Por Bruna Galati
A carioca Katalisar, está prestes a completar dois anos de existência, marcando um período de crescimento e dedicação à transformação de um setor fundamental no Brasil: a reciclagem.
Marcos Albuquerque, Diretor Operacional da startup, compartilhou com o Startupi o caminho que o levou a criar, junto com Marco Antônio Barros, a Katalisar. “Trabalho com cooperativas de catadores desde 2011 e, em 2017, durante uma conversa com uma catadora, ela expressou o desejo de criar cooperativas que oferecessem melhores condições de trabalho e qualidade de vida.”
A pandemia trouxe desafios significativos para todos os setores e deixou ainda mais evidente a necessidade de fortalecer as cooperativas de catadores, algumas tiveram que pedir doações de alimento e cestas básicas, porque não conseguiam trabalhar direito. “Isso ficou martelando na minha cabeça. As cooperativas e associações de catadores têm muita deficiência de conhecimento sobre gestão de negócios e empreendedorismo e quando vi as soluções do mercado percebi que elas não atendiam o grupo todo de catadores. Foi aí que me juntei ao Marco e desenvolvemos uma solução que trouxesse autonomia e conhecimento para todos”, explica Marcos sobre o surgimento da Katalisar em 2021.
Hoje, a Katalisar é uma plataforma que promove a economia circular inclusiva, integrando territórios e grupos vulneráveis (catadores de materiais recicláveis, pescadores artesanais e agricultores familiares) às inovações tecnológicas para ajudá-los a encontrar oportunidades em economia circular, aumentando a inclusão social e a preservação ambiental. Também auxilia empresas na redução de desperdícios, consumo de matéria-prima, custos com descarte de resíduos e insumos e emissões globais de GEE (gases de efeito estufa).
A Katalisar já passou pelos programas Capital Empreendedor e Impacta, do Sebrae e Natureza Empreendedora, do Boticário com o Sebrae. Nos primeiros seis meses de operação a Katalisar recebeu investimento de R$ 12 mil reais e em breve buscará novos investimentos para desenvolver a versão completa da plataforma.
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Soluções olhando 360º
A Katalisar desenvolveu uma solução flexível e adaptável para atender diversos contextos – dentro das áreas empresas, territórios e grupos vulneráveis – e a geração de resultados. O primeiro passo é o “Panorama 360º”, um diagnóstico aprofundado que envolve as partes interessadas, sejam elas empresas, grupos vulneráveis ou territórios. O objetivo é identificar as necessidades e oportunidades para tornar esses grupos mais circulares e inclusivos, melhorando sua qualidade de vida.
Com base nesse diagnóstico, a Katalisar cria o “Plano 100 Dias”, um plano de ação focado em fornecer resultados rápidos e tangíveis. Para as empresas, o plano é de ação ágil, realizado pelos katalisadores (facilitadores) junto com os pontos focais da empresa, para que ela alcance o Aterro Zero de forma inclusiva. A expressão “aterro zero” designa uma forma de gestão de resíduos que busca eliminar o uso de aterros sanitários por meio da reutilização, redução e reciclagem de todo o resíduo produzido, ou pelo menos 90%, por qualquer atividade humana.
Para os territórios, o objetivo dos 100 dias é focar no aumento do índice de reciclagem, redução de aterro, consciência ambiental dos habitantes, cidadania, participação social e autonomia de grupos vulneráveis. Além da Redução de emissões de GEE. E para os grupos vulneráveis, o plano de ação é focado em aumentar a receita e o material processado, reduzir custos e formalizar parcerias.
Além disso, a Katalisar tem uma solução específica para as empresas, a “Co-Criação 4R’s”, que envolve a colaboração ativa dos funcionários. O objetivo é criar estratégias para reduzir resíduos, desperdícios e promover a redução, reutilização e reciclagem de materiais nos processos das empresas. O acompanhamento é feito por meio de gamificação e inteligência artificial, garantindo feedbacks contínuos e a identificação das melhores estratégias.
A Katalisar tem como clientes empresas como Vale, SGS e Anglo American. Já ajudou a aumentar em 31% a renda de grupos vulneráveis e a evitar a emissão de 120 toneladas de carbono, capacitou mais de 140 catadores, impactou mais de cinco cidades diretamente e aumentou em 25% a quantidade de resíduos recicláveis.
“Temos uma presença marcante em diversas regiões do Brasil, como Juiz de Fora e Itaguaí e Rio de Janeiro. Também estabelecemos uma parceria estratégica com uma empresa em Matão, São Paulo. Nosso trabalho se estende por toda a cadeia de reciclagem em diversos estados, incluindo Rio de Janeiro, Espírito Santo, Amazonas e Roraima, como parte de nossos contínuos projetos de desenvolvimento”, explica Marcos.
Cases da Katalisar
“Por conta do trabalho que eu realizava antes de fundar a Katalisar, hoje tenho contato com 250 associações e cooperativas de catadores em todo o país. Esse extenso alcance nos fornece uma base sólida para compreender os desafios e limitações que enfrentam”, explica Marcos, que diz que o break-even da startup foi alcançado no nono mês de operação.
Antes mesmo de lançarem o MVP no mercado, os fundadores já tinham diálogos com diversas associações de catadores, o que, segundo eles, permitiu criar um processo validado. A cada etapa, buscavam validação junto a essas associações, entendendo suas perspectivas e necessidades, e ajustando modelo de negócio. “Nas nossas soluções, as empresas financiam nossas ações, direcionando o foco de atuação que desejam. Por exemplo, se uma empresa deseja apoiar projetos em Juiz de Fora ou Itaguaí, realizamos um levantamento dos grupos existentes naquela região, garantindo um trabalho direcionado e eficaz”, completa o fundador.
Um exemplo da Katalisar em ação é o projeto que ela fez com a Vale em julho de 2023. Antes, a empresa não possuía coleta seletiva, tinha um Ponto de Energia Voluntária (PEV) mal conservado e mal dimensionado, não atendia o volume de resíduos gerado no território e os catadores estavam desamparados e negligenciados. Além da comunidade estar sem atendimento social. Então, ela procurou a startup para desenvolver o território no bairro de Vila Geny em Itaguai, Rio de Janeiro, para promover melhorias na gestão de resíduos sólidos e na qualidade de vida da comunidade local.
Com o uso da solução de desenvolvimento territorial, foram realizadas 14 ações ambientais realizadas em 5 meses, o que resultou em: 287 pessoas envolvidas que receberam capacitação em educação ambiental; educação ambiental com crianças e adolescentes; implementação da Coleta Seletiva; workshop de compostagem com a comunidade; reforma do PEV e instalação de novos locais; cadastro e criação do Grupo de Catadores Locais, legitimando-os como responsáveis pela coleta seletiva local; e criação da marca visual, distribuição de EPIs e comunicação com a comunidade para o Grupo de Catadores Locais.
Inteligência artificial para grupos vulneráveis
Além das soluções da Katalisar que já estão no mercado, a startup criou esse ano uma iniciativa para capacitar grupos vulneráveis a utilizar a inteligência artificial de forma inteligente e empreendedora. “O projeto começou em uma associação de catadores de Juiz de Fora em desenvolvimento, onde basicamente ensinamos aos associados a utilizarem IA ao seu favor, para catalisar seu crescimento e empoderamento”, explica Marco Barros.
Segundo Marco, as diversas ferramentas já existentes, muitas de acesso gratuito, podem contribuir para que os grupos vulneráveis possam se desenvolver e ampliar suas áreas de atuação. “Muitos catadores, por exemplo, possuem dificuldades e limitações, como dificuldade de escrever um email, analisar um contrato, elaborar um projeto e, mais ainda, em produzir conteúdo para divulgar o trabalho realizado pela cooperativa. Com o uso adequado das ferramentas de IA existentes, essa lacuna pode ser diminuída e, com isso, desenvolver e empoderar esses grupos”, afirma.
A metodologia utilizada é baseada na interação guiada entre os participantes e as ferramentas. “Primeiro explicamos quais são as limitações destes modelos de linguagem avançados, por exemplo seus vieses, sua alucinação em algumas respostas, o perigo de colocar informações sensíveis, entre outras coisas. Depois estimulamos as pessoas a interagirem com as ferramentas, como o ChatGPT da OpenAI e o Bard da Google, por meio de perguntas para suas dificuldades do dia a dia, respeitando o ritmo de cada um e suas limitações de aprendizagem”, pontua.
Com essa ação, a Katalisar visa diminuir a exclusão digital, obstáculo que estes grupos enfrentam, privando-os do acesso às informações, ao conhecimento e às ferramentas tecnológicas essenciais para o desenvolvimento pessoal e profissional. “A IA se mostra uma solução viável para superar essa lacuna, capacitando os indivíduos a compreenderem, utilizarem e se beneficiarem dessas tecnologias. Com programas de treinamento adaptados às necessidades específicas de cada grupo é possível desenvolver habilidades e conhecimentos, que potencializam seu trabalho e impulsionam o crescimento da Economia Circular em suas comunidades”, conclui Marco.
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