O encontro do G20 realizado no Rio de Janeiro em novembro promoveu debates sobre desenvolvimento econômico, social e ambiental, com foco no papel das mulheres no empreendedorismo. O evento trouxe à tona a necessidade de incluir mais mulheres em posições de liderança e na criação de negócios, destacando a lacuna de representatividade em diversos setores.
Apesar de avanços, o cenário ainda é desigual. De acordo com pesquisa da FIA Business School, em 2023 apenas 38% das posições de liderança no Brasil eram ocupadas por mulheres. No ecossistema de startups, o número é ainda mais reduzido: apenas 4,7% das empresas são fundadas exclusivamente por mulheres, conforme levantamento do Distrito.
Diante dessa realidade, seis empreendedoras compartilharam desafios e propostas para superar barreiras estruturais e culturais.
Diversidade em investimentos ainda é insuficiente
Erica Fridman, gestora do fundo de venture capital Sororitê Fund 1, ressalta que a baixa presença de mulheres em decisões sobre alocação de capital limita as oportunidades para empreendedoras. “A diversidade é essencial para gerar retornos financeiros. Equipes diversas identificam oportunidades que poderiam ser ignoradas devido a vieses. Por isso, precisamos de mais mulheres na tomada de decisões sobre investimentos,” explica.
O fundo de Erica investe em startups early stage lideradas ou co-lideradas por mulheres, incentivando a criação de negócios mais inclusivos e inovadores.
Políticas públicas são essenciais para promover igualdade
Carine Roos, CEO da consultoria Newa, defende que políticas públicas podem combater barreiras estruturais. Ela aponta três áreas prioritárias: acesso ao crédito, digitalização e superação de barreiras culturais.
“As desigualdades de gênero, raça e classe aumentam os desafios enfrentados pelas mulheres no empreendedorismo. Sem financiamento adequado, infraestrutura digital e apoio na redistribuição de tarefas de cuidado, muitas não conseguem expandir seus negócios,” afirma.
Falta de representatividade afeta redes de liderança
O networking é um fator-chave no crescimento profissional, mas a falta de representatividade feminina em espaços de liderança reduz as conexões para mulheres. Laís Macedo, presidente do grupo Future Is Now, destaca que lideranças inclusivas são fundamentais para avançar no mercado.
“Ainda não alcançamos o modelo ideal que garanta a presença feminina em cargos estratégicos. Precisamos de abordagens que valorizem diferentes perspectivas e inspirem novas gerações,” afirma.
Redes de apoio fortalecem o empreendedorismo feminino
Nara Iachan, CMO da Loyalme by Cuponeria, reforça a importância de redes de apoio para mulheres empreendedoras. “Em 2011, o cenário de startups no Brasil tinha poucas mulheres em cargos de liderança. Avançamos, mas ainda há desafios significativos. Trocas entre mulheres em posições de gestão fortalecem todas, criando referências e suporte,” explica.
Essas redes promovem aprendizado e colaboração, ajudando a superar barreiras históricas e culturais.
Esforço dobrado para obter reconhecimento
Ana Carolina Gozzi, co-CEO do Compre & Alugue Agora (CAA), ressalta que mulheres enfrentam cobranças desproporcionais para provar competência. “Mesmo com currículos impecáveis e conquistas evidentes, elas ainda são subestimadas. Essa realidade reflete o desequilíbrio entre gêneros e a necessidade de mudanças profundas,” comenta.
Para Ana Carolina, a igualdade será alcançada quando gênero não for mais um critério de avaliação, mas apenas a competência.
Impacto social liderado por mulheres precisa de mais apoio
Alcione Pereira, CEO da Connecting Food, observa que 62% das iniciativas no Pacto Contra a Fome são lideradas por mulheres, evidenciando o protagonismo feminino em questões sociais.
“Fortalecer mulheres no empreendedorismo de impacto social é crucial para construir um futuro mais sustentável. Elas já lideram projetos transformadores, mas precisam de maior acesso a recursos e oportunidades,” afirma.
Próximos passos para inclusão feminina
O debate no G20 destacou que ampliar a presença feminina em negócios não é apenas uma questão de igualdade, mas de alavancar o desenvolvimento econômico. Empreendedoras defendem políticas públicas, redes de apoio e iniciativas de diversidade para superar os desafios.
Com a inclusão de mais mulheres no empreendedorismo e na liderança, o Brasil pode criar um ambiente de negócios mais equilibrado, inovador e alinhado às demandas do mercado global.
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