Por Bruna Galati
Michael Nicklas nasceu nos Estados Unidos, mas morou no Brasil até os 8 anos, onde foi alfabetizado em português. Em Washington, nos EUA, estudou economia, história, relações internacionais e antropologia. Depois foi fazer mestrados em Coimbra. Quando percebeu que a carreira acadêmica não era para ele, foi para Nova York e conseguiu seu primeiro emprego como operador de scanner. Na época, as revistas estavam passando por uma digitalização, saindo da fotografia analógica, e como ele havia aprendido algumas habilidades na faculdade, era perfeito para o cargo.
Depois de um ano e meio, foi convidado para trabalhar na fundação de um grupo de vídeos digitais – um detalhe importante, como seu pai era engenheiro, desde pequeno Michael teve contato com a tecnologia e por isso tinha facilidade com computadores, principalmente da Apple. Em 1995, trabalhou para o Showtime Networks e depois MTV, digitalizando a infraestrutura dos canais.
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Início no mercado de startups
Em 1996, após ganhar US$ 100 mil em três meses trabalhando em um projeto de migração da Mastercard para computadores Macintosh, decidiu largar tudo e abrir com um colega a sua primeira startup. “Era o início da Web 1.0 e os usuários pagavam mensalidade de redes fechadas para se comunicar, trocar documentos e mandar e-mail. A nossa tese é que isso iria migrar para a internet aberta”, explica Michael. Então, eles criaram um ‘fórum’ onde o usuário entrava, escrevia e a outro respondia, e tudo ficava salvo. “A criação demorou 9 meses e quando lançamos já tinham mais 10 desses produtos na internet. Aprendemos que as coisas avançam rápido pela web. Mas tínhamos um diferencial”.
Para os usuários da internet anexarem arquivos dentro das conversas, era preciso sair do navegador browser. Na época, e-mails não sustentavam arquivos acima de 200 KB e só era possível o envio com o uso de um protocolo de transferência. “Fomos os primeiros a permitir que usuários enviassem arquivos pelo HTTP, sem sair do browser, de forma segura. Na época isso era novidade e tivemos sucesso com a empresa. Depois vendi minha participação e fui trabalhar como diretor de tecnologia de uma produtora. Na minha jornada ainda empreendi mais algumas vezes.”
Abertura do Startupi
Na sua trajetória, Michael também trabalhou com a programação de um site de notícias sobre o ecossistema de inovação de Nova York, foi aí que se encantou pelo universo das startups. Mas em 2008, com a crise financeira e a quebra da bolsa de Nova York, o empreendedor decidiu tirar umas férias e foi visitar o Brasil. “Diferente dos Estados Unidos, na época o Brasil estava em destaque e fiquei interessado em conhecer o ecossistema daqui. Mas senti uma grande dificuldade de encontrar informações sobre o mercado”, afirma.
Nesse período, Nicklas conheceu uma startup curitibana chamada Compra 3 e resolveu investir. Além disso, fundou uma startup de criação de aplicativos com seu colega Gilberto Alves, designer de produtos digitais e empreendedor digital. Foi aí que percebeu que era difícil conseguir deals e fazer networking.
“Como eu acompanhava o TechCrunch nos Estados Unidos, pensei que seria ótimo montar um blog em português e inglês para falar sobre o ecossistema de startups no Brasil, assim eu conseguiria compartilhar informação e me posicionar no mercado. Então, junto com o Gilberto e com o jornalista Diego Remus, fundei o Startupi”, explica Michael, quando diz sobre a origem do nome do veículo: Uma mistura de startup com tupiniquim, por serem startups brasileiras.
Início dos investimentos
Michael ingressou para o mercado de investimentos em startups em 2006, após um longo período empreendendo e passando por todos os estágios de uma startup. Seu objetivo era ficar próximo das inovações no mundo, sem que necessariamente estivesse tocando o negócio.
“Eu sempre fui generalista e gostava do mundo dos investimentos, por ter o lado financeiro e o horizonte tecnológico. De certa forma trazia um desafio intelectual que eu tinha um grande interesse em participar. Além de gostar de trabalhar com empreendedores e fazer parte da trajetória deles, seja contribuindo com as minhas experiências ou com o capital.
Hoje, Michael não investe mais como pessoa física e está como managing partner do Valor Capital Group, empresa de investimentos fundada em 2011. Ela é focada em oportunidades cross-border Brasil e Estados Unidos, com presença em Nova York, Vale do Silício, Rio de Janeiro e São Paulo. A empresa opera em duas estratégias de investimento: Growth Equity e Venture Capital. O empreendedor foi convidado para fazer parte do time pela sua experiência com o mercado brasileiro e conhecimento do mercado norte-americano.
“O Brasil, com o trabalho que tem sido feito com o open finance e open banking, com blockchain, tem se tornado um líder no mundo de fintech, então olhamos bastante para isso. Também somos os mais ativos na América Latina nos investimentos em cripto, como nosso aporte na Hashdex, pioneira global na gestão de criptoativos”, explica sobre a tese de investimentos do Valor, que já investiu em logística, como a Frete.com e a Buser, a Tembici na área de mobilidade, a Descomplica na área de educação, na Sami, de saúde, entre outras startups.
Visão do mercado de investimentos
Pela experiência das investidas nos Estados Unidos e no Brasil, Michael consegue avaliar a diferença do cenário nos dois países. Hoje, ele vê poucas distinções, mas há cinco anos era possível perceber que o mercado de startups estadunidense era mais maduro. “A Web 1.0 nasceu em 95 e morreu em 2000 nos EUA, então eles tiveram 5 anos de inovação, pessoas fundando startups, vendendo e quebrando. No Brasil, a febre da internet começou em 98 e quebrou em 2000, teve um tempo mais curto de desenvolvimento e não dava para competir”, explica o empreendedor.
Ele diz que até uns anos atrás era difícil encontrar um desenvolvedor brasileiro que tinha feito uma infraestrutura para uma empresa que conseguia segurar 100 milhões de usuários e 5 milhões simultaneamente, eram poucos cases de sucesso. Para escalar um business no país era difícil, uma vez que não tinha know how e mão de obra capacitada para montar um time. “Os talentos estavam no Vale do Silício e depois na China. Hoje já podemos ver um ótimo nivelamento”.
A cultura do compartilhamento também era diferente. Ele afirma que entre 2008 e 2009, quando conversava com empreendedores brasileiros, escutava muito que buscavam por investimentos, mas não queriam compartilhas suas ideias com medo de serem roubadas. Nos Estados Unidos isso já era forte, uma vez que os empreendedores entendiam que compartilhar resultava em dicas de como melhorar e possíveis parcerias. Assim como o aumento de talentos, o Brasil também evoluiu nesse tópico.
Por fim, Michael compartilha sua visão sobre a situação atual do mercado de investimentos – onde muitos dizem que há uma crise. Ele explica que em 2008, com a crise financeira, os bancos centrais abaixaram os juros para negativo e imprimiram mais dinheiro para movimentar a economia. Com o dinheiro mais barato, as pessoas começaram a buscar formas de fazê-lo render mais e as startups – que estavam em ascensão pela evolução tecnológica – foram um alvo considerável. O mesmo aconteceu com a economia durante a pandemia da Covid-19. “O valuation das startups era muito ligado ao mercado aberto, mas com o susto na economia após uma crise sanitária, menos dinheiro correndo e com um custo mais alto, o valor delas caiu. Então os investidores foram atrás de uma renda fixa”.
A quantia anual de investimentos em startups brasileiras cresceu gradativamente até chegar em 2021 e bater a marca de US$ 9,4 bilhões. “Agora os valores dos investimentos e a quantidade de rodadas está voltando ao normal, não é que tudo implodiu, mas antes tinha muito dinheiro no mercado. Se voltarmos para a base de US$ 1 bilhão, US$ 2 bilhões por ano, é bom e são muitas startups”, completa.
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