Um NFT é uma espécie de certificado de propriedade digitalmente criptografado que está armazenado em uma blockchain, o que garante sua originalidade e exclusividade. É possível ter non-fungible token – em português tokens não fungíveis, de obras de arte, jogos, itens colecionáveis, fotos, produtos, licenças e mais.
Em 2021, o uso de NFT cresceu 11.000%, segundo um manual da HelloSafe. Pensando nesse crescimento, as marcas estão adotando estratégias criativas para aproveitar essa ascensão tecnológica.
Os NFTs podem servir como catalisadores de marcas já consolidadas e para aquelas que ainda estão em crescimento. Para um investidor, cliente ou usuário, um NFT faz mais sentido do que uma moeda virtual, um título de renda fixa ou ações, segundo Bruno Milanello, executivo de novos negócios do Mercado Bitcoin.
“Os NFTs ‘conversam’ conosco no nível afetivo e emocional. Buscam aquele engajamento, proximidade e senso de acolhimento que nenhum outro produto, dentro e fora do mundo cripto, possui”, explica o especialista sobre o motivo das marcas aderirem ao token não fungível em suas estratégias.
Para Milanello, os NFTs são um novo canal em que as empresas e grandes marcas encontraram o que sempre quiseram que seria um relacionamento completo com o seu cliente. Quem tem o mesmo pensamento é a Volkswagen, que lançou uma coleção de NFTs chamada de “Digital Garage”, que conta com cards de automóveis, peças e outros itens relacionados ao catálogo da montadora.
O head de Digitalização e novos modelos de negócio da Volkswagen América do Sul Fábio Rabelo conta que a empresa somou os diversos pedidos de imagens dos carros da Volks feitos pelos clientes que gostam da marca e o histórico de produtos que marcaram a vida de pessoas ao redor do mundo, e criou a Digital Garage. “Entendemos que esse poderia ser o caminho perfeito de criar, reviver e explorar nossa marca de uma maneira incrível, e dessa forma atender aos pedidos”.
Com os NFTs, a empresa atingiu a exclusividade e autenticidade – geradas pelo blockchain – que queria para cada cliente, além de se aproximar de novos públicos e surpreender o mercado, que ainda não explorou com propriedade a nova tecnologia.
Além das coleções virtuais, que são divididas em pacotes com 3 ou 5 cards aleatórios e com níveis de raridade diferentes, a Volkswagen pensou em benefícios físicos atrelados a essa novidade, como um leilão de uma arte digital e o dono do maior lance ganhou a oportunidade de passar um dia na matriz da empresa em São Bernardo do Campo e conhecer o time de Design para entender como desenham os carros.
As marcas na Web3
Fausto Vanin, cofundador da OnePercent, acredita que outro motivo que induziu as marcas a aderirem ao NFT foi a forma como a tecnologia permite a criação de uma comunidade em torno da marca e é a maneira que as empresas encontraram de se tornarem eternas na nova fase da internet, conhecida como Web3. “Também para posicionar a marca como inovadora e atenta aos novos movimentos tecnológicos”, complementa.
Foi o caso da Housi, startup de moradia flexível e digital, que lançou a “NFTS Otto Collection” – obras de arte exclusivas, que geram benefícios como: encontros com influenciadores, jantares com celebridades e acesso a festas VIPs nas unidades Housi – com o objetivo de entrar no novo universo tecnológico, proporcionar experiências inovadoras para os clientes e criar novas oportunidades de negócios.
Para a Housi, o futuro do mercado imobiliário com as NFTs é a tokenização de imóveis, os smart contracts e a venda de imóveis pelo próprio metaverso, como fez a companhia, em sua primeira venda imobiliária dentro da plataforma do Decentraland.
Outra empresa do setor imobiliário que aderiu aos NFTs é a norte-americana Okada & Company que teve a primeira propriedade comercial listada como token não fungível na plataforma OpenSea.
O NFT listado dá ao comprador direitos exclusivos para adquirir o edifício, mas não garante a conclusão da transação imobiliária e nem reflete a transferência da escritura ou título. Questionada, então, qual seria o benefício da compra do NFT, a empresa afirma que a intenção é permitir a possibilidade da compra de um edifício com criptomoeda.
“É possível mudar isso e permitir que a compra do NFT garanta a escritura do imóvel se a Comissão de Valores Mobiliários permitir o uso de criptomoeda como forma de pagamento. O principal obstáculo é que o registro de imóveis seja controlado pelo Governo. Ele deve controlar sua própria blockchain para que seja seguro reter a escritura de uma casa”, explica Christopher N. Okada presidente da companhia que está entusiasmado com as inúmeras possibilidades que o NFT dará para o seu setor.
Estudo antes do NFT
O cofundador da OnePercent destaca que muitas empresas entraram na onda dos NFTs pelo “hype”, mas existem de fato projetos consistentes e com grande impacto. A primeira parte da fala de Vanin é uma preocupação de Catarina Papa, partner da Unblock Capital, que sinaliza pontos que devem ser avaliados antes da marca aderir a nova tecnologia.
“Estou vendo como muitas empresas estão lançando projetos com NFT sem entender o contexto da Web3. Então estudar antes e entender porque esse mundo está surgindo e para onde ele vai é fundamental”, afirma.
A empresa precisa entender o impacto de ter uma NFT em seu negócio, qual é a mensagem que ela quer passar e o objetivo dela, porque qualquer ativo pode ser registrado digitalmente. “Esse é o grande diferencial. Então se eu tenho a verba para o projeto, eu preciso entender o valor dele, qual a melhor blockchain para registrar meus itens virtuais e todo um estudo de mercado. NFT não é sobre marketing, é sobre uma economia de entusiasmo”, completa Catarina.