O Startupi inicia hoje a série “Atores do Ecossistema”. Por aqui, o Startupi pretende contar a história de empreendedores, gestores, CEOs e fundadores que transformam o cenário de tecnologia e inovação no Brasil. O primeiro nome é Alexandre Souza, paulista de nascença “por um erro de percurso”, como se define, fã de basquete e de séries.
Alexandre viu em seus 22 anos de Sebrae o ecossistema de startups de Santa Catarina florescer, e transformou sua paixão por inovação em combustível para impulsionar o empreendedorismo local.
Sua trajetória dentro do Sebrae começou em 1998, quando iniciou no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas como estagiário. Em 2000, já era funcionário efetivo da instituição. “Minha formação toda é em computação, e no Sebrae eu entrei como programador web. Fui galgando meu espaço até me tornar gerente”, diz.
Por ter esse forte background de tecnologia, o universo das startups sempre foi um interesse de Alexandre. Em 2011, o Sebrae criou um projeto para que funcionários escrevessem em um blog, cada um sobre uma temática específica. Foi aí que Alexandre começou a se tornar um grande ator do ecossistema: em seu espaço, escrevia sobre as startups que acompanhava.
Em 2012, a instituição desejava incluir alguma novidade em sua tradicional Feira do Empreendedor, maior feira de empreendedorismo do mundo. A sugestão de Alexandre foi realizar uma ação com algumas startups dentro do evento, para atrair um público que não era o com o qual o Sebrae conversava até então.
Entre os nomes que participaram da ação estavam representantes do Buscapé, Peixe Urbano, Anjos do Brasil, Startup Farm e a extinta 21212, primeira aceleradora de startups digitais do Brasil. E a novidade foi um sucesso: o que era para ser uma pequena iniciativa com 30, 40 pessoas, se transformou em um grande evento dentro da feira, atraindo cerca de 900 de participantes.
Ecossistema catarinense
Assim, o que era para ser apenas uma ação diferente se transformou em um projeto com atuação focada em startups dentro do Sebrae SC. O objetivo era contribuir com o já desenvolvido e histórico ecossistema de inovação de Florianópolis.
A cidade abriga iniciativas como a ACATE – Associação Catarinense de Tecnologia -, fundada em 1986 por um grupo de empreendedores pioneiros em tecnologia da região. Quem também nasceu por ali nos anos 80, mais precisamente em 1984, foi a Fundação CERTI, organização referência no Brasil em Pesquisa e Desenvolvimento de Ciência, Tecnologia e Inovação.
A Fundação é mãe da Incubadora CELTA, que abrigou algumas das maiores startups do Brasil em fase inicial, e também viabilizou o primeiro parque tecnológico brasileiro, o Alpha, além de uma das maiores aceleradoras do Brasil, a Darwin.
“O ecossistema de Santa Catarina é bem peculiar. A gente tem um trabalho de longa data, em que já no final da década de 70 começaram as primeiras ativações do ecossistema”, conta Alexandre, ao citar iniciativas pioneiras como Softplan e Intelbrás e CDL.
Alexandre divide o ecossistema catarinense em quatro ciclos: o primeiro, de 1980 até 2000; o segundo, de 2000 a 2010; o terceiro ciclo vai de 2010 a de 2015, e o último, a partir desse ano até o atual. Esses ciclos, segundo ele, representam a maturidade do ecossistema.
“No início do programa, em 2012, 2013, os empreendedores ainda eram mais despreparados. Eles tinham uma apresentação de slides, mas ainda não sabiam muito bem sobre negócios. Hoje os empreendedores estão muito mais maduros, vemos empreendedores seriais e um mercado de Venture Capital mais preparado e com mais recursos, mais dinheiro para investir”, diz Alexandre.
Esse mesmo ciclo aconteceu com o ecossistema de startups mais relevante do mundo, o Vale do Silício. O que começou em terras norte-americanas nos anos 50 também foi visto em Florianópolis a partir dos anos 80. O mercado e seus atores foram amadurecendo e, hoje, Florianópolis desponta como um dos ecossistemas mais ricos em startups do Brasil.
O relatório Tech Report 2021, realizado pelo Observatório da ACATE e pela Neoway, com apoio da Finep, mostra que o proeminente ecossistema da região teve um crescimento de 28,4% no número de empresas entre 2019 e 2020, sendo o sexto maior do Brasil em número de negócios e a cidade com maior densidade de empresas por mil habitantes, seguida de São Paulo e Curitiba.
O Startup Summit
E o trabalho de Alexandre foi fundamental para esse cenário. Depois de meses de validação do projeto, com pesquisas com investidores e aceleradoras para entender a melhor forma de contribuir com os empreendedores locais, o Startup SC foi oficialmente colocado para funcionar em fevereiro de 2013. “A gente considera que esse ano faz 10 anos de projeto, porque nasceu dentro da feira em 2012, mas foi colocado na rua em 2013”, conta.
A primeira ação do projeto fo Sebrae foi um Startup Weekend em Florianópolis, tradicional evento de networking para empreendedores. “Desde 2013 a essência do evento é muito semelhante, o que mudou foi a escala”, diz. Com o Startup Weekend como peça fundamental do projeto, em 2022 o Startup SC apoiará mais de 30 edições. Mas o fomento ao empreendedorismo local vai além: o programa acelera anualmente cerca de 50 startups e também realiza missões internacionais para levar fundadores catarinenses para conhecerem de perto outros ecossistemas.
Em 2017 Alexandre, participando do CASE (Conferência Anual de Startups e Empreendedorismo, realizada anualmente pela Associação Brasileira de Startups), percebeu que poderia criar um evento local para os fundadores catarinenses. “Na época, não tínhamos planejado um evento de grande porte. O CASE aconteceu em outubro e, em novembro, já estávamos anunciando o Startup Summit 2018”, conta.
Para a realização do evento, Alexandre contatou todos os principais atores do ecossistema de Florianópolis e região, convidando cerca de 40 pessoas para participarem do evento realizado pelo Sebrae. Em 20 de novembro de 2017 ele já tinha um esboço do evento que aconteceria em julho de 2018 e se tornaria um marco do cenário empreendedor local. A repercussão foi tanta que o Sebrae nacional decidiu se unir à iniciativa local e a primeira edição do evento foi realizada para 2 mil pessoas. No ano seguinte, o evento já tinha dobrado de tamanho.
Sobre seu papel no ecossistema local, Alexandre se define como “um bom tocador de bumbo. Tem gente que me chama de ‘hub humano’”. Para ele, o evento desenvolvido sob sua gestão para o mercado de Florianópolis “foi uma cola do ecossistema, porque ele já existia antes do evento”.
Além do evento anual, outro projeto de sucesso desenvolvido por Alexandre foi a aceleração do Startup SC. Até hoje, o programa já realizou 11 rodadas, capacitando 320 startups e recebendo mais de 2.600 aplicações. Até o momento, já foram 14 exits. “Eu fico muito feliz quando eu vejo um resultado de uma startup nossa, é muito gratificante.”
Por fim, Alexandre deixa uma dica para os leitores do Startupi: “A gente fala o tempo todo para os empreendedores que o principal é se capacitar. Quando eu digo isso não é só o estudo em universidade, mas buscar conhecimento. A pessoa que quer empreender tem que conhecer o mercado, entender a dor que ele quer resolver e ter muita resiliência”, completa.