Por Bruna Galati
Começou nesta quarta-feira (20), e vai até sexta-feira (22), em Porto Alegre, a terceira edição do South Summit Brazil, evento criado na Espanha que já é considerado um dos mais importantes do Brasil para empreendedorismo, inovação e networking.
Uma das primeiras palestras do dia compartilhou um panorama da maturidade do ecossistema de startups gaúcho. A equipe trabalhou através de duas metodologias distintas, uma coletando dados secundários em relatórios nacionais e regionais, e outra com a coleta de dados primários, onde foram entrevistadas 245 startups do Rio Grande do Sul – essa segunda parte foi feita pela Fundação Dom Cabral e liderada pela professora Dra. Kadigia Faccin e pelo professor Dr. Emidio G. Teixeira.
“Para as startups do estado chegarem ao estágio maduro, percebemos alguns elementos que são importantes, como sustentabilidade, capital humano, infraestrutura, aspectos político-legal, sociedade e economia. E eles só são possíveis com o esforço dos atores do ecossistema, como instituições de ensino, governo e investidores”, explicou Carina Pasqualotto, gestora de inovação e tecnologia da Rede RS Startup.
Segundo a pesquisa, no setor de sustentabilidade o Rio Grande do Sul passou da décima quarta colocação para o primeiro lugar em transparência de ações de combate ao desmatamento, no Ranking de Competitividade dos Estados de 2023. “Isso demonstra que o estado se preocupa com o crescimento econômico, mas também com a preservação ambiental”, afirmou Juliana Panosso, gestora de inovação e tecnologia da Rede RS Startup.
Na dimensão econômica, o estado ocupa o primeiro lugar, pelo segundo ano consecutivo, em empreendimentos inovadores, o que significa que o Rio Grande do Sul tem o maior número de incubadoras, aceleradoras, parques tecnológicos em relação à sua população. E está em segundo lugar no pilar inovação.
Na dimensão sociedade, o estado avançou do sexto lugar para o quinto lugar no Índice de Desenvolvimento Humano, ocupando a quarta colocação na sustentabilidade social. “isso demonstra uma preocupação do Estado com o índice de equilíbrio racial e a manutmeção da moradia inadequada da população”, afirmou Jualiana.
Na dimensão capital humano, o estado avançou da nona colocação para o primeiro lugar em avaliação de educação e no que tanja infraestrutura, se destaca pela concentração do seu ecossistema regional. Está em quinto lugar no ranking de Ecossistemas Emergentes da América Latina, quinto lugar no ranking de Ecossistemas Brasileiros, décimo primeiro lugar no Ecossistema da América Latina e décimo quarto lugar no Ecossistema da América Latina e Caribe.
Por fim, na dimensão político-legal, ocupa, pelo segundo ano consecutivo, o primeiro lugar na prestação de serviços públicos digitais. O que demonstra que o estado está usando a tecnologia para dar acesso à população, e hoje, é possível abrir uma empresa em apenas 20 horas.
Maturidade do ecossistema de startups gaúcho
Na segunda parte da apresentação, foram detalhados os resultados da coleta de dados primários, focando na governança e no ecossistema das startups no Rio Grande do Sul. Em uma escala de 0 a 10, o nível médio de desenvolvimento da governança das startups foi avaliado em 6,13. No entanto, essa pontuação varia entre as diferentes regiões do estado. Por exemplo, na região centro-ocidental, observa-se uma governança mais consolidada, com uma média de 6,45. Em contraste, nas regiões sudeste e noroeste, os números indicam um nível inferior de governança, com médias de 5,63 e 5,59, respectivamente.
Também foram avaliadas as dimensões do capital financeiro e da infraestrutura para inovação nas diferentes regiões. Destaca-se que a infraestrutura para inovação é um dos pontos mais robustos, com uma média de 7,48 numa escala de 0 a 10. Quanto ao capital financeiro, observa-se um nível de 6,66. Além disso, o nível médio de governança nas regiões analisadas foi avaliado em 6,13.
Das 245 startups entrevistadas no estudo, o que representa 25% do total das startups do estado, que ultrapassam mil startups ativas, 178 estão em fase de crescimento (growth), 54 estão em fase de desenvolvimento de escala (scale-up), 12 estão em estágio inicial (early-stage) e 1 está em fase de seed e development.
“Um indicador que me chamou atenção nesta análise é o crescimento das startups ao longo do tempo. Notamos que as startups, ao começarem com zero anos, contam com aproximadamente 4,6 colaboradores, incluindo os fundadores. Entretanto, ao longo de 10 anos, essas startups alcançam um tamanho médio de 59,20 colaboradores. Isso evidencia que, apesar dos desafios enfrentados, nosso ecossistema tem obtido sucesso em promover o desenvolvimento dessas organizações”, explicou Emidio Teixeira.
Segundo o estudo, startups lideradas por mulheres dependem em torno de 40% do capital de familiares e amigos, enquanto, por outro lado, na realidade masculina essa proporção é de 24%. “Isso evidencia uma disparidade significativa no acesso ao financiamento para startups lideradas por mulheres. Precisamos trabalhar para criar oportunidades equitativas para todos”, afirmou o professor. Além disso, metade das startups (38,2%) com até 5 anos enfrentam dificuldades para obter capital externo, fora do próprio círculo pessoal.
Insights após levantamento
O encerramento da palestra trouxe uma reflexão sobre os principais pontos abordados e os desafios enfrentados pelo ecossistema de startups. “Não estamos aqui para criticar, mas sim para identificar como o ecossistema de startups gaúcho já evoluiu e como podemos continuar melhorando”, explicou Carina, que continuou o discurso citando 10 insights tirados da pesquisa:
1. Os recursos e suporte para startups não são distribuídos igualmente pelo RS, prejudicando o desenvolvimento em áreas menos favorecidas;
2. Startups em estágios avançados têm mais acesso a financiamento, enquanto as novas, com até 5 anos, dependem mais de capital próprio;
3. Embora o financiamento bancário seja importante, é essencial desenvolver opções de financiamento mais adaptáveis às necessidades específicas das startups;
4. As ações de governança nos ecossistemas devem privilegiar o compartilhamento de informações sobre financiamento e acesso a recursos;
5. Mobilizar atores, alinhar objetivos e monitorar metas são os maiores desafios da governança em ecossistemas;
6. Apesar dos avanços, há ainda uma lacuna entre o conhecimento acadêmico e sua aplicação prática;
7. A maturidade dos ecossistemas está diretamente relacionada com a maturidade da governança;
8. O crescimento e sucesso das startups dependem mais da sinergia criada por uma boa governança do que de recursos isolados;
9. As startups carecem de processos de P&D estruturados, beneficiando-se das interações promovidas no ecossistema como uma plataforma para co-criação e desenvolvimento de novas soluções;
10. Políticas de apoio à governança regional, como StartupLab e InovaRS, são estratégias promissoras para o desenvolvimento territorial.
Para acessar a pesquisa completa, basta entrar neste site aqui.
Complemento sobre o ecossistema
Para complementar a pesquisa divulgada durante o South Summit Brazil, o Startupi trouxe o estudo “RS Tech 2023: As startups do ecossistema de inovação do Rio Grande do Sul”, estudo do governo do estado com o Instituto Caldeira.
A pesquisa envolveu as secretarias de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sict) e de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) e foi realizado de forma online e auto declaratória e foi composto de 120 questões. As respostas foram coletadas por 100 dias, de dezembro de 2022 a março de 2023, e você confere o estudo completo aqui.
Confira um resumo do levantamento:
As startups são jovens
- 78% foram fundadas nos últimos 5 anos;
- 50% estão na fase de pré-operação (ideação, validação e operação inicial);
- 50% estão em operação (operação, tração, scale up).
As startups podem começar a faturar cedo
- 60% realizaram o primeiro faturamento antes de completar 6 meses
- 23% ainda não tiveram o primeiro faturamento.
As startups crescem rápido
- 64% das startups apresentam crescimento de faturamento superior a 20% ao ano.
As startups estão gerando empregos
- 43% das startups têm equipe com 6 ou mais funcionários.
Conhecimento de mestres, doutores e pós-graduados é relevante
- 35,6% dos fundadores de startups são mestres ou doutores;
- 30,1% possuem MBA ou especialização;
- 20,8% têm superior completo e 13,5% têm superior incompleto ou médio;
- 54% das startups contam com mestres ou doutores na equipe.
Entre as startups consolidadas que informaram já terem lançado inovações no mercado (com múltiplas respostas por alternativa)
- 29% declararam que inovaram com grau de novidade novo para o mundo;
- 49% novo para o Brasil;
- 32% novo apenas para o Rio Grande do Sul.
As startups atuam em tecnologias estratégicas
- 87% atuam no desenvolvimento de tecnologias estratégicas para o RS;
- Setores mais citados: software e hardware; computação em nuvem; inteligência artificial; dispositivos web e comunicação; manufatura padrão avançada; biotecnologia e internet das coisas (IoT).
Como nascem e evoluem as startups gaúchas
- 89% começaram investindo com recursos próprios;
- 55,5% utilizaram apenas essa fonte de recursos para iniciar;
- 50% começaram com até R$ 50 mil.
Startups participam de incubadoras
- 34% estão situadas em incubadoras (total ou parcialmente),
- Apenas 14% graduaram-se em incubadoras;
- 28,5% das startups têm ou já tiveram relação com aceleradoras.
Startups passam pouco por rodadas de investimento
- 21% receberam recursos por meio de rodadas de investimentos. Dessas, aproximadamente a metade (equivalente a 10% do total) recebeu recursos através de investidor-anjo.
Startups precisam ser conectadas às políticas públicas de apoio:
- 71,6% não conhecem ou não buscaram acessar políticas públicas de apoio a startups (dessas,
- 34% conhecem, mas não buscaram acessar,
- 37,7% não conhecem;
- 14,5% conhecem e já acessaram políticas públicas de apoio a startups
- 14% tentaram acessar e não obtiveram sucesso.
Startups possuem dificuldades para acessar linhas de crédito de instituições financeiras
- 74% nunca procuraram acessar linhas de crédito de instituições financeiras públicas ou privadas;
- 8,7% tentaram acessar e não obtiveram sucesso;
- 16,5% já acessaram.
Startups alcançam o Brasil, mas podem expandir
- 75,5% vendem para além do RS;
- 25,5% vendem só RS;
- 47,6% vendem RS + BR;
- 13,2% vendem RS + BR + exterior;
- 12,3% vendem apenas BR;
- 1,4% outros;
- 15% já fizeram uma transação internacional.
Acesse aqui e saiba como você e o Startupi podem se tornar parceiros para impulsionar seus esforços de comunicação. Startupi – Jornalismo para quem lidera a inovação.