* Por Exame.com
Não existe hora certa para empreender. Antes de começar um novo negócio, é preciso ter uma boa ideia e uma dose de coragem. Para ajudar a pavimentar o caminho dessa empreitada, os empreendedores Gustavo Caetano e Arthur Pelegrino, da startup brasileira de vídeos Samba Tech, decidiram publicar o livro ‘Faça Simples’.
A publicação, lançada este mês nas livrarias, é uma continuação de um projeto anterior de Caetano, o livro ‘Pense Simples’, de 2017. Enquanto na primeira obra ele ajudava o leitor a encontrar ferramentas mentais para simplificar ideias, no novo livro ele faz um passo a passo de como tirar um projeto do papel e colocá-lo no mercado.
Nos capítulos, que se alternam entre dicas práticas e histórias de sucesso de empreendedores brasileiros, os autores exploram temas como protótipo, produto mínimo viável, modelo de negócio, estratégia de marketing e vendas. Além disso, no final de cada tópico, há uma entrevista com um empreendedor renomado. Max Oliveira, da plataforma de compra de milhas aéreas Maxmilhas; Flávio Augusto, da escola de idiomas Wise Up; e Rony Meisler, da marca carioca Reserva; são alguns dos entrevistados.
Para contar mais sobre o novo livro, Gustavo Caetano conversou com EXAME. Na entrevista, o empreendedor detalha um pouco mais da obra, dá dicas para quem quer começar um negócio e ainda comenta sobre o desejo das empresas brasileiras de serem unicórnios — startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
Qual foi seu objetivo ao escrever o ‘Faça Simples’?
Meu primeiro livro, ‘Pense Simples’ (2017), tinha como objetivo inspirar as pessoas, trazer simplicidade para o pensamento delas na criação de negócios. O problema foi que ele acabou gerando um outro desafio para quem lia. As pessoas saiam cheias de ideias e começavam a me mandar mensagem, queriam vender a ideia para que eu criasse o produto. Aí eu entendi que o livro deixou um gap, que a execução. É um livro legal como reflexão, mas é um livro que não ensina a tirar a ideia do papel e colocar em prática. Então esse foi o objetivo principal do “Faça Simples”. Seguindo a mesma lógica da simplicidade, o livro ensina como descomplicar o processo de criar um produto ou criar uma empresa nova, fazendo isso num passo a passo. O guia é completo, de ponta a ponta. Tanto da parte de confecção até a parte de planejamento, testes, prototipação, execução, marketing e vendas.
É um livro voltado para quem quer criar uma startup?
Não! É um livro que ensina a fazer as coisas de um jeito diferente, mas eu procurei trazer no texto cases que não fossem só de tecnologia. Entrevistei empreendedores de startups, como o Max Oliveira, da Maxmilhas, mas também o Rony Meisler, da varejista Reserva; o Flávio Augusto, da Wise Up; o Geraldo Rufino, da JR Diesel. Tem várias histórias diferentes. Até mesmo a de uma dentista, a Tia Bela, que criou um produto inovador, mas sem utilizar tecnologia. Ela era uma dentista genérica aqui em Belo Horizonte, não tava dando certo o que ela fazia. Até que ela teve uma ideia e resolveu focar no nicho infantil, criando um conceito dentro da clínica dela. As atendentes vão fantasiadas de Minnie, os dentistas se vestem de super-herói, as salas são todas temáticas. Desde então, ela não tem mais horário livre, está ampliando o consultório em um modelo de franquia. Eu trago esse tipo de história para mostrar para as pessoas que, primeiro, não existe só empresa de tecnologia no mundo. Segundo, que dá para inovar em negócios tradicionais.
Qual é o primeiro passo para quem está começando um negócio?
O primeiro passo é tirar a ideia da cabeça e colocar ela em prática. O que eu mais recebo no meu LinkedIn são pessoas que dizem ter um produto revolucionário, mas que não tem clientes, está só na ideia. O empreendedor precisa passar dessa etapa e ir para o próximo passo, que é a execução. É ali que tem conhecimento, você só consegue empreender de verdade se executar. Eu trago essas histórias de gente real, que criou negócios reais, para mostrar para as pessoas que dá pra fazer. Olha lá, era uma dentista, não tinha nada, trabalhava em várias clínicas para pagar as contas no fim do mês. De repente, teve uma ideia, comprou brinquedos, colocou no consultório e aí o telefone começou a tocar. Hoje vários filhos de jogadores de futebol, de empresários vão lá.
O que você teria feito diferente quando fundou a Samba Tech se soubesse o que sabe agora?
O principal, que tenho aprendido com o tempo, é gente. Conseguir atrair gente boa. É o que mais impacta, está no discurso de todos os empreendedores com que a gente conversou também. Como montar um time vencedor? Depende da ideia, da sua capacidade de vender e da execução. As pessoas querem trabalhar em locais com propósito, que tenha algo além do objetivo de ganhar dinheiro. Não pode ser só isso para atrair a nova geração. Agora isso ficou muito claro para mim, sou acionista de 8 empresas, a maior parte de tecnologia. Eu vejo que as empresas que apostaram em gente muito boa são as que conseguiram deslanchar mais. As que contrataram os profissionais mais baratos não conseguiram crescer tanto
Em quais áreas você apostaria para empreender em 2020?
Onde estão os grandes problemas estão as grandes oportunidades. Então, área de saúde, por exemplo, tem um monte de oportunidade. As pessoas não param de ficar doente, não param de ir no médico, no dentista, essa é uma área que é gigante, mal aproveitada. A maior parte dos profissionais da área fazem a mesma coisa do mesmo jeito. A área de educação também tem demanda, a gente vê novos modelos de escola surgindo. É um mercado relevante. Mobilidade também. A gente até fala no livro, você precisa olhar primeiro os grandes mercados e aí entender o que pode fazer de diferente dentro desse dele. A gente está vivendo a era de Davi versus Golias, pela primeira vez o pequeno passa o grande, desde que ele tenha foco e consiga encontrar um nicho dentro de um mercado grande. É o caso do Dr. Consulta, não é plano de saúde e não é SUS, está muito bem posicionado entre os dois. Esse é o tipo de mensagem que eu queria que ficasse na mente das pessoas.
O que tem chamado sua atenção no ecossistema de inovação brasileiro?
Eu tenho mudado minha cabeça de algumas crenças que eu tinha antigamente. A primeira é a crença de que o capital te leva até muito mais longe. Não necessariamente, né? Eu tenho visto empresas legais que não são consumidoras de muito capital. Uma delas é a Zup, que foi vendida para o Itaú por R$ 600 milhões. A empresa levantou um pouco de capital no começo, virou um negócio gigantesco, com mais de 1.000 funcionários, sem necessariamente queimar capital. Aqui no Brasil, por muito tempo, a gente seguiu o modelo americano para a concepção de empresas e para levantar capital. A ideia era captar muito dinheiro, virar unicórnio, mas para isso precisava queimar muito dinheiro, no modelo de crescimento a todo custo. É uma métrica que tem caído, até mesmo lá fora. Depois do WeWork, o pessoal começou a repensar se esse era o propósito.
Por que eu acho que no Brasil o propósito não deveria ser esse de virar unicórnio? Porque tem pouca saída. Quantas empresas foram vendidas por mais de US$ 1 bilhão no Brasil e quantas foram nos Estados Unidos? Quando você vira uma empresa unicórnio, que vale mais de US$ 1 bilhão, você tem uma dificuldade que é: como você sai? IPO [abertura de capital na bolsa] é difícil para empresas que não geram caixa, então você tem outro problema. Eu acho que as empresas aqui deveriam pensar mais no lado sustentável, em ser uma empresa que gera caixa, receita, e aí sim virar um big player. Admiro muito empresas que fizeram isso, Linx, Totvs, Stefanini, são empresas que vivem com as próprias pernas, crescem e geram riqueza. Não são como as empresas de tiro rápido, como as de patinete. A 99, o iFood e a Rappi são casos legais, mas a gente não pode usar isso como regra para maioria dos empreendedores. A regra deveria ser criar valor, criar negócio de longo prazo. Tô vendo muito empreendedor criando um negócio hoje pensando em vender amanhã. Se criar um negócio pensando só nisso, você não vai ter uma saída.
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