Em 20 de julho de 1969, os astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin alunissaram o módulo lunar Eagle, parte da missão Apollo 11, e pisaram na Lua. O sucesso da missão foi comemorado e televisionado por todo o planeta, e também foi a primeira vez que Ivair Gontijo assistiu TV.
Desse marco histórico para o jovem Ivair e para a humanidade, nasceu o desejo de explorar o universo e todas suas possibilidades. Nascido em Moema, no interior de Minas Gerais, ele se formou em Física pela UFMG e se tornou doutor em Engenharia Elétrica na Universidade de Glasgow, e hoje é um dos engenheiros responsáveis pelas missões da Nasa na exploração do planeta Marte.
Na NASA desde 2006, Ivair trabalha em equipes com alguns dos engenheiros mais brilhantes do planeta. E a experiência para gerenciar grandes times veio também do interior de Minas Gerais. Aos 19 anos, Ivair gerenciava a Fazenda Água Branca, que ficava a 100 quilômetros de distância da cidade mais próxima, e com centenas de funcionários sob seus comandos. “Não tinha polícia, hospital, nada próximo da gente ali. Então eu tinha que tratar as pessoas com muito respeito, para convencê-las a fazer alguma coisa, mostrar que aquilo era a melhor opção não só para elas, mas para todo mundo. E é muito parecido com a forma como a gente faz na NASA. No fim das contas, gente é a mesma coisa em todo lugar, seja na NASA ou lá na fazenda.”
Vida em Marte
O mineiro foi um dos líderes de equipes que ajudaram na aterrissagem do robô Curiosity, que chegou no planeta vermelho em 2012 para investigar o clima e a geologia marcianos. Hoje, o engenheiro é um dos líderes do Perseverance, robô lançado à Marte em 2020, com o objetivo de descobrir se o planeta pode ter sido habitável no passado. “O Perseverance está coletando amostras, usando as melhores tecnologias que temos no momento, para encontrar material orgânico em Marte. O objetivo é que a gente consiga responder a pergunta que existe há séculos: estamos sozinhos no universo ou a vida se formou em outros lugares?”.
Perguntado sobre suas convicções sobre o tema, Ivair – como um bom cientista -, prefere não opinar sem provas. “‘Acreditar’ não é a maneira como eu penso. Me mostra as evidências e me explica, se eu entender eu vou concordar ou não. A chance de existir vida fora da terra é provavelmente boa, mas a gente ainda não tem esse conhecimento. Ainda. Se a gente continuar insistindo, a gente vai resolver essa pergunta”, garante.
A agência governamental norte-americana não é a única em busca dessa resposta. Elon Musk, fundador da SpaceX, afirma que até o fim desta década o homem já terá pisado em Marte. Para o brasileiro, uma certeza: “não posso dizer precisamente quando, mas acho que ainda estarei vivo para ver a primeira missão tripulada para Marte.”
Investimento e tecnologia
Os investimentos para fazer com que esses planos se tornem realidade têm preços exorbitantes. Em março, o administrador da NASA Bill Nelson declarou que o pedido do governo de Joe Biden para o orçamento da Nasa em 2023 é de US$ 26 bilhões, o maior da história da agência. Em maio, a SpaceX anunciou sua busca por quase US$ 2 bilhões em financiamentos para os projetos do foguete Starship e os serviços de internet via satélite Starlink.
Ivair vê os custos bilionários da exploração espacial como um investimento para a humanidade do futuro. “As tecnologias desenvolvidas hoje vão alterar, de alguma forma, o futuro da humanidade. Daqui 2 mil anos, Marte pode ser um planeta colonizado, e arqueólogos humanos podem encontrar nossas espaçonaves enterradas na areia. Em 100 mil anos, a humanidade pode ter colonizado Marte e as luas geladas de Júpiter e Saturno, por exemplo”, imagina o cientista.
Para a humanidade de hoje, como conhecemos, também podem haver benefícios das tecnologias desenvolvidas pela NASA. “Tecnologias são adaptáveis, é possível aplicar algo que já foi desenvolvido em uma área específica para outro segmento. Muita coisa desenvolvida pela NASA pode servir de inspiração para empreendedores e startups. Quando o Santos Dumont desenvolveu o avião, por exemplo, ele não estava pensando em criar companhias aéreas, mas demonstrar que um objeto mais pesado que o ar poderia voar igual a um passarinho.”
Ao ser perguntado sobre se participaria de uma missão tripulada para Marte, Ivair é enfático: “Eu iria pra Marte hoje, mas tem que voltar, né? Tem que voltar pra contar como é que é!”.