Com 18 anos, Pedro Gelli ingressou para a faculdade de Design no Rio de Janeiro e junto a essa nova fase, veio a criação de um canal do Youtube para mostrar suas habilidades jogando no celular Clash of Clans – jogo de estratégia em tempo real onde é preciso construir aldeias para os membros de seu clã que lutam em territórios inimigos.
O jovem postava vídeos todos os dias, mas era preciso ter um diferencial para se destacar. Como desenhar sempre foi uma de suas paixões – de ficar mais de oito horas fazendo isso quando criança -, ele começou a produzir conteúdos desenhando personagens do jogo. “Na época isso já acontecia no Youtube, mas não no conteúdo de games. Foram os primeiros vídeos do meu canal que conseguiram atingir um público maior.”
Em um ano, já estava com 170 mil seguidores e tinha mais de quatrocentos milhões de acessos nos vídeos, isso sem parar a faculdade e tendo que se locomover da cidade do Rio, onde estudava, para a cidade de Petrópolis, onde morava. “Era muito cansativo, eu dormia 4 horas por noite e isso me levou a ter grandes olheiras por muito tempo. Chegou um momento em que era impossível manter os estudos.”
Como Gelli já estava ganhando um certo dinheiro com o seu conteúdo, perguntou para os pais se poderia trancar a faculdade, para focar nos vídeos, com a proposta de que voltaria depois de um ano. O youtuber se consolidou na plataforma e viu que não faria sentido voltar a cursar Design.
Reinventar-se para se manter
Pedro sempre gostou de estudar as tendências que davam certo com o seu público, que tem em torno de dez a quinze anos. Então jogar o mesmo jogo por muito tempo nunca foi uma opção, uma vez que os jogos vão perdendo a relevância com o tempo e são substituídos por novos games.
“Mesmo migrando de jogo, eu continuava fazendo 15 milhões de acessos por mês. Ganhei uma nova audiência quando comecei a jogar Free Fire e hoje eu tenho 6,43 milhões de inscritos no Gelli Clash, meu canal principal. Em paralelo a isso, eu fui postando vídeos todos os dias no Gellones, meu canal secundário, e mantive minha média de visualizações e relevância na internet”, explica.
Pensando em dificultar seu risco de cair no esquecimento e ficar sem renda financeira, o youtuber também criou o Dicas do Gelli, canal para dar dicas de como crescer na plataforma de vídeos. “Ter inúmeras fontes de renda, não somente os meus canais de games, me fizeram ter muito mais tranquilidade, porque eu preciso pagar contas também né? Além de que estou construindo algo com a minha imagem, que vale mais do que as visualizações.”
Criando uma não-agência
Pedro Gelli, influenciador, Lucas Continentino, executivo comercial em marketing de influência e Vítor Rabello, do setor financeiro, se uniram em 2021 e lançaram a Curta, uma “não-agência” de influenciadores, que hoje conta com 25 clientes e desses, 8 são os maiores youtubers gamers do universo de Minecraft – como Robin Hood Gamer, considerado o maior criador do YouTube no Brasil em 2021.
Um dos diferenciais da empresa, que prevê faturamento de R$ 30 milhões em 2022, é a transparência entre o influenciador e as marcas. Isso é feito com a disponibilização de um relatório individual mensal que mostra quais empresas ofertaram jobs, quais decidiram continuar com a parceria e quais não e quanto dinheiro será pago em cada campanha.
“Também colocamos as perspectivas da nossa empresa, para onde estamos crescendo, quais são nossos resultados em relação ao período anterior no ano passado, então conseguimos colocar a transparência que eu sentia que faltava no mercado quando tinha agências me assessorando. Gostamos de construir uma relação com nossos clientes, eles se tornam nossos amigos”, diz Pedro.
Os fundadores também se consideram uma “não-agência” por trabalhar a imagem do influenciador, algo que Gelli sentia que não era feito por outras empresas. Para ele, grandes influenciadores não tinham suporte para encontrar o seu público, construir sua imagem e desenvolver e vender produtos próprios que agregasse no financeiro e contribuísse para a aproximação com seus fãs.
Partnership com os influenciadores
Mas o que realmente diferencia a Curta de seus concorrentes no mercado é o formato das partnerships do setor financeiro, ou seja, com o passar do tempo, o influenciador pode comprar porcentagens da empresa e virar sócio.
A não-agência busca influenciadores digitais – primeiramente do nicho de games – que entreguem resultados positivos e façam mais de dez milhões de acessos por mês. Hoje, todos clientes ganham mais dinheiro com publicidade do que com as próprias visualizações do Youtube. Por três meses o criador de conteúdo explora o trabalho da Curta sem exclusividade e depois, se optar pela continuação da parceria, é feito um contrato de exclusividade pela questão de inteligência estrutural da empresa.
Após esse período, se a pessoa está alinhada com a cultura da empresa, está entregando corretamente os jobs e está investindo no crescimento da Curta, é convidada a comprar uma pequena porcentagem do negócio. A cada 6 meses há uma reavaliação e é oferecido mais porcentagens com um valor menor de mercado. “Se ele pensa em crescer a empresa, nada mais justo da empresa ser dele também e eventualmente ele pode ter uma porcentagem até maior que a minha”, afirma Gelli.
Um exemplo de como a Curta trabalha com partnership foi o lançamento do Livrão do Lipão, um dos primeiros produtos licenciados deles. Diferente das editorias tradicionais, em que o autor recebe entre 6% e 12% do valor da capa, nesse caso, o influenciador Lipão entrou como sócio do projeto e ficou com 50% do resultado.
Futuro dos influenciadores digitais
Para Pedro Gelli, há três caminhos possíveis para o futuro dos criadores de conteúdo. A primeira opção é continuar produzindo algo de qualidade que passe por todas as tendências da internet, sem cair no esquecimento – Gelli cita os apresentadores Faustão, Eliana e Luciano Huck como exemplos. “Se ele for bom, vai conseguir manter sua audiência e mesmo assim renovar seu público, será um ciclo por muitos anos.”
A segunda opção seria o influenciador não conseguir se manter e ter que optar por trabalhar em outra área, caso ele não tenha se organizado financeiramente e guardado dinheiro enquanto era criador de conteúdo.
O terceiro caminho seria para onde Gelli está seguindo, no mundo do empreendedorismo. “Não é porque a pessoa faz vídeo para a internet e ganha dinheiro de uma forma alternativa que ela não pode fazer outras coisas. Não são muitos que vão para esse lado, mas acredito que os que forem vão conseguir encontrar possibilidades grandes de negócio, já que a internet, na minha opinião, está raspando a beirada”, explica o gamer. “Há influenciadores incríveis criando negócios revolucionários exatamente porque entendem o ecossistema do ponto de vista de quem é criador de conteúdo”, finaliza.