Por Bruna Galati
Em 1999, o Brasil enfrentou uma significativa epidemia de dengue. Nessa época, o empresário Cícero Victorio da Costa e seu filho Marcius Victorio da Costa, moravam nos Estados Unidos e exploravam a possibilidade de importar um equipamento para combater a grave situação no país. No entanto, devido às altas taxas de importação e fortes oscilações no câmbio, o projeto acabou inviabilizado, causando um grande prejuízo.
Diante do desafio enfrentado, em um momento informal de reflexão, Cícero lançou uma ideia: “Por que não transformar uma moto em um fumacê?”. Após uma análise do mercado de combate a vetores, ficou evidente que utilizar uma motocicleta seria uma solução promissora, pois permitiria a combinação de diversos elementos fundamentais para esse tipo de aplicação: flexibilidade, eficácia, autonomia e baixo custo. Foi assim que nasceu a MotoFumacê.
Após alguns anos de estudos, o projeto foi retomado em 2005. Em uma garagem de um amigo e uma moto emprestada, Marcius começou a fazer alguns testes de viabilidade. Na época, Marcius trabalhava com desenhos industriais com o amigo Marcelo Costa Machado, com quem compartilhou a ideia do MotoFumacê. Depois de alguns meses de discussões, decidiram encarar o ecossistema de startups.
A startup Fumajet foi fundada no início de 2009, incubada pela Universidade Veiga de Almeida e com auxílio de consultorias do Sebrae, e permitindo que motos façam o trabalho normalmente desempenhado pelos carros fumacê, que liberam inseticida para matar os mosquitos.
Soluções da Fumajet
Uma das principais contribuições da Fumajet é o Motofog, lançado em 2010, que revolucionou o combate à dengue e à malária. Esta tecnologia ganhou reconhecimento nacional e internacional, incluindo prêmios como o Desafio Brasil Intel/FGV e o The Intel®+UC Berkeley Technology Entrepreneurship Challenge.
O Motofog é um veículo multi-operacional para controle de pragas e vetores que pode ter acesso a comunidades, becos e populações ribeirinhas que os carros não alcançam, e tem a ação de pulverização com inseticidas para eliminar o mosquito da Aedes aegypti – transmissor das doenças dengue, zika e chikungunya.
“Quando o volume desses vetores está muito alto e eles estão positivos, existem pessoas positivas, você precisa fazer o corte de transmissão, o bloqueio”, explica Marcius Costa, CEO da Fumajet. “Quando você identifica uma pessoa que vai a uma UPA, a um posto de saúde, e ela está infectada, ela está hospedando a doença. O vetor pega dela e leva para outra pessoa. Nesse momento, quando existe essa infestação, precisa existir o corte de transmissão, o bloqueio, que aí você envia um Motofog para fazer o perímetro, para fazer o corte de transmissão. Para reduzir a população desses vetores que estão transmitindo as doenças.”
Além disso, Costa destaca outra importante ação do Motofog: a pulverização residual. “Você pode fazer aplicação de larvicida e borrifação intradomiciliar residual, onde você faz a pulverização exatamente para combater o mosquito na fase de larva, onde ele não atingiu a fase adulta”, detalha. Ele também esclarece sobre a responsabilidade dos produtos químicos utilizados, que não afetam o ser humano: “Os produtos químicos são de responsabilidade da indústria química, na qual desenvolvem as formulações, regulam, tiram os certificados desses produtos, desses inseticidas nos órgãos reguladores e comercializam esses produtos, normalmente comprados pelo Ministério e distribuídos para os municípios.”
A primeira unidade do Motofog foi vendida apenas em 2013. Atualmente, a tecnologia está presente em municípios do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Bahia. A Fumajet também exporta as motos para outros países, atuando em Angola, República Dominicana, Panamá e Índia.
“Com uma abordagem inovadora e tecnológica, a Fumajet busca contribuir para programas municipais de controle de zoonoses, visando não apenas o combate imediato às doenças, mas também a prevenção e conscientização da população”, explica o CEO da Fumajet.
O modelo comercial do Motofog é feito através de pedidos de empresas autorizadas e especializadas regionais que fazem alocação ou prestação de serviço para municípios com exclusividade. A Fumajet oferece o Motofog para órgãos públicos. O equipamento está disponível para locação ou prestação de serviços por uma Autorizada Motofog na região do cliente. Caso não haja uma Autorizada no município, é possível credenciar uma empresa local para fornecer os serviços necessários.
Com o Motofog é possível fazer o controle de sanitização de pragas como o Carrapato Estrela, Leishmaniosi, entre outros, e também o plano de contingência no combate a dengue em áreas de difícil acesso.
Conscientização sobre a dengue
Em apenas 78 dias, desde o início de 2024, o Brasil atingiu um recorde histórico de dengue, com 1.889.206 casos prováveis da doença até os registros na segunda-feira (18). Os números são do Painel de Arboviroses do Ministério da Saúde.
Para o fundador da Fumajet, o Brasil precisa de um plano contínuo durante todo ano para gerar conscientização sobre a dengue. “As pessoas precisam ter conhecimento das áreas de riscos, tomar medidas para tampar caixa d’agua, os municípios precisam checar as áreas de alagamento nas escolas e outros lugares. Porque quando chegamos no momento da pandemia, os municípios não tem o equipamento adequado e é preciso se preparar para fazer o controle de zoonose.”
A Fumajet inaugurou em 2013 o setor de prestação de serviços com foco e especialização em controle de vetores em portos, aeroportos e embarcações. O ECOVEP Estação De Controle de Vetores e Pragas, iniciou sua operação no Porto Maravilha (Rio de Janeiro), através do encadeamento produtivo do SEBRAE e Odebrecht. O projeto recebeu o reconhecimento do programa Chemical Leasing da ONU.
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