elaborados com imagens de alta qualidade e diversos efeitos especiais, mas na juventude não tinham condições financeiras para comprar computadores que sustentam o peso desses jogos.
Durante a sua primeira graduação – em Ciências da Computação -, Casagrande ainda encontrou outra dificuldade. Ele dependia de salas de computação da faculdade para poder estudar para as provas, uma vez que os programas necessários não rodavam em seu computador.
Então, em 2020, João e Rafael se uniram e estudaram estratégias para levar acessibilidade e democratização para aqueles que, assim como eles, não têm condições financeiras para comprar máquinas tão potentes. Dessas pesquisas surgiu a NOAR, startup que conecta o dispositivo de seus clientes a supercomputadores capazes de abrir aplicativos pesados.
Hoje, a startup funciona como uma “lan house online” e oferece uma solução em nuvem que permite ao usuário jogar ou trabalhar em um computador potente, a partir da sua própria máquina que possui limitações. “É uma revolução e vai tornar a tecnologia acessível a muitos brasileiros que não têm condições de realizar um investimento em um novo PC ou notebook. Foram cerca de três anos de teste para chegarmos a esse produto”, explica o fundador.
Como a solução da NOAR funciona
O cliente aluga o supercomputador através de uma plataforma de streaming, que deve ser acessada pelo aparelho do usuário. Ele se cadastra no site, compra um pacote de horas, escolhe qual computador deseja usar, inicia a máquina e acessa via Moonlight Gamestream – aplicativo de conexão remota específico para tarefas que necessitam baixa latência como jogos e trabalhos com modelagem 3D, diferente do acesso remoto padrão do Windows.
Na plataforma, há diversos conteúdos disponíveis de jogos e aplicativos para trabalho, mas a NOAR não aluga as licenças desses programas. “Nossos computadores possuem esses aplicativos pré-instalados, mas para acessá-los, o cliente deve ter a licença dele”, afirma Casagrande.
Por estar em um data center, a conexão da internet na nuvem pode chegar à velocidade de até 5 Gbps, mesmo que acessada por um PC conectado a 50 Mbps. O sistema é multiplataforma e compatível com uma grande variedade de dispositivos de computador e celular, como Windows, MacOS, Linux e Android.
O sistema operacional utilizado na NOAR é o windows server 2019, que possui compatibilidade com vários aplicativos de jogos e trabalho a serem instalados, mas como se trata de uma máquina virtual, alguns programas não possuem compatibilidade. “Estamos estudando a viabilidade de utilizar o Windows 10, ou Windows 11 nas máquinas, isso aumentará ainda mais a compatibilidade dos programas, mas são planos futuros”, diz João.
Uma “lan house online”
A startup oferece diferentes tipos de planos para os usuários, que podem optar por horas avulsas ou por um pacote pré-definido com descontos a partir de um maior volume de horas compradas. Além disso, segundo Casagrande, a NOAR já está com planos para o lançamento de um pacote business que possibilita às empresas disponibilizar máquinas – potentes e virtuais – para seus funcionários.
“Com o pacote, a empresa não precisa embolsar valor para a compra de computadores, aluguel de espaços para alocação dessas máquinas e contratação de equipes caríssimas de TI”, explica João. “Assim, trabalhos que exigem computadores de alto desempenho para edição de vídeo, renderização em 3D entre outros, poderão ser realizados pelos colaboradores através de seus computadores conectados na nossa plataforma”. No futuro, a startup também lançará um sistema integrado de gerenciamento de acesso que permite um controle da quantidade de tempo usada em cada máquina.
A solução da NOAR também pode ser útil para quem trabalha com imagem. O Adobe Photoshop, por exemplo, pode ser encontrado pré-instalado em uma das máquinas virtuais. Neste caso, o usuário precisa apenas logar no software para utilizá-lo. Um ponto importante é que ao desenvolver um trabalho o arquivo final deve ser exportado e armazenado em uma nuvem, uma vez que nada fica salvo na supermáquina, após o logoff.
A necessidade de salvar os projetos pode acabar em um futuro próximo. O fundador conta que a ideia é implantar um sistema onde o cliente consiga acessar sempre os mesmos dados, dando acesso a um computador “pessoal na nuvem”. “Seria uma área de trabalho remota onde ele mesmo escolheria as especificações – CPU, GPU, memória, armazenamento e sistema operacional”, explica.
Além de ser a solução para quem precisa trabalhar remotamente com uma qualidade de computador e internet, as máquinas virtuais estão disponíveis para os fãs de games, já que os mais populares exigem configurações avançadas em um PC, como GTA V, CS:GO, COD, Fortnite, entre outros.
Hoje, a NOAR tem mais de 6 mil clientes cadastrados na plataforma e crescendo cerca de120 por dia. Desses cadastros, mais de mil são clientes ativos. “Estamos com planos de expandir ainda mais por meio de propagandas e parcerias, além de implantar alguns sistemas de member-get-member”, explica João que ressalta que em breve a startup pretende buscar por investimentos. Para ser fundada, a NOAR recebeu um investimento de R$ 100 mil de um investidor familiar e US$ 200 mil do programa Google for Startups.