Será o crowdfunding o novo sexy? Ao que tudo indica, a resposta é sim. Enquanto esta reportagem estava a pleno vapor de composição, o diário econômico The Wall Street Journal publicou um texto falando justamente sobre o tema: as vantagens na adoção desse sistema de vaquinha virtual para pequenos empreendedores, que angaria dinheiro de ilustres desconhecidos que confiam no seu projeto.
Se você ainda não entende o esquema, ou precisa de elementos para entender, saiba que todo o projeto submetido em um crowdfunding precisa de um vídeo – e o que faz o sucesso dele é o tema abordado pela oficina Ducaralhizando o seu vídeo de crowdfunding.
Três dicas elementares já dadas de cara: explique como funciona o crowdfunding (isso ajuda as pessoas a entender como contribuir e não esqueça de escrever a URL do seu projeto em alguma parte do vídeo); não faça um vídeo muito longo (algo entre um minuto e meio e três minutos vai aumentar as chances dele ser visto por inteiro); os primeiros 30 segundos (se você não conseguir prender a atenção das pessoas nesse primeiro momento isso acaba diminuindo muito as chances de elas serem cativadas).
Diego Reeberg, sócio-fundador do Catarse.me, também dá algumas dicas. “O maior erro é achar que é só postar o projeto na plataforma e, voilà, toda a mágica do dinheiro entrando para o projeto acontecerá. Ou seja, a pessoa que não planeja bem a campanha para fazer com que os eu projeto circule de forma efetiva para o seu público e que ele não só goste do projeto como se interesse em contribuir”, afirma. “Um mínimo de dedicação diária para a campanha é necessário. Além disso, quem não houve o feedback de apoiadores e interessados pode deixar passar a oportunidade de mudar elementos do seu projeto para que ele se encaixe também no interesse de quem quer ajudar a fazer ele acontecer.”
Outra dica preciosa dele: “Quando maior a transparência do projeto, mais ele vai ganhar confiança dos possíveis apoiadores, seja abrindo o orçamento, seja sendo sincero sobre dificuldades que podem ocorrer no processo.”
Mesmo com esses toques de Midas, eu conversei com pessoas que tiveram cases de sucesso e de fracasso dentro desse esquema novo de monetização de um projeto.
Não rolou
Uma delas foi a administradora Bianca Vieira, 26, que me contou o teor e o porquê da sua ideia não ter dado certo. Segundo ela, “a ideia da Meta Global era fazer uma mapeamento do destino do resíduo reciclável, que descartamos após o consumo. Nossa intenção era desenvolver um vídeo mostrando outras realidades brasileiras em relação à destinação do resíduo, com ajuda de outras pessoas que quisessem contribuir, e filmar aqui mesmo em Curitiba a rota do resíduo. O intuito disso tudo era mostrar o trabalho do catador de material reciclável nesse processo, a importância de separar o material em casa e destinar adequadamente, afinal inúmeras pessoas vivem da renda de separação e comercialização de recicláveis.”
Mesmo sendo um assunto urgente na pauta contemporânea, Bianca arrecadou apenas R$ 2.710 dos R$ 7.500 que precisava. Segundo ela, a falta de sucesso ocorreu na medida em que havia falta de tempo para se aprofundar na iniciativa de crowdfunding.
“Vou ser sincera e dizer que faltou dedicação. Demos todo o tempo que tivemos, sem dúvida. Mas como o grupo todo trabalha em outros locais, acabávamos tendo tempo para nos dedicar apenas à noite e finais de semana. Também acredito que não fomos criativos o suficiente para tentar fazer outras ações para arrecadar dinheiro. Não conseguimos também fortalecer nossa rede de contatos para que fizessem doações”, declarou.
Já para a produtora cultural Janaina Spode, 36, o valor e o vídeo podem ter influenciado para a não aceitação do que ela propôs. “O projeto era uma virada cultural em Porto Alegre em formato de festival chamado 24 horas para o fim do mundo. O festival teria 24 horas de programação, sendo elas intervenções urbanas, por toda a cidade, com participação de artistas de todos os segmentos culturais”, declarou.
“Acho que pedimos um valor muito alto (R$ 20 mil) e nosso vídeo foi muito conceitual, sem mostrar o gigante número de artistas envolvidos”, analisa ela.
Fizeram – e aconteceu
Cintia Tominaga, publicitária, foi responsável pelo projeto Ballerini, marca de sapatilhas femininas exclusivas. O projeto chegou à meta desejada de R$ 16 mil – na verdade, ultrapassou e chegou até R$ 17.715. Em troca, ofereceu assinaturas de revistas, moleskines, sapatilhas e fones, dependendo do engajamento financeiro do doador.
“O timing de iniciar um projeto também é importante. Para nós, coincidiu o dia 10, que é o começo do mês. No final do mês é mais difícil porque as pessoas geralmente estão com pouca grana”, contou ela. “Outra coisa é fazer realmente a divulgação – nosso vídeo teve mais de 700 likes. Vários desconhecidos doaram dinheiro”, diz.
Ela também investiu na qualidade de produção – embora simples e descompromissada, ela envolveu um planejamento com profissionais do setor. “Usamos um redator de agência para o texto, um profissional de cinema e outro de animação fizeram o vídeo, nada muito complexo, mas caprichamos no projeto”, declarou. “O usuário tem que ter identificação racional e emocional com o tema.”
Cintia diz que acredita muito no poder da ferramenta de crowdfunding. “Quero ver explodir no Brasil. Muitos projetos e empresas inovadoras surgiram no Kickstarter dos Estados Unidos. Mas, por aqui, ainda há muito a melhorar”, analisa.
Já Filipe Moura, um dos idealizadores do crowdfunding da Metamáquina, é só alegria. “A experiência no geral foi super proveitosa”, ele me disse por telefone. A ideia é simples: construir impressoras 3D caseiras e acessíveis para compra no Brasil, já que o custo das importadas é salgadíssimo. O resultado? Extrapolaram a meta dos R$ 23 mil e chegaram a uma arrecadação total de R$ 30 mil.
“Estruturamos nossa campanha de forma objetiva, sem nenhuma manha, nenhuma grande sacada”, afirmou. “Mas, claro, tem alguns passos básicos, como presença online, ativar comunidades no Facebook, e transparência. Você deve mostrar que você realmente tem paixão e acredita naquilo”, diz. A coisa toda deu tão certo que o pessoal da Metamáquina abriu outro financiamento para a Metamáquina 2.
Caso você abra o seu projeto seguindo todos os passos de crowfunding bem-sucedido e esteja preocupado com o baixo retorno no meio do projeto, a dica é continuar nos trilhos: ambos os projetos que deram certo começaram a bombar nos últimos 15 dias, ou mesmo na última semana. Então espalhe a palavra e se mantenha firme.
Ah, só mais um viés do potencial desse molde de negócio: o Diego Reeberg, o sócio-fundador do Catarse que mencionamos lá em cima, nos abriu os números de usuários e o que foi arrecadado até então por meio da plataforma. São 176.082 usuários cadastrados em um universo de 110.056 apoios realizados. A arrecadação total até agora? R$ 9,7 milhões. Ainda que seja uma forma incipiente de rentabilizar, é bastante promissora.