Por Bruna Galati
Durante sua jornada universitária, você já se viu diante de uma situação em que as diretrizes dos professores para a “carreira ideal”, o “emprego dos sonhos” ou o “caminho correto a seguir” não estavam alinhadas com os objetivos que você tinha para a sua trajetória profissional? Se a resposta for sim, como você lidou com essa situação?
Rafael Kenji enfrentou essa circunstância e hoje está desempenhando um papel significativo no avanço da medicina por meio da inovação. Natural de Belo Horizonte e com formação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Kenji seguiu um caminho pouco convencional na área.
Desde a infância, Rafael demonstrou curiosidade e inquietação. Criado em uma família que valorizava a educação, mas também mantinha uma atmosfera rígida e regrada, ele sempre questionou intensamente o mundo ao seu redor. “Essa criação rigorosa pode ter, de certa forma, aberto portas para o meu lado curioso. Embora muitas vezes tenha sido rotulado como alguém rebelde, incapaz de seguir regras, também era necessário estimular esse meu lado”, compartilha.
Após ser admitido na universidade, Rafael ingressou no curso de Medicina com a intenção de aliviar o sofrimento humano. Ele enxergava o papel do médico não como o de um salvador de vidas, mas como alguém capaz de amenizar o sofrimento, seja ele físico, emocional ou mental. “O médico tem a capacidade de entrar na casa e na mente das pessoas, ouvir o que elas não compartilham com mais ninguém. É uma relação profundamente íntima”, explica.
A virada na trajetória de Rafael Kenji ocorreu quando ele teve a oportunidade de fazer um estágio na renomada Universidade de Harvard, onde teve contato com a gestão e inovação na área da saúde, algo que nunca tinha explorado durante seus estudos no Brasil. No último ano de graduação, em 2017, ele também cofundou uma empresa júnior – que hoje é uma das maiores no setor de medicina da América Latina – composta por alunos de Medicina da UFJF, dedicada a realizar projetos de consultoria em saúde para clínicas, hospitais e profissionais da área.
Primeira atitude empreendedora de Rafael Kenji fora do papel
A primeira atitude empreendedora foi moldada por desafios e resiliência. Um dos seus melhores amigos na faculdade foi diagnosticado com câncer no pâncreas. Sem saber como lidar com a situação, Rafael e outros colegas foram em busca de soluções. Por coincidência, durante esse período, um congresso internacional sobre câncer estava ocorrendo em São Paulo. Impulsionados por esperança e determinação, eles viajaram à cidade com um objetivo: encontrar os melhores profissionais para auxiliar no tratamento do amigo.
Essa jornada instigou reflexões profundas sobre o futuro de Rafael e de seus companheiros. Os pensamentos sobre a carreira, os objetivos e os valores tomavam conta de suas mentes, a experiência também fez com que eles tivessem acesso a realidade da profissão médica, algo que não tinham vivenciado durante a graduação, que tinha foco intenso nos estudos.
Reconhecendo a falta de uma conexão entre a formação acadêmica em medicina e o mundo real, eles decidiram fundar a Medic Jr Consultoria em Saúde. A empresa não apenas ofereceria serviços de consultoria em saúde, mas também promoveria uma educação empreendedora entre os estudantes de Medicina, auxiliando-os a encontrar clareza em suas jornadas profissionais.
O sucesso da empresa superou todas as expectativas, consolidando-se como uma das maiores empresas juniores do setor médico na América Latina. No entanto, a jornada significou mais do que isso para Rafael. Reforçou a sua convicção de que não existe apenas um único caminho na medicina. Isso o impulsionou a seguir seu interesse na gestão. O amigo que enfrentou o diagnóstico aterrorizante está vivo, descobriu que o tumor era benigno e passou por uma cirurgia robótica bem-sucedida para remover parte do pâncreas.
Novos caminhos
Ao optar por trilhar o caminho da gestão na área da saúde, além das rotas clássicas da prática clínica, Rafael se deparou com questionamentos desafiadores. Ele relembra dos dias em que ouviu comentários como “burocrata” e “não nasceu para ser médico”. No entanto, ele acredita que a gestão é uma habilidade crucial para todos os médicos, já que trabalham em equipes multidisciplinares e necessitam de uma gama variada de competências, que vão desde a gestão de equipes até a gestão financeira e pessoal.
Rafael Kenji defende a ideia de que a medicina vai além do simples atendimento direto ao paciente. “Ser médico não se limita ao cuidado do paciente. Você pode se tornar professor em uma faculdade de medicina, ser pesquisador, trabalhar em farmácias, contribuir para o desenvolvimento de vacinas, atuar nas Forças Armadas, explorar a inovação e o mercado financeiro, assim como eu fiz, mas sempre com foco na área da saúde. A administração hospitalar também é uma possibilidade”, explica ele.
Em 2019, Rafael assumiu o cargo de gestor médico na Conexa Saúde, uma das maiores plataformas de cuidado integrado da América Latina. Durante três anos, esteve envolvido em diversas áreas, como recrutamento, seleção, garantia de qualidade, protocolos e operações médicas. “Foi nesse ponto que compreendi plenamente que a decisão de seguir uma carreira na gestão de saúde estava correta. Senti a responsabilidade pelos mais de 40 milhões de atendimentos realizados pela empresa durante o meu período lá, pois lidava diretamente com uma equipe de médicos. Quando, ao longo da minha vida, eu teria a oportunidade de participar de tantos atendimentos? A resposta é: provavelmente, nunca.”
Além disso, Rafael Kenji também teve uma passagem pela Jaleko, uma startup de educação médica. Lá, trabalhou diretamente com inovação, criação e com o ecossistema de startups, obtendo as ferramentas necessárias para assumir o próximo cargo que estava destinado a ele: CEO da FHE Ventures, um fundo voltado para saúde e educação que promove o desenvolvimento de startups.
A FHE Ventures é o braço de saúde e educação da FCJ Venture Builder, uma multinacional pioneira no conceito de Venture Builder no Brasil. Atualmente, a FHE conta com 12 investimentos e está caminhando para atingir 25 startups no portfólio até o final do ano, com mais de 77 investidores envolvidos. Rafael Kenji compartilha que o fundo trabalha com startups que oferecem diversas soluções, tais como detecção de sangue oculto nas fezes, tratamento de feridas com oxigenoterapia, diagnóstico de distúrbios do sono, entre outras.
“Para desempenhar o papel de CEO da FHE Ventures, era essencial ter conhecimento técnico como médico. Isso me possibilitou lidar tanto com o vasto mercado da área da saúde, quanto com a dinâmica peculiar do setor. É notável que os médicos tendem a se comunicar apenas com outros médicos e a fechar negócios dentro dessa comunidade restrita. A minha formação me permite estabelecer conexões com investidores, empresas, corporações e hospitais, atuando como uma ponte entre esses diferentes universos”, explica ele.
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Passos para investir em uma startup
Rafael compartilha também os passos fundamentais para investir em startups. Para ele, essa análise é um processo minucioso. Ele inicia buscando especialistas no campo específico da startup na qual pretende investir, tanto para obter opiniões quanto para recrutar profissionais com habilidades que possam contribuir para o processo.
A seguir, ele avalia o problema que a startup visa resolver. Como investidor-anjo, já contribuiu com 12 startups e ressalta que, mais do que se apaixonar pela solução em si, os empreendedores devem apaixonar-se pelo problema que estão abordando. Além disso, a análise da equipe é crucial. Mesmo uma solução brilhante pode perder seu valor se não estiver apoiada por uma equipe comprometida. Rafael Kenji vai além, incluindo a exploração de análises de perfil psicológico e saúde mental para avaliar a coesão da equipe.
No entanto, ele também compartilha uma verdade essencial: nem todas as startups resultam em investimentos bem-sucedidos. Rafael enfatiza que a colaboração entre empreendedor e investidor é fundamental. O investidor precisa trazer conhecimento e recursos, e o empreendedor deve estar aberto para absorver esses aprendizados. Quando essa visão não é compartilhada, é mais sensato encerrar o contrato cedo, ao invés de persistir em um empreendimento fadado ao fracasso.
Em alguns casos, pode ser recomendado que a startup mude sua abordagem ou participe de um programa de aceleração. Rafael também destaca que a decisão de investir, seja como pessoa física ou por meio de fundos, acarreta um risco inerente. O segredo reside em encontrar o equilíbrio entre potenciais perdas e ganhos.
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