Com a multiplicações dos segmentos na prateleira infinita da cauda longa, a cada dia vemos surgir líderes em alguma coisa nova. E, claro, não faltam líderes em setores tradicionais. Sejam marcas líderes, empresa líderes, produtos líderes ou profissionais líderes.
Para saber como os profissionais devem agir para se manterem líderes, entrevistei Luiz Eduardo Neves Loureiro, diretor da Monteiro Associados, consultor e articulista do Líder Sustentável. Ele foi um dos profissionais que proferiram o workshop de Liderança Sustentável durante o evento Sustentável 2009 – que teve cobertura digital no estilo crowdsourcing (quando a fonte é multidão).
Um líder sustentável é aquele que se pauta no desenvolvimento socialmente justo, ecologicamente correto e economicamente viável ou aquele que sustenta sua atuação? Aliás, há diferença? Atualmente, podemos sustentar nossa liderança sem agir de acordo com os princípios sustentáveis?
“O líder sustentável é aquele que sustenta sua posição e gera resultados considerando as consequências de todos os seus atos. Na visão mais pragmática, ele sabe que se não preservar a natureza poderá lhe faltar insumos, se não agir de forma inclusiva, colocando a responsabilidade social como uma de suas prioridades, lhe faltará mercado consumidor e, sem estes dois componentes não existirá lucro para sustentar seu emprego ou seu negócio. Contudo, um problema recorrente no mundo corporativo é a visão de curto prazo, que tende a cegar os executivos que são cobrados segundo esse parâmetro.
O profissional “que sustenta sua atuação” me remete a um individualismo que não tem mais lugar no desenvolvimento sustentável, existe uma grande diferença entre sustentar e sustentabilidade, a semântica pode nos pregar uma peça se não observarmos a evolução dessa palavra. Ainda existem pessoas que, talvez por falta de conhecimento do tema ou por falta de sensibilidade a ele ainda conseguem “sustentar” seu emprego ou negócio com base em ações centradas no lucro imediato e desproporcional à nova realidade social e econômica. Trazer a rentabilidade para bases realistas sem abrir mão dela é um dos grandes desafios do líder sustentável. O líder que não se conscientizar das novas exigências do desenvolvimento sustentável será expurgado pelo próprio mercado consumidor, isso já vem acontecendo”.
Os profissionais mais adeptos à liderança sustentável são os mais antigos e experientes ou os mais jovens e inovadores? Que mudanças podemos perceber na atuação de gerações diferentes? Como a chamada Geração Y, bastante conectada, se comporta com relação a isso?
“Tem havido uma mescla bastante interessante nesse sentido. Temos grandes expoentes na condução do desenvolvimento sustentável entre os profissionais baby boomers que, aliás, ajudaram a provocar o processo de desenvolvimento sustentável.
A geração Y que, por estar mais conectada e ter sido favorecida por um ambiente minimamente preparado pela geração anterior, demonstra consciência e sensibilidade maiores para as nossas necessidades mais prementes. Contudo, a maior convivência entre os dois grupos nos ambientes corporativos, determinado pelo prolongamento do tempo de trabalho dos baby boomers, tem provocado uma convergência de visão e ações entre eles. Importante dizer que os caóticos também estão presentes nos dois grupos”.
A sustentabilidade da liderança depende mais de uma certa tradição profissional e organizacional, e de práticas consolidadas, ou mais de inovação, mudança, criatividade, releitura e adaptação de práticas?
“Não se muda a cultura de uma organização sem inovação e criatividade – aliás, esses componentes são fundamentais para que haja a mudança sobre a qual falamos. Porém, o padrão cultural existente nas corporações, que se equivalem aos modelos mentais de seus principais dirigentes, não devem ser descartados. A tradição e as práticas exaustivamente testadas servem, além de outras coisas, para balizar o nível de mudança necessária. Não conheço nenhum case de uma empresa que tenha se reinventado de tal forma a desconsiderar totalmente o seu background, mas conheço inúmeras empresas que fecharam as suas portas por resistirem à inovação, criatividade e à releitura e adaptação de suas práticas”.