Estou mais uma vez em San Francisco, a porta de entrada para o Vale do Silício, na Califórnia. A Costa Oeste dos Estados Unidos atrai turistas pela sua beleza natural e pelos esportes de aventura, mas um conjunto de cidades a uma hora do centro de San Francisco chama a atenção do mundo há décadas por ser um atrator de talentos e investimentos, e um gerador de novidades e riquezas.
Muitos analistas de empreendedorismo e tecnologias consideram o Vale do Silício um ecossistema-modelo, onde há uma abundância de pessoas curiosas, determinadas e habilidosas e uma intensa conexão entre elas, que faz a economia girar. Em geral, são pessoas de outras regiões que, há décadas, buscavam recomeçar suas vidas em uma região que estava recebendo investimentos pesados para pesquisa e desenvolvimento de equipamentos de defesa, e atualmente buscam aprender com melhores e conquistar um lugar ao sol.
O evento Disrupt, promovido pelo site Techcrunch acontece novamente esta semana e reúne milhares de pessoas de todos os continentes, que vem fazer uma mistura de três coisas: conhecer as novidades e tendências, conhecer pessoas e histórias, promover seus negócios. Esta é a terceira vez que eu venho pessoalmente acompanhar esta migração, que envolve também inovadores brasileiros. Já participei também da edição em Nova York, que é uma das cidades mais importantes do mundo, e conversei com vários brasileiros e estrangeiros sobre por que em San Francisco o evento é tão mais badalado.
Um dos motivos pode ser a mística do estilo de vida em San Fran e no Vale. Metrópoles como Nova York e São Paulo tem seu charme, mas San Francisco, Mountain View e Rio de Janeiro tem um ar mais saudável, um pano de fundo mais leve e mais bonito, uma lógica e uma rotina mais orgânicas. Um terno ou mesmo um look hipster certamente tem seu valor em NY e SP, mas as pessoas acham diferente que os nerds e geeks usem camiseta, até mesmo bermuda e chinelos em cidades menos sisudas – como San Francisco e as que formam o Vale do Silício. Gente que chega a trabalhar de roupão, hobby, chambre e se dá bem no que faz.
Esta mística valleyana pega. Ela pega você de jeito. O histórico de ludismo, vanguarda social e a mais autêntica tradição em inovar são mais reais aqui – para quem pensa diferente e age diferente. Eu não quero fazer apologia de que todo mundo por aqui é mais legal, mas é ligeiramente diferente. A diversidade e o cheiro de inteligência criativa botam você numa outra frequência. Você fica meio valley-sick, mordido pela maçã, contagiado de entusiasmo e enxerga isso o dia inteiro na galera que vai correr na praia, pedalar, comer coisa orgânica. Você incorpora a promessa de libertação e o ambiente veste você com isso. Se você acredita, você consegue.
O Vale do Silício é como uma realidade alternativa, paralela, um estoque daquela nerdice que nossa criança interior ainda tem, de morar com tranquilidade, levar uma vida saudável, fazer o que quiser e ainda ficar rico e famoso com isso. O Disrupt é a celebração e a mutação disso, com muitas pitadas de diversão sim, mas muito critério e um humor meio ácido (sem duplo sentido!) típico daqui e das mentes malucas que orquestram essa movimentação, que nos ajudam a digerir o que rola por aqui. O mundo todo quer, cada lugar à sua maneira, emular este ambiente e os efeitos dele.
Ver brasileiros bem colocados e enturmados por aqui dá uma esperança de que esta passagem nada secreta sendo construída entre os dois países mostre que “em desenvolvimento” na verdade é a condição deste lugar aqui, já considerado desenvolvido., mais do que no nosso. Aqui, mais do que no Brasil, ainda se reinventa o mundo, mesmo sem precisar mais. E frequentemente se rompe pelo caminho uma velha indústria aqui, outra ali. Esperança de que nos ajude a superar velhos ciclos viciosos.
Enquanto isso, vale conferir novidades de software e hardware, inclusive com pitadas ecológicas e de impacto social. O mundo está olhando para cá! Acompanhe pela nossa página especial.