Há alguns dias, dei uma palestra na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), no Rio Grande do Sul, a convite do curso de Comunicação Social da instituição, pelo qual me graduei jornalista. Na ocasião, desafiei as turmas a encaminharem para o Startupi matérias (posts, ou e-mails mesmo) que falem sobre o que anda acontecendo na região relacionado a inovação digital, tecnológica, empreendedorismo… para proporcionar um intercâmbio e visibilidade.
Para minha grata surpresa, recebi já no dia seguinte um e-mail contando sobre um projeto muito interessante. Mas não sei se comemoro ou lamento o fato de o e-mail não ter sido encaminhado por alguém da Comunicação, e sim pelo próprio empreendedor. Isso é sinal de que, quando o cara quer ver algo acontecer, tem mesmo que fazer acontecer ao invés de contar com o trabalho dos outros.
Bem, talvez falte comunicação e vontade de fazer junto – e isso também é fundamental para qualquer projeto. Certamente os empreendedores de tecnologias da informação não recebem a devida atenção nas regiões menos desenvolvidas (coincidência?).
Reproduzo abaixo a nossa comunicação. Não que esse seja o melhor texto do mundo possível sobre o assunto, mas, geralmente, quando o texto vem do pessoal de comunicação, tenho que editar bastante. Continuo achando que os comunicadores, em geral, andam bem perdidos nessa nova era de comunicação integrada digital – em curso há 20 anos. O público fica “a mercê” das empresas e de usuários pesados que publicam o que entendem.
“Meu nome é Vitor Matheus, assisti sua palestra ontem na Unisc e quero dizer que me foi muito proveitosa. Num dado momento da palestra você perguntou aos presentes o que o pessoal da computação estava fazendo? Nós da Valoriza Web (sou sócio junto com o Ismael), participamos da Incubadora Tecnológica da Unisc onde temos um projeto muito interessante na área da marketing móvel (a empresa tem mais projetos, mas vou te falar apenas deste).
Neste momento estamos recebendo uma consultoria com um chileno, Kurt Vega Olate, para fazer a análise e segmentação de mercado, estratégias de marketing para promover o produto, enfim. Mas gostaria de falar um pouco sobre o nosso projeto.
Tecnicamente, nosso sistema permite a geração de ligações telefônicas em massa (com arquivo de áudio, ou conversão de texto em voz), permite também a interação do usuário com esta ligação (deixando uma mensagem, selecionando opções, entre outras), o recebimento dos dados para envio e as informações deste envio são automáticas, e o custo é extremamente interessante.
Conceitualmente, o produto consiste em proporcionar às empresas um tipo de marketing diferenciado (direto, rápido, emocional, interativo) que atenda não só as suas necessidades explícitas como também as implícitas, promovendo além da entrega das mensagens a sua posterior difusão e a mensuração do retorno destes resultados.
Nosso conceito de desenvolvimento é utilizar a inovação para desenvolver produtos enfocados na melhoria dos negócios de nossos clientes e entregar não apenas produtos mas sim soluções.
Estamos trabalhando em (esta é a parte que talvez lhe interesse mais) integrar este sistema às redes sociais. Queremos também em lançar um produto parecido para chamadas de vídeo (isso no momento oportuno dentro do ciclo de vida deste produto atual).
Bom, simplificadamente este é o nosso projeto. Quero desejar-te muito sucesso e, se algum investidor lhe perguntar se conheces algum negócio no Brasil para investir, hehehe“.
Ao ler o e-mail, lembrei do Nuswit (que participou dos “startupitches” durante a Campus Party e foi um dos projetos finalistas). Perguntei sobre a semelhança.
“Realmente é muito parecido, na verdade acho que ambos nos copiamos sem saber – já que não nos conhecemos. O que vejo distinto é o preço cobrado (nosso é bem menor), se integra a um sistema que a empresa já possua via intercâmbio de arquivo. Mas o principal diferencial que vejo é que eles estão vendendo apenas a tecnologia. Acho que com a estrutura que tem de equipamentos e setor comercial (maior e mais “rica” do que a nossa), localização no centro do país, e com o preço que cobram deveriam se preocupar mais com o negócio dos clientes”.
Como é participar da incubadora?
“Eu sou formado em Ciências da Computação e meu sócio em Mídias Audio Visuais. Temos outras pessoas de Administração, Engenharia da Computação. O projeto que temos na incubadora atualmente é a Rede Divulgação (enfocado na divulgação de empresas locais, para clientes locais). A incubadora foi (é) muito importante para a empresa já que nos possibilitou a participação em inúmeros cursos e assessorias (área administrativa, financeira, marketing, …), programas de qualidade, enfim.
Hoje temos uma visão mais empresarial, mais ampla do nosso negócio, o que é uma dificuldade muito grande para muitas empresas, já que geralmente as empresas são compostas por pessoas com profundo conhecimento técnico que resolvem desenvolver uma ideia mas pecam na administração, planejamento estratégico de seus negócios.
Por outro lado, falta na incubadora, e pelo que percebo é algo que acontece em todo o Brasil, a parte de dispositivos para financiamento das ideias, existem várias empresas com ideias interessantes e inovadoras mas que não conseguem desenvolvê-las. Temos a assessoria de um intercambista chileno (já falei dele) e ele estranhou muito a falta de “inversionistas”. Mas de forma geral, recomendo às empresas enviarem seus projetos à Incubadora”.
Tudo bem, os caras tem apenas um projeto, pois falta capital para desenvolver com robustez. Mas o que falta mesmo para toda essa turma inovadora e empreendedora da incubadora (e da região como um todo) é se abraçar com comunicadores! Como empreendedores procuram consumidores? Como comunicadores procuram novidades? Como não perceber nem noticiar que o projeto criado ao lado da redação é praticamente igual ao projeto finalista de um dos principais eventos de inovação em tecnologias da comunicação do mundo todo? Precisa vir alguém de São Paulo para fazer uma simples pergunta e botar um e-mail à disposição?
Como já dizia o poeta, markets are conversations, mercados são conversações, então tentem aprender, inovar e falar um pouco sobre o futuro (ou até mesmo sobre o presente) em tanta cobertura jornalística. Faz um mês que eu ofereci minha rede de contatos internacionais (para mostrar o valor de vocês, de ambos lados da história, realizadores e contadores) e espero por outro sinal de vida inteligente – além desse release feito e enviado pelo cara da computação. Quando a comunicação vai voltar a inspirar novos ciclos de desenvolvimento e botar o interior no mapa?