* Por Adam Patterson
O valuation de startups é um desafio e, assim, tornou-se uma área polêmica entre empreendedores, investidores e mesmo profissionais de avaliação.
No entanto, valuation é a resposta de uma das questões mais importantes no mundo dos negócios – “o que é o valor agregado” e fundamental para um startup buscando validar um modelo de negócio, fazer um plano financeiro e captar investimento.
De fato, o valuation de empresas pre-revenue ou apenas “ideias” é difícil em função das suas características, incluindo, mas não se limitando a:
- Falta de histórico financeiro para projetar fluxos de caixa futuros
- Futuro incerto (isto é, maior probabilidade de falha)
- Maior risco de investimento e falta de diversificação na parte dos donos
Isto levou as técnicas de avaliação padrão para as empresas maiores, tal como o método FCD, a serem questionadas por sua precisão e eficácia quando aplicado a startups.
Portanto, é comum para os investidores usar uma série de atalhos na avaliação inicial de startups – o que uma das maiores autoridades de valuation no mundo chama de “The Dark Side of Valuation“.
Estas técnicas alternativas – como o VC Method – parecem, num primeiro momento, oferecer saídas mais simples. No entanto são abordagens muito simplistas para modelos de negócios muito complexos.
Além disso eles podem ter inconsistências técnicas e levar a estimativas de valor sub ou superestimado. Por tanto, gostaria de fazer um argumento para a aplicabilidade do método de FCD para startups.
Mas antes de mais nada, vamos olhar na teoria por trás da técnica. Análise FCD utiliza projeções de fluxos de caixa livre futuros e desconta-os para chegar a uma estimativa do valor presente, assim avaliando o potencial de investimento. Esta abordagem – um dos conceitos mais fundamentais em finanças – é amplamente utilizada em bancos, análise de investimentos e de risco de crédito, que levanta a questão: por que não podemos usar tal abordagem para startups?
Para ilustrar isso, vamos voltar e olhar nos desafios citados acima e mapear possíveis soluções:
Como podemos prever receitas futuras? Bem, deixando de lado o fator que na maioria das abordagens precisamos estimar receitas ou lucros futuros, podemos aplicar um top-down (estimar Market Share de futuro) ou abordagem bottom-up baseada em estimativas de unidades de produtos vendidos. Também é possível “triangular” trajetórias futuras com base do histórico de empresas semelhantes.
Maior incerteza e a probabilidade de falência? Poderíamos olhar para as taxas de insucesso do setor e ajustar os retornos esperados para este risco. O ideal seria também trabalhar com cenários e modelagem estatística para testar hipóteses e variáveis-chave.
Maior risco de investimento? Bem, embora que a taxa de desconto (uma medida do custo de oportunidade) não seja uma solução para tudo, podemos fazer uma série de ajustes para garantir que o maior risco de investimento e falta de diversificação (ou seja, que os proprietários geralmente investem a maioria das suas reservas na empresa como um único investimento) estejam sendo considerados.
O ponto é que o futuro para startups é muito incerto, mas não enfrentar este fato não significa que a incerteza não exista. Ela existe e, de acordo com esta realidade, precisamos ajustar nossos business cases e projeções.
Claro que como em todas as questões complexas, raramente existe uma única resposta e como tal a abordagem FCD é apenas uma parte do que chamamos o “startup valuation challenge” e precisa ser realizada com suposições razoáveis, conservadores e que acima de tudo façam sentido. (Confira algumas dicas para projeção financeiras de startup aqui)
Há uma série de outros fatores (os 4M’s, potencial “option pools” e “equity claims” e oferta e procura) que precisam ser considerados em qualquer acordo de investimento. Mas uma análise FCD bem-feita com base em fundamentos sólidos que estão alinhados com os investidores têm um papel chave. Não apenas no estudo de avaliação inicial, mas também para estudos de viabilidade de projetos e, como o futuro é dinâmico, atualizações periódicas destes números.
Ademais, usando a abordagem FCD como base no seu planejamento é sempre um exercício válido para ajudar a enxergar o valor agregado dos seus planos futuros. E principalmente, entender quais são os drivers de valor da sua startup.
Adam Patterson é economista britânico, graduado em Ciências Políticas e Estudos Parlamentares pela Universidade de Leeds e pós-graduado em Economia e investimentos pelas universidades de Londres e o Instituto Real de Investimentos do Reino Unido. Trabalhou na equipe de valuation do HSBC e no parlamento britânico. Adam é sócio-fundador da ALFA Valuation, empresa especializada no valuation e planejamento financeiro de startups. A ALFA foi idealizadora e criadora da ferramenta i-Valuation, o pioneiro portal online para o valuation de startups & PMEs no Brasil.