* Por Elber Mazaro
A qualificação em um mestrado, tanto acadêmico quanto profissional, ocorre normalmente nos primeiros quinze meses (metade do prazo para conclusão do curso). É uma apresentação do projeto de pesquisa, com as suas justificativas, bases teóricas, método a ser utilizado e demais informações relevantes, para avaliação da banca, formada pelo orientador e mais dois professores/doutores, sendo um externo à instituição.
Em princípio o aluno só é efetivamente considerando um mestrando, quando tem seu projeto de dissertação aprovado na banca de qualificação. Antes disto é um “aspirante”.
No Mestrado Profissional em Empreendedorismo da FEA-USP, um curso que iniciou em 2014, portanto está prestes a formar os mestres da primeira turma, a dinâmica vem evoluindo junto com a interação dos professores e alunos. Neste momento a maioria dos alunos da Turma 2, da qual eu participo, está se preparando para a qualificação, sendo que alguns já passaram por esta fase no final do ano passado. Eu me qualifiquei em 1o de Dezembro de 2015.
Uma das diferenças para o Mestrado acadêmico é a inclusão de um capítulo para o relato da experiência vivida pelo aluno e que baseia todo o projeto de pesquisa da dissertação, o qual parte da prática para a teoria. Outra característica tem sido a busca por antecipar a qualificação, aliviando um pouco a exigência por um referencial teórico profundo e demandando um documento com aproximadamente 20 páginas (dependendo do orientador) e uma apresentação para ser feita à banca em 20 minutos.
Notei muito nervosismo entre colegas com relação a este processo de qualificação, o qual se coloca como um teste, que validará a definição do problema, a abordagem metodológica, os referencias teóricos, apresentados para o desenvolvimento da dissertação. É como uma prova, uma avaliação, sem nota. Apesar de se contar o tempo todo com a participação de um professor orientador, normalmente um doutor que te apoia e participa da banca, os alunos ainda se preocupam bastante com esta fase e com o feedback a ser dado pelos dois professores convidados.
O meu processo foi bem tranquilo, a apresentação ocorreu em 20 minutos, conforme previsto, mas o debate com os três professores tomou mais de uma hora e meia, pois se converteu em um conversa muito produtiva sobre dúvidas e oportunidades para detalhamento, caminhos alternativos e melhorias no projeto da dissertação. Fiquei muito satisfeito com o resultado e recebi um retorno positivo dos professores.
Na minha reflexão após a qualificação, busquei um paralelo com a vida executiva e também com o dia a dia de empreendedor. Identifiquei que um executivo possui vários momentos equivalentes à uma qualificação, e talvez por esta experiência eu me senti bem tranquilo. Já precisei preparar planos com orçamentos de dezenas de milhões de dólares e metas muito agressivas e a qualificação executiva ocorria no momento de apresentar estes projetos para o CEO da empresa ou vice-presidentes com poder para tomar decisões que podiam inclusive impactar a minha carreira executiva para sempre. Estes momentos ocorriam pelo menos 5 vezes por ano. Em algumas ocasiões, as apresentações, defesas e discussões ocorriam para mais de uma dezena de altos executivos do mundo todo. Então um executivo experiente se “qualifica” com bastante frequência e por isto quando migra para a academia, tende a superar com serenidade esta fase.
O tema da minha dissertação é a transição de executivos para empreendedores, portanto a minha próxima reflexão foi sobre qual seria o processo de qualificação do empreendedor; seguindo assim o paralelo com a dinâmica acadêmica.
No início eu pensei no momento em que o empreendedor procura investimento ou faz um “pitch” para grandes audiências, buscando vender sua ideia e conseguir apoio, principalmente financeiro, para seguir com seu empreendimento. O papel de orientador pode ser feito por investidores anjos, aceleradoras, incubadoras e mentores. A cada rodada, uma nova qualificação.
Mas após revisar um pouco mais a dinâmica do empreendedor, que venho vivendo e pesquisando tanto, concluí que na verdade o empreendedor precisa se qualificar muito mais, ou seja, a qualificação do empreendedor é quando ele precisa validar o seu negócio e para mim, este momento é quando se está na frente do cliente com potencial para comprar o seu produto. A cada tentativa de venda, a cada abordagem a um cliente, o empreendedor, seu negócio e seus produtos serão qualificados. E neste caso, o empreendedor está sozinho, sem orientação. O impacto do retorno também pode ser bem pior e mais frustrante. Sendo assim, creio que o empreendedor deve se qualificar todo dia e isto faz parte do que significa ser empreendedor.
Já pensou nos seus processos de qualificação?
Todos temos os nossos, mesmo que estes momentos de validação, feedback, avaliação, tenham outros nomes, frequências e consequências. O importante é lembrarmos da preparação, orientação, apresentação e do diálogo em busca de uma evolução contínua, como deve ser uma boa qualificação.
Elber Mazaro é cofundador do Descomplicando Carreiras. Assessor, consultor e professor em Estratégia, Marketing e Carreiras. Mestrando em Empreendedorismo na USP, com pós-graduação em Marketing e bacharelado em Ciências da Computação. Possui mais de 25 anos de atuação mercado de tecnologia e liderança de negócio, marketing, vendas, serviços e área técnica.