Iago Santos sempre gostou de fazer pedidos pelo delivery no trabalho, principalmente pela praticidade da entrega, mas um dia em home office percebeu que a região que morava – uma favela no bairro de São Caetano, em Salvador – não estava na área de cobertura do aplicativo. “Muitos dos meus vizinhos são entregadores de aplicativo, mas mesmo assim eles não estão entregando por aqui, não faz sentido. Além da quantidade de comércio que temos na região”, relembra.
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A capital baiana tem quase metade das 572 favelas do estado que foram identificadas pelo IBGE e estão distribuídas entre 33 municípios. São 270 comunidades em Salvador, e uma das grandes dificuldades dos moradores desses locais é receber suas entregas e encomendas. Iago, que era designer gráfico, se juntou com Ana Luiza Sena, formada em marketing, para mudar esse cenário e, em 2018, criaram o TrazFavela.
A startup tem o objetivo de ser um “delivery de tudo sem preconceito” e busca realizar entregas de dentro para fora e de fora para dentro das comunidades, para fortalecer o comércio local em áreas periféricas. Além disso, oferece oportunidades de trabalho de entrega para os moradores dessas regiões, impulsionando a geração de empregos e o desenvolvimento econômico das comunidades.
Início do delivery foi no boca a boca
Para montar a primeira base de clientes, os fundadores apostaram no boca a boca. Batiam na porta dos comércios da região e explicavam sobre a startup e quão benéfico seria para os estabelecimentos terem uma entrega de dentro para fora. A primeira cliente foi Ingrid Reis, dona de um Sex Shop no bairro de Fazenda Grande do Retiro, que afirma que sua maior dificuldade era conseguir entregadores para buscarem os produtos na área da favela.
“Eu fiz a primeira entrega para a loja e no segundo pedido já apareceu um motoboy para entregar com a gente. E o boca a boca funcionou de forma automática. A Ingrid virou nossa amiga e começou a indicar para outras pessoas. Foi chegando mais clientes e mais clientes e hoje somos um delivery de quase tudo de dentro para fora e de fora para dentro das periferias”, explica Iago.
A trajetória da TrazFavela, no entanto, não foi isenta de desafios. Iago destaca as dificuldades enfrentadas, especialmente em relação ao preconceito e à busca por investimentos. “Sofremos muito preconceito, não só por sermos empreendedores negros e periféricos, mas também por estarmos no Nordeste, o que dificultou conseguir investimentos. Falavam que precisávamos validar mais o nosso negócio e o nosso mercado movimentava na época R$ 141 bilhões”, lembra Iago. A startup recebeu um investimento em 2021 do Google For Startups, através do Black Founders Fund.
Após o investimento, a startup conseguiu evoluir a sua parte tecnológica, além de crescer a base de clientes com grandes nomes como Shopee, Shein, Amazon e Americanas. Antes a conexão entre entregador e comércio era feita pelo WhatsApp. O estabelecimento entrava em contato com a TrazFavela pelo aplicativo de mensagem e os fundadores buscavam um entregador, também através do app e passava todas as informações do local de retirada e de entrega.
Em maio de 2023, a TrazFavela deu mais um passo em direção ao seu crescimento, colocando suas próprias plataformas de entregas para rodar. Uma voltada para Last Mile e grandes empresas onde eles fazem apenas o acionamento do entregador, sem precisar da mediação, e, em janeiro de 2024, será lançado oficialmente o marketplace da startup para atender micros e pequenos comerciantes e grandes empresas de diversos segmentos que estejam estabelecidas dentro da favela também. O modelo de negócio da startup é voltado para comissão para o setor alimentício – quantidade de venda dentro da plataforma – e assinatura, para o setor de vestuário, bem-estar, saúde, entre outros.
Iago destaca a importância de ir além de um simples aplicativo de entrega: “Queremos mostrar que a favela não é só carência e violência. Temos empreendedores, produtos de qualidade e inovação aqui. Queremos construir pontes entre comunidades, empreendedores e oportunidades. A TrazFavela é mais do que um serviço, é uma expressão de potencial e resiliência nas periferias.”
A startup já trabalhou com 175 entregadores e hoje está com uma base ativa de cerca de 100 motoboys. E ao longo desses 4 anos, a TrazFavela conquistou 200 comércios, mas agora recuou para incluir todos dentro da plataforma, tendo 70 estabelecimentos cadastrados e a meta é chegar em 400 até março, na região de Salvador e com projetos de expansão para o Recife, algumas cidades do Nordeste, Norte, CentroOeste e Sudeste. Para 2023, a meta é atingir o faturamento de R$ 60 mil e com expectativas de chegar a R$ 1 milhão em 2024.
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