Você tem certeza de como as coisas funcionam no Brasil, nos negócios, na Internet, no interior, na cabeça dos jovens? Tem certeza de que sabe de onde vem a inovação, vislumbra, acompanha ou antecede as mudanças de hábitos?
Eu não – graças! Passo o olho nas grandes coisas, sim, mas passo o tempo é tentando encontrar o próximo fora da curva que talvez consiga uma margem de atuação escalável digna de game changer, disruptor de mercado.
Vejam esse cara que mal está entrando no Ensino Médio, estuda programação desde os 10 anos, cria produtos desde os 12, tem sócios de verdade e ajuda em um dos mais destacados coletivos de crowdsourcing do país. Ah, ele idolatra Steve Jobs (como a maioria dos geeks), admira o Jonny Ken e o Kaue Linden, sonha em blogar dentro de um portal grande e também adora e recomenda os serviços de quem é quase seu concorrente!
Já ouviu falar no Novos Followers? É um daqueles scripts (que o teeenager lançou) usados para aumentar artificialmente o número de seguidores no Twitter (o que incomoda puritanos da autenticidade contraria quem aposta num engajamento mais orgânico, real e, por assim dizer, honesto). Fato é que, por exemplo, um brasileiro foi o primeiro a disponibilizar uma solução com demanda crescente, antes mesmo de o Twitter liberar sua API! Ok, esse é o Dan Salles – do TwitterCentral, outro pacote de funcionalidades incluindo script -, outro desenvolvedor cheio de iniciativa (que criou também o primeiro censo brasileiro sobre o Twitter).
Os diferenciais inovadores do NovosFollowers, lançado em novembro, quando João ainda tinha 14 anos, e remodelado em janeiro, são: 1) não requer que o usuário forneça login, pois baseia-se no sistema oficial de autenticação intermediada o Auth; e 2) não apenas segue os followers dos outros usuários que estão na fila da multiplicação de seguidores, nem segue de volta as pessoas que passam a seguir seu perfil (o que faria seu perfil ser um grande seguidor, além de um grande seguido).
Entretanto, via voip lá do alto do home office da Zuugy Networks (esse é o nome da empresa dele) em Governador Valadares/MG, o ex-dono de comunidades hackers no Orkut (algumas com mais de 1 milhão de usuários e vendidas por valores entre 100 e mil Reais) João Pedro C. Motta (que também é blogueiro e administrador no WebDicas) não faz com que eu entenda direito como tudo funciona. Mas entendi que, entre bases de dados em ISO e uma API de geolocalização externa, o Novos Followers apenas consulta os IPs dos usuários, sem arquivá-los (por motivos de privacidade).
Não que isso importe nessa matéria! Observem que o objetivo não é recomendar o script, aplicativo, software social (que não se compara ao contexto sofisticado de uma Amanaiê, Mentez ou Zynga, nem investigar a natureza dos esforços e efeitos disso que o jovem cria, muito menos avaliar o plano de negócios dele (que já mostra ter um certo tino, pois cobra mais quando vê que é para uso comercial).
O que pretendo é mostrar a história dele, entre algumas totalmente fora da curva num Brasil de quase 200 milhões de habitantes! É uma ideia na cabeça e uma conexão. Ou vice-versa, ou tudo no plural, multiplicado por N experiências e possibilidades. Sim, João (o oficial) já fez ferramentas para Orkut, ganhou muitos usuários, leitores, um público praticamente cativo.
“Muito dinheiro está seguindo você”
O mais novo brinquedinho de João é também uma máquina de dinheiro? Tem 100 mil usuários, quase todos no Brasil (mais uns 500 em Portugal e uns 3 mil nos EUA) e vários deles pagam R$ 100,00 (empresas pagam na ordem de milhares) para usar funcionalidades exclusivas (de mineração de perfis) e para não enviar pelo seu Twitter as campanhas das empresas que contratam o Novos Followers – ou a famosa mensagem automática que tem o efeito de spam.
João não confirma valores, mas vive bem fazendo também alguns sites e sistemas e tem dois sócios capitalistas. Me parecem que estão em algum lugar entre os FFF e os angel investors (veja aqui e aqui). Custeiam despesas com servidores dedicados, IPs dedicados, até custos variáveis, envolvendo um projeto em desenvolvimento (ele me contou mas pediu para não publicar) que, quando sair, vai dar o que falar – além de dinheiro e perturbação na concorrência em dois setores!
Detalhe: na escola e entre amigos, poucos sabem realmente o que João faz. A família sabe, mas os pais só sabem ver email e Orkut, não tiveram influência no que o garoto aprendeu a fazer – com exceção de um primo dele que mora no Espírito Santo, tem 25 anos, é funcionário de TI e “dá muita força, e um caminho no Java”. Alguns parentes o consideram vagabundo, por passar tanto tempo no computador: “acham que fico brincando e jogando, não acreditam que pode ser uma profissão”. Para variar (mesmo), ele não foi influenciado por games; apenas gostava de web, mesmo, a ponto de ter inclusive feito sozinho o design do Novos Followers.
“Eu via o pessoal falando de Delphi, Php, então ia no Google, baixava scripts, manuais e ia aprendendo”, conta João Pedro. O primeiro script dele foi um Delphi que buscava dados da Mega Sena; o segundo foi um browser em Delphi baseado no IE; o terceiro foi um administrador de webradio em Php. “Hoje, se eu preciso de um plugin para WordPress, eu crio; se preciso de um servidor Proxy, eu crio”.
“Meu sonho é um dia conseguir me firmar na web, ter um nome respeitado e mostrar para todos que, independente da sua idade, você pode ser bom em alguma coisa”, compartilha. “Eu penso que o papel do jovem nesta nova era do TI é muito importante, pois os jovens atualmente são uma fonte incessante de criatividade, e eles estão com seus lugares garantidos nas suas área. Para mim, o futuro está na mão dos jovens e eles devem ser valorizados pelas empresas”, defende.
Ah, João também quer ser jornalista. Certamente um bem melhor do que eu na hora de explicar detalhes técnicos, e com um salto quântico qualitativo comparado a grande maioria que atua na mídia de massa. Ou mesmo na web, pessoal aborda temas de tecnologia, mídias digitais e empreendedorismo por força do apelo, do hype, do auê, da moda – sem muita propriedade, mas, de qualquer forma, dando a luz a temas interessantes, sem contar que empreendedorismo é tema de importância estratégica.
Só sei que o nosso João é mais criativo, inovador e empreendedor que os deles. Quero ver o que ele vai ser quando crescer e (sem desmerecer toda uma turma exemplar que eu admiro e boto em evidência aqui) quero saber se tem mais desse tipo por aí (podem me avisar no Diego arroba startupi.com.br).