O fértil solo brasileiro para produzir empreendedores de sucesso inspirou tanto o empresário Roberto Fermino que ele achou que era hora de juntar as melhores histórias em um livro. Lançado na última semana, Startupapo – Conversas com Empreendedores Digitais é um e-book e já está disponível para Kindle.
Para Fermino, todas as histórias presentes no Startupapo são impressionantes, cada uma ao seu modo. Entre outras, o livro conta a história de Aleksansdar Mandic, do Mandic Magic, “o pai da internet”, diz Fermino; Fabrício Bloisi, do Movile, “que para empreender teve que aprender um monte de coisas que não tinha aptidão”, afirma; Rodrigo Borges, “que teve a ideia mais famosa da internet brasileira, o Buscapé”; Edney Souza, “o primeiro blogueiro a fazer renda suficiente para viver de blog”; O time da Plataformatec, “admirados em todo o mundo pelas suas contribuições para comunidades open source”. O autor diz ter buscado um grupo variado de empreendedores de sucesso.
O Startupi fez algumas perguntas para Fermino que falou mais sobre particularidades de empreendedores do país e deu algumas dicas para jovens empresários.
Você diz que fez o livro porque todo mundo dizia que no Brasil não haviam bons empreendedor. Você acha que faltam materiais que valorizem o empreendedor brasileiro?
Nós temos bastante conteúdo, mas claro que podia ser melhor. O que falta é distribuição, visibilidade. Editoras, por exemplo, preferem pegar um livro sobre um empreendedor lá de fora que já está vendendo, colocar o carimbo de best-seller e enviar para todas livrarias do Brasil. Da noite para o dia, a história daquele empreendedor fica mais famosa do que a de um brasileiro com experiência e resultados semelhantes.
E o mesmo acontece com música, filme etc. No entanto, para negócios, há particularidades que se contadas somente às versões de fora, soam um pouco superficiais. Daí a importância de mostrar os casos dos brasileiros. Estes servem melhor como modelo.
Para você o Brasil tem um jeito diferente e próprio de empreender?
Sem dúvida, em última análise empreender é lidar com pessoas, de modo que é impossível separar os negócios da cultura de um povo. Por exemplo, é costume o brasileiro deixar as coisas para a última hora, por outro lado, este mesmo comportamento é, talvez, o que nos torne muito mais criativos. Também aprendemos a lidar com situações sob pressão, porque não planejamos muito e vamos fazendo do jeito que dá. Não é sobre apontar se uma ou outra cultura é melhor, é sobre nos conhecermos melhor para daí sim termos opções de escolha, e então decidirmos pelas melhores práticas.
O que você acha que os empreendedores brasileiros têm em comum?
O que tem de diferente são os aspectos ligados às questões culturais mencionadas. Do brasileiro, eu diria que ele tem a casca mais grossa, porque o tanto de problemas e desafios que estes empreendedores tiveram que aguentar e superar, não foi brincadeira.
Seu livro tem vários entrevistados consagrados já há um tempo, como o Rodrigo Borges do Buscapé. Como você vê o mercado de empreendedores atuais?
É ótimo, nunca tivemos tanta gente vindo das melhores faculdades e escolhendo empreender como uma opção de carreira profissional. No mercado digital, nos últimos anos, tivemos muitos empreendedores que atingiram voo de cruzeiro, ou seja, amadureceram e estão seguindo viagem bem. O livro traz algumas destas histórias. Também temos um mercado consumidor gigante. O cenário é positivo em todos os aspectos.
Hoje muitas startups são copycats, você acha que ainda há um caminho para inovação?
Essa é uma percepção limitada. Há muito, muito, espaço para o Brasil crescer em inovação. Basta ir a qualquer Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) das universidades e já verá muita coisa nova de pesquisa e patente. O problema é que para por inovação no mercado tem os custos de pesquisa, produção sem escala e a conscientização do público. Pegar uma ideia já funcionando e replicar é mais barato, mas no momento que tivermos mais dinheiro no mercado, e mais apetite ao risco, certamente irá florescer ainda mais inovação verde e amarela.
Como você acha que um empreendedor pode se preparar melhor? Numa faculdade, num MBA, em cursos de empreendedorismo, livros? Qual é a melhor maneira de se tornar um empreendedor?
Estar num ambiente de gente inteligente e com mente aberta é fundamental. Universidades são sim ótimos lugares para trocas de ideias e uma ótima escolha para começar a jornada empreendedora. Muito do conhecimento do empreendedor é conseguido por via autodidata, principalmente aqueles que estão buscando uma inovação, tem que pesquisar muito, encontrar pedaços de informações espalhadas e organizar tudo de modo a tirar proveito. Não creio que seja a informação do negócio, do setor, algo técnico que vá faltar na formação do empreendedor, mas sim os aspectos humanos, sua inteligência emocional.
As faculdades, principalmente nos cursos de exatas, ensinam muito pouco de como se relacionar com pessoas, como manter equilíbrio emocional diante de problemas e ainda ter que performar acima da média. Minha recomendação é ler filosofia, comece por Descartes, por estar dentro do pensamento lógico racional, depois vai expandindo para teorias que envolvem metafísica. Livros de auto-ajuda são bons se souber filtrar todo o lixo que vem junto, do livro todo sobram umas dez páginas que prestam.
Por fim, esteja envolvido em comunidades que partilham dos seus valores e que possam complementar suas habilidades, leia muito, aprenda muito e invista seu tempo da forma mais proveitosa que conseguir.