Quando os anos 2000 chegaram, trouxeram junto uma enxurrada de investimentos em negócios relacionados à Internet. No final dos anos 2000, tinha tanta gente investindo na Nasdaq (bolsa de valores eletrônicos, nos Estados Unidos), que os investidores retiraram seu dinheiro com medo de uma desvalorização súbita devido à falta de retorno.
Daí sim, foi aquela quebradeira – até no Brasil. Há alguns negócios brasileiros que conseguiram aguentar o tranco, seguem firmes e inovando – e não é do Buscapé que estou falando.
Tive uma conversa muito legal com Alexandre Canatella, CEO da e-Midia (em sociedade com Luiz Lapetina), empresa de conteúdo e relacionamento online que está no mercado desde 1997 e detém os serviços Vila Mulher, CyberCook e CyberDiet.
Perguntei se o estouro da bolha pontocom, nos Estados Unidos, chegou a afetar os negócios. “Nosso faturamento do ano 2000 (ano de estouro) para 2001 caiu 55%”, respondeu Canatella. Bom, certamente o mercado financeiro norte-americano tem uma longa tradição em espalhar efeitos danosos em diversos setores – mas é justamente por ter o mais rico histórico de alavancagem e sucesso! “Não realizamos nenhuma demissão, foi uma baita exceção”, complementa.
Por que bolhas estouram
Uma bolha especulativa forma-se num mercado quando a única coisa que sustenta a progressão desse mercado é a entrada de novos participantes, num esquema em pirâmide natural. Visto que o número de participantes possível é finito, todas as bolhas possuem um final previsível ainda que geralmente seja difícil de estabelecer o seu momento.
Assim acontece com a cotação das ações negociadas em bolsa de valores. Quando ocorrem sucessivas altas, muitas pessoas sem experiência em mercado de capitais se aventuram a investir em ações, e, conforme a lei da oferta e da procura essa grande demanda faz os papéis subirem ainda mais, inflando artificialmente a “bolha”.
Em determinado momento, os grandes investidores, ou aqueles que conhecem o mercado, percebem que os valores estão irreais e que os riscos de desvalorização aumentam e então começam a vender suas ações, levando a queda dos preços, provocando assim o estouro da bolha.
Isso aconteceu entre o final do ano 2000 e o início de 2001. Os modelos de negócios das chamadas “empresas pontocom” eram mantidos pelo capital de risco abundante na época. Nesse caso, o objetivo era a geração de uma vantagem competitiva que, no futuro, gerasse lucros compensatórios (estratégia green field, parecida com a blue ocean). Eram comuns gastos exorbitantes com anúncios de TV em horários nobres, sedes luxuosas e aquisição de empresas tradicionais. Contudo, poucas empresas sobreviveram para poder contar com isso.
Por que a e-Midia deu certo
Tínhamos uma preocupação de tocar o negócio como uma padaria, de um jeito bem metódico. Se não tem farinha, não tem pão”, resume Canatella. “O fato de termos iniciado o empreendimento fora do período de febre da Internet foi sempre uma vantagem. Principalmente em relação a outros empreendimentos que surgiam naquele momento movidos por uma onda enorme de oportunidades.
O primeiro negócio da empresa foi o CyberCook, que nasceu de uma ideia simples: vários amigos trocavam receitas por email, mas não havia um bom repositório online. Tão simples e tão bem posicionado em um mercado ainda inexplorado, o CyberCook serviu de exemplo no programa do apresentador de TV Jô Soares, e daí teve um salto no número de usuários. O modelo de receita era venda de publicidade.
Dois anos depois, o site recebeu aporte da UOL Investment. Tinha em mãos também alguns contratos de comércio eletrônico, mas, com uma onda de incredulidade no primeiro semestre de 2000, estes não estavam se concretizando – e os custos da empresa tinham subido 665%. Em agosto, veio a ideia de conteúdo premium (assinatura paga pelo usuário) com o CyberDiet, implementada no auge do estouro da bolha, em dezembro. Parece que deu certo: ao invés dos 60 assinantes mensais, conquistaram 700. Depois passaram a licenciar conteúdo e a empresa vai bem, com 26 funcionários, operações em Santos e São Paulo.
O “Fundamentódromo”
“Precisamos mudar os planos porque o jogo estava mudando. E mudando muito. E mudando rápido. É sobre como agir em um novo cenário. A possibilidade de cortes nos incomodava, já que não tínhamos adquirido a tal gordura, aquela que faz mal à saúde de qualquer empresa. Tínhamos sim de colocar uma espécie de fundamentódromo. E o que era isso? Pegamos tudo que a operação de Cyber Cook fazia, todos os novos projetos, classificamos o que era fundamental e fizemos um ranking do que era essencial para a operação, para mantermos o foco dirigido para movimentos com grande fundamento para a viabilização da operação”.
O que a Internet representa para o Brasil
“A geração de empreendedores da indústria de inovação tecnológica do início deste século pavimentou uma estrada importantíssima para que o Brasil aproveitasse a enorme oportunidade de ser inserido dentro de um cenário absolutamente novo de empreendedorismo. Com uma série de novas iniciativas que puderam pular do campo das ideias, dos laboratórios ou da universidade para o “game” real dos negócios e de uma economia que experimentaria novos dias em uma nova realidade: agora toda online”.
Informações sobre os produtos CyberCook e Vila Mulher.