* Por Diego Carmona
Já podemos dizer que o ano de 2020 foi um tanto desafiador, que nos ensinou a lidar com as disrupções. Todos nós tivemos que nos adaptar às novas configurações, e para os empreendedores não foi diferente. Afinal, a disseminação da covid-19 pelo mundo afetou consideravelmente as atividades econômicas.
Em uma previsão do Fundo Monetário Internacional (2020), a economia global irá se contrair cerca de 3% neste ano, número de magnitude maior do que a crise financeira de 2008. Já o Banco Mundial prevê uma contração global de mais de 5%, o que representaria a maior recessão mundial desde a Segunda Guerra.
Neste contexto catastrófico, o gerenciamento de crise protagonizou a performance dos negócios sobreviventes. No entanto, o que deu certo e o que deu errado? Como as equipes de trabalho se posicionaram em um dos momentos mais delicados da contemporaneidade?
O uso de equipamentos de proteção individual (EPI), como máscaras, óculos e luvas de proteção, se tornaram obrigatórios para quem estivesse trabalhando diretamente com o público. As medidas de distanciamento social popularizaram expressões como home office (trabalho remoto) e conference call (reunião por videoconferência).
A educação a distância (EAD) se firmou como a única viável durante a quarentena e os planos de viagens tiveram que ser suspensos. Empreendedores de todos os setores foram afetados, seja pela escassez ou pela abundância. As empresas de delivery, por exemplo, nunca estiveram tão ativas. Ao mesmo tempo, áreas como o Turismo e Entretenimento ainda sentem as dificuldades.
Considerando o contexto geral das diferentes áreas de atuação, listamos alguns acertos e erros dos empreendedores em 2020, o ano que demarca um “antes” e “depois” do coronavírus.
Acertos
Resiliência
A capacidade de enfrentar situações adversas sempre foi um tema frequentemente abordado por especialistas de saúde mental. Já a resiliência econômica é a forma como a sua empresa se adapta às novas realidades dispostas no cenário através do tempo. Com as restrições implicadas pela pandemia, os negócios foram desafiados a oferecer novas soluções para as condições impostas. E, assim, tentar sobreviver.
É fato que nem todos conseguiram contornar as problemáticas, como as companhias aéreas especializadas em voos internacionais e empresas que vendem pacotes de turismo. Ao mesmo tempo, startups de tecnologia tiveram que aumentar a sua capacidade de trabalho para poder atender às novas demandas, seja desenvolvendo aplicativos especializados, e-commerce e sites responsivos, garantindo a estabilidade da conexão à internet em todas as regiões.
Em outras proporções, microempreendedores do setor alimentício tiveram que se expandir, sobretudo para conseguir entregar todos os pedidos — que aumentaram consideravelmente. Empréstimos com diferentes condições de negociação e outros tipos de auxílios para manutenção dos postos de trabalho ajudaram a manter a roda da economia girando.
Digitalização
Existir no universo digital é imprescindível. Em um ano em que o isolamento social se tornou mandatório, ficou ainda mais evidente a necessidade de se ter uma identidade virtual sólida e funcional.
Restaurantes que ainda não utilizavam aplicativos de delivery de comida; consultórios e escolas que tiveram que virtualizar seus serviços. Foram diversas oportunidades de crescimento para o setor de tecnologia e inovação.
Transformando os processos empresariais, por meio de automatização, seja por software ou por hardware, tem sido possível assegurar a continuidade de alguns empreendimentos. Outro aspecto relevante é a requalificação dos profissionais para as novas realidades. Tem sido necessário, cada vez mais, capacitar as equipes de trabalho para as dinâmicas e estruturas digitais.
Solidariedade
Em tempos de privações e desprovimentos, é natural que haja um movimento coletivo para mitigar os efeitos negativos do contexto desfavorável. Ainda que existam obrigações legais de responsabilidade social, durante a pandemia houveram esforços maiores para auxiliar as comunidades no momento de crise.
Seja por meio de doações de cestas básicas, máscaras e álcool em gel, ou da distribuição de smartphones e notebooks, ou até mesmo acesso a cursos gratuitos ou a versões profissionais de softwares pagos, tem sido possível assegurar o mínimo de qualidade para as vidas afetadas pelo coronavírus. Atitudes nobres como essas devem ser reforçadas e estimuladas. A tendência econômica mundial de primar pelo impacto positivo tem se consolidado consistentemente neste período.
Erros
Negacionismo
Entre os vexames de 2020, o negacionismo foi um dos mais polêmicos. Posturas anticientíficas da empresa, por meio de suas lideranças e área de comunicação, desrespeitaram as situações tristes de enfermidade e luto, seja descumprindo as recomendações de isolamento social ou se pronunciando publicamente contra medidas de proteção.
O “filme” de certas instituições foi “queimado”. Ainda que tudo possa ser contornado por uma boa gestão de crise de imagem, fica o aprendizado desta experiência traumática. Erros como este poderiam ser evitados com medidas simples de precaução:
– Prezar pela transparência na comunicação interna e responsabilidade na comunicação externa;
– Consultar especialistas e respeitar suas opiniões profissionais;
– Seguir as diretrizes indicadas por órgãos oficiais internacionais.
Não ter fundos emergenciais
Ser pego de surpresa por uma situação adversa geralmente nos ensina a necessidade de ter um fundo emergencial. Em uma crise mundial desencadeada por uma pandemia, este princípio econômico ficou ainda mais escancarado.
Guardar parte da receita para situações de emergência é uma indicação dos economistas há muito tempo. Seja de micro, médio ou grande porte, um capital de reserva para eventuais gastos não-planejados é decisivo para a sobrevivência em determinados momentos.
Infelizmente nem todos adotam essa prática, e tiveram que buscar ajuda para continuar com as portas abertas. Além das dívidas, ficou a lição para que, no futuro, haja uma preocupação maior de guardar parte da receita. Seja aplicando em tesouro direto ou em poupanças simples, é prudente reservar dinheiro em diferentes espaços. Mesmo que comprometendo uma pequena porcentagem do seus rendimentos, poupar pode ser a sua única esperança caso tudo dê errado.
Trabalhar sozinho
Não dá pra ignorar quem está ao nosso lado, principalmente em tempos de adversidades. As parcerias nos fortalecem e possibilitam uma sobrevida em momentos de caos. Um grande exemplo disso é a junção de gigantes da Tecnologia com setores da Agronomia, Saúde e Educação, otimizando processos na produção e na distribuição de alimentos, na organização de leitos e de profissionais em hospitais, na conexão entre alunos e professores em salas virtuais.
Outro exemplo plausível é a parceria entre os veículos de comunicação, até então “rivais”, para garantir a transparência dos dados sobre a covid-19 no Brasil. Ainda que representativo, este movimento demonstra que a competitividade, ainda que “saudável”, é um conceito retrógrado para as novas lógicas do mercado.
Empreendendo em tempos de crise
Enfim, empreender envolve riscos. É preciso trabalhar nossa tolerância perante eles. O ano de 2020 apresentou, para muitos empreendedores, o desafio de lidar com as inevitáveis disrupções. Ao mesmo tempo, novas soluções tiveram de ser arquitetadas, para driblar as dificuldades que se dispuseram ao longo do ano.
Neste cenário, a inovação se consolidou como principal aspecto para a sobrevivência dos negócios. O enfrentamento do coronavírus tem sido um esforço coletivo, exaustivo e moroso. Por isso, é provável que este ano irá definir um período anterior e posterior à pandemia, dado as mudanças drásticas que a sociedade teve de se adaptar.
Apesar de tudo, ainda há esperanças. Com os números de contaminação e morte abaixando e a economia voltando a se aquecer, a expectativa é que 2021 seja um terreno fértil para muitas iniciativas. Este período nos permitiu refletir sobre o nosso lugar no mundo. E mais do que isso: o valor das relações pessoais. Além, é claro, de pensar sobre as responsabilidades que temos enquanto potências econômicas perante uma sociedade tão desigual.
Para prosperar é preciso continuar ajudando, cooperando e acreditando. Um ecossistema saudável trabalha em conjunto para o bem comum de todos. E este é o rumo para o qual estamos caminhando. A saúde pública, o meio ambiente e a biodiversidade foram três temas bem latentes nas discussões deste ano. E devem continuar sendo fomentadas. Em busca de um desenvolvimento sustentável, de impacto positivo, as organizações devem firmar um compromisso com o planeta e a humanidade.
Empreender é muito mais do que abrir uma empresa; é buscar novas maneiras de melhorar a realidade. Até porque, entre acertar e errar, o importante é aprender e mudar.