“Sabe aquele dinheiro que ficou em uma conta que você não consegue sacar ou aquelas milhas aéreas que ficaram na carteira e vão expirar, ou até aquela skin do jogo que você não consegue transferir para seu amigo ou vender? A web3 vai acabar com tudo isso”. É assim que Caio Jahara, CEO da R2U e CGO da Converge, define o novo conceito que promete transformar a internet como conhecemos hoje.
Para entender melhor como chegaremos lá, precisamos entender as fases pelas quais a web passou até agora. Na primeira delas, a Web1 – que durou aproximadamente até 2004 -, o foco era o compartilhamento de informações pela rede mundial de computadores. Com páginas estáticas e conteúdo somente em texto, esse foi o início da internet como conhecemos hoje.
Do início do século para cá, especialmente impulsionada pelo surgimento das redes sociais, a internet passou a dar mais foco no conteúdo publicado online, surgindo aí a Web2. Nessa fase, marcada pelo compartilhamento de informações e interatividade dos usuários de forma global, a internet possibilitou que pudéssemos não só consumir conteúdo, mas também criá-los.
Unindo essas duas fases está a Web3, a próxima geração da rede. Esse novo conceito é marcado pela blockchain, que permite a descentralização e transparência das informações, ao mesmo tempo em que garante a segurança dos dados dos usuários.
O termo blockchain pode ser traduzido para o português como “corrente de blocos”. Essa tecnologia funciona como um livro-razão, que armazena todos os dados em blocos. Cada um desses blocos recebe uma espécie de impressão digital, um código matemático único chamado de hash. Esses hashes são interligados por ordem cronológica dos blocos, tornando-os, na teoria, imutáveis, garantindo a idoneidade daquilo que foi registrado.
O que muda, na prática, no dia a dia dos usuários?
Segundo Caio Jahara, em vez de o usuário se cadastrar em alguma instituição (como login no Facebook ou Google), como é feito atualmente – em que todos os dados da pessoa estão sujeitos ao contrato firmado entre ela e a empresa (sim, aqueles terms&conditions que ninguém lê) -, o usuário poderá autorizar aquela instituição a ler/interagir com os seus dados, que ficam dentro da sua carteira digital.
“Na prática, o usuário Web3 de hoje já sente a diferença entre ter os seus tokens e NFTs na sua própria carteira versus deixar em uma corretora centralizada, que diversas vezes restringem o saque dos usuários. A adoção massiva da blockchain vai permitir que esses benefícios se estendam a todos da comunidade”, explica.
A descentralização do poder da informação também já está impactando diretamente na forma como os negócios levantam ou movimentam capital hoje. Um exemplo é a startup Yuga Labs, que desenvolveu os famosos macaquinhos em NFT que foram comprados por milhares de dólares por celebridades, o Bored Ape Yacht Club.
No Brasil, um exemplo de empresa que está capitalizando com esse formato descentralizado de internet é a marca Reserva, que lançou na blockchain Ethereum a coleção em NFT Pistol Birds.
Enquanto no mundo dos negócios a Web3 ainda está tomando espaço, é na arte e no entretenimento que o movimento já ganha forma. “É um senso comum no mercado, que o primeiro produto na blockchain com 100 milhões de usuários, será um jogo. Games de sucesso, como Star Atlas, Guild of Guardians e até o Illuvium, que apesar de ter feito a sua captação inicial há mais tempo, acabou de realizar uma venda de terras, arrecadando 72 milhões de dólares”, explica Caio.
Para ele, essa facilidade que a blockchain trouxe para pessoas comprarem “partes” de empresas e projetos, vai ser um capital muito importante para complementar o “smartmoney” que as empresas que já contam ao captar com fundos de venture capital e private equity. “A comunidade te ajuda a construir o roadmap do produto.”
A tecnologia por trás dessa nova fase da internet não só existe, como já está sendo implementada. Por isso, a Web3 está muito mais perto da realidade de todos do que muitos imaginam. “Quase todas as big techs, estúdios de jogos e até marcas de roupas, estão desenvolvendo ou já desenvolveram, lançarão e lucrarão com projetos Web3.”
Metaverso
Com esse novo conceito de “internet do futuro”, um dos temas mais discutidos é o metaverso. Unindo realidade virtual, realidade aumentada e conexão, as marcas já perceberam que é por esse novo espaço que os conteúdos serão desenvolvidos.
E o metaverso não é de hoje: no mundo dos games, esses universos digitais já existem há muito tempo, e agora está mesclando o real e o virtual de forma ainda mais densa. No mundo do entretenimento, shows de músicos mundialmente famosos têm acontecido com cada vez mais frequência no ambiente online. O jogo Fortnite já recebeu um show da cantora Ariana Grande, que foi acompanhado por 27 milhões de pessoas, e o rapper Emicida também já se apresentou no metaverso da Epic Games.
Mas, além de entretenimento, o metaverso também pode possibilitar uma infinidade de novas formas de fazer negócios. E quem já aposta nisso desde 2016 é a eXp Realty, imobiliária 100% digital que conecta seus milhares de agentes imobiliários ao redor do mundo pela sua própria plataforma no metaverso, o eXp World.
“O metaverso, além de ser uma aposta para o futuro da compra e venda de imóveis, vem também para ajudar na intermediação imobiliária”, explica Claudio Hermolin, Country Manager da eXp Brasil.
Na prática, o time da eXp trabalha normalmente dentro do universo virtual, como em um escritório real. Por lá é possível apresentar e até mesmo vender um produto físico real por meio de intermediação 100% digital, fazendo todo o contato com o comprador apenas pela internet. “Para os setores mais tradicionais, o metaverso é uma aposta para inovar e digitalizar os negócios. Afinal, o mercado imobiliário é sim muito tradicional e abrir caminhos para inovação é essencial para manter ele vivo”, afirma Claudio.
Para ele, essa nova tendência facilitará as experiências e interações sociais no mundo dos negócios. “É um local de descoberta, por isso, as ferramentas de trabalho devem ser cada vez mais pensadas no ambiente digital, principalmente depois das mudanças trazidas pela pandemia, fica cada vez mais importante ter uma maneira que aproxime as pessoas que estão em locais distantes”.
A Web3 vem para transformar o entretenimento, as artes, as conexões e a forma como trabalhamos hoje. Como enfatiza Claudio, “eu costumo dizer que não estamos vivendo a era de transformação, mas sim a transformação de uma era.”