* Por Frederico Rizzo
Digamos que apenas recentemente você ouviu falar que as startups vão mudar o mundo e, por isso, se interessou em participar desse novo mercado. Ou pode ser que você já tenha experiência na bolsa de valores e busque uma nova opção para diversificar seu capital. Qualquer que seja o seu motivo, a verdade é que você não terá acesso direto a uma startup, muito menos a uma com reais chances de sucesso – com os fundadores certos, com vantagens competitivas significativas, com o valuation adequado etc.
Por isso, coinvestir com anjos mais experientes é a principal alternativa para 99% dos investidores em startups. Mesmo que você tenha muito dinheiro e condições de assinar cheques de R$50mil – montante mínimo aceito pelas startups de primeira linha – você dificilmente fará parte da lista das primeiras pessoas que esses empreendedores farão contato na hora de levantar capital semente. E não estando entre os primeiros 50 investidores contatados, provavelmente não haverá mais espaço para você investir (as rodadas são em geral de R$300mil a R$800mil) ou você não vai querer participar, pois muita gente com mais traquejo do que você já recusou a oferta – o que é um mau sinal.
Isso significa que assim como é importante fazer a diligência do negócio que se pretende investir, também é fundamental conhecer com quem se está investindo. Por que o líder da rodada está investindo? Qual é o seu histórico de sucesso? Que valor ele, e outros coinvestidores já comprometidos agregam à startup? Abaixo, destaco 5 aspectos importantes de serem analisados antes de coinvestir com um anjo.
Avalie o histórico de sucesso do líder
Muitos investidores alegam ter empreendido por diversas vezes e investido em múltiplas startups, mas não mostram quais são essas empresas, ou por quanto/pra quem vendeu sua participação. Em geral, quem faz muito marketing não é quem investiu nos poucos casos nacionais de sucesso, como o Buscapé, Movile, ou mesmo em startups mais jovens, porém promissoras, como Resultados Digitais, ContaAzul, Pipefy, Dr. Consulta, entre outras.
É verdade que são muito poucos os casos de sucesso e, portanto, os investidores com tal perfil no Brasil. Avalie então competências chaves como a capacidade de identificar talentos (um portfólio pessoal com empresas de renome ou redes de relacionamento bem estabelecidas) e de agregar valor para os empreendedores (abrindo portas e ajudando a levantar rodadas subsequentes de capital). Busque referências do investidor, principalmente com fundadores do seu portfólio.
Quando buscamos anjos para participarem da rodada de captação para o Broota, priorizamos anjos que já fundaram suas próprias empresas, escalaram operações, passaram por múltiplas rodadas de captação e, preferencialmente, tiveram bons eventos de liquidez. Esse tipo de investidor, rotulado de “operador”, costuma ter acesso a mais negócios (vantagem significativa num mercado com enormes assimetrias de informação) e atrair empreendedores de maior calibre. Naturalmente, cabe reconhecer que muitos investidores têm expertises diversas, muitas vezes em indústrias específicas, potencialmente de enorme valia para uma startup específica, apesar de não terem empreendido na sua trajetória profissional;
Verifique a frequência das oportunidades
Quem tem experiência investindo em startups – e acima de tudo uma boa reputação no mercado – recebe muitos contatos (e pitchs) de empreendedores em busca de capital. É esperado, portanto, que mesmo investindo em apenas 1% a 5% das empresas analisadas, este investidor mantenha uma certa regularidade nos seus aportes – inclusive para garantir uma boa diversificação no tempo.
Fique atento ao investidor que traz oportunidades apenas vez ou outra, pois isso pode significar que ele não compartilha todas as empresas com você, que seu fluxo de negócios é fraco ou que apenas abre espaço para as startups que estão com dificuldade de fechar a rodada.
A transparência do investidor-líder em relação a sua política de compartilhamento de negócios também é fundamental. No Broota, por exemplo, os Sindicatos são obrigados a informar quantos negócios pretendem investir por ano, se todos os seus investimentos serão compartilhados pela plataforma ou como serão definidos os negócios apresentados aos coinvestidores.
Acesse o comprometimento financeiro de quem lidera
Idealmente você quer coinvestir com alguém que esteja de fato comprometido com o sucesso da startup. Em inglês o termo que se usa é “skin in the game”, que significa o quanto da sua própria pele está em jogo em uma determinada operação. O problema é que em termos financeiros isso significa coisas diferentes para distintos investidores. Para um anjo, R$100mil pode significar bastante dinheiro, uma aposta concreta na empresa. Mas para um fundo de venture capital, esse valor é irrisório, pois deve representar menos de 0,1% do seu capital.
O papel do investidor-líder não é apenas selecionar bons negócios e compartilhar sua alocação na rodada com seus coinvestidores, mas, principalmente, agregar valor após a captação – ou pelo menos até uma rodada de Série A, quando um fundo institucional realiza um novo aporte financeiro e envolve seu time de analistas e partners para permitir à startup seguir com sua trajetória de crescimento. Logo, se o líder não tiver recursos significativos investidos na empresa, ele provavelmente não gastará muito do seu tempo ajudando a startup a crescer.
Como base de comparação, os gestores de fundos de capital semente e venture capital costumam aportar do seu bolso (capital próprio) de 1% a 5% do total do fundo. Já os investidores anjos que lideram rodadas, por sua vez, investem, em média, 10% a 15% da sua alocação na rodada. No Broota, por exemplo, os Sindicatos são obrigados a informar quanto investem, em média, por empresa. Com essa informação, é possível ter uma noção se o seu aporte em determinada startup está acima ou abaixo da média daquele anjo.
Fique atento a potenciais conflitos de interesse
No Brasil, é infelizmente comum o investidor-líder prestar algum tipo de serviço de captação para a empresa, cobrando da mesma em ações ou mesmo em dinheiro. Isso faz com que o comprometimento financeiro desses investidores seja muitas vezes zero, colocando-os ainda numa situação clara de conflito de interesse – presta serviço para os empreendedores (clientes), mas por outro lado deveria defender os interesses dos seus coinvestidores.
Onde esse conflito fica mais evidente é na precificação da rodada, um dos papéis mais importantes do investidor-líder. Todo mundo sabe que uma das principais formas de aumentar as chances de retorno em um investimento é comprando barato, ou pelo menos não pagando caro. Agora imagine alguém que lidera uma rodada, mas presta uma assessoria de captação para os fundadores. Ele vai servir seus clientes e tentar obter o preço mais alto possível no mercado ou vai defender o interesse dos seus co-investidores e buscar termos mais favoráveis?
Outro ponto muito comum de conflito de interesse é quando o mentor da empresa decide liderar uma rodada. Imagine que ele tenha recebido 2% do capital social da startup em troca de uma consultoria estratégica. Naturalmente, é favorável para ele que o valuation da rodada seja o mais alto possível, assim sua participação será valorizada, mesmo que momentaneamente. E como fica, mais uma vez, o interesse dos seus coinvestidores? Uma possível saída para esse impasse é checar o valor aportado pelo líder: se o seu investimento pessoal for significativo, é mais fácil confiar que a precificação faz sentido e que o mesmo realmente acredita no potencial da empresa.
Busque um alinhamento de interesses
Por mais estranho que possa parecer, nem todo mundo investe em uma empresa para ganhar dinheiro. E mesmo quando o objetivo é estritamente financeiro, as pessoas têm expectativas diferentes em relação ao retorno: alguns se dão por satisfeito com retornos na casa de 5x a 10x, outros só investem quando o potencial é de pelo menos 20x o capital aportado.
Um outro motivo cada vez mais comum para se investir em startups é a busca por resultados sociais e/ou ambientais – o chamado investimento de impacto. Esses investidores não necessariamente abrem mão de retornos financeiros compatíveis com o mercado, mas é possível que estejam tão preocupados com as externalidades positivas quanto com o lucro da operação – e por isso algumas vezes aceitam retornos mais baixos do que demandariam pelo risco assumido.
Por fim, investidores estratégicos (empresas) tendem a ser bastante diligentes para garantir que existam oportunidades de saída reais para um determinado investimento ou que o produto/tecnologia da startup poderá ser integrado à sua operação. É claro que esse tipo de investimento pode beneficiar coinvestidores, principalmente se as receitas da startup aumentarem significativamente em função das sinergias com os canais de distribuição do investidor estratégico.
Por outro lado, se a empresa assina um acordo de exclusividade que impede a startup de fazer negócios com suas concorrentes, ou garante um direito de preferência em qualquer nova operação de investimento/aquisição que possa desencorajar outros compradores estratégicos de se aproximar da startup em um cenário de M&A, isso pode prejudicar bastante a startup.
Conclusão
Considere as motivações de cada coinvestidor ao avaliar uma oportunidade. Analise cada um dos pontos abordados nesse artigo e, caso tais informações não estejam explícitas, questione aberta ou diretamente o líder sobre elas.
Leia com atenção a tese de investimento do líder. Se ele não tiver compartilhado uma ou o conteúdo for muito sucinto, desconfie! Muitas vezes a qualidade da análise compartilhada pelo anjo já diz muito sobre sua seriedade e real interesse pelo negócio apresentado.
E se você souber de alguma outra sinalização importante do investidor-líder que tenha ficado de fora desse texto, por favor compartilhe nos comentários abaixo.
Frederico Rizzo é fundador do Broota, empresa pioneira em equity crowdfunding no Brasil. Formado em administração pela FGV-EASP, com MBA finanças e empreendedorismo pela Duke University, Rizzo trabalhou em empresas como Ideiasnet, Natura e Mãe Terra Produtos Naturais e Orgânicos. Antes disso, foi cofundador da ONG Vento em Popa.