Muita gente vem para o mundo do empreendedorismo e busca uma linha reta com passos precisos. Como se o desafio fosse aprender a fórmula certa para o sucesso. E muita gente também divulga quais supostamente são esses passos. Mas a maioria dos empreendimentos não vai tão bem quanto os gloriosos casos de sucesso que viram tema de livros e estudos (leia minha matéria sobre O livro negro do empreendedor). Obviamente há perguntas a serem feitas – e respostas a serem dadas, mas elas podem variar. Até mesmo quando se trata de venture capital, avaliação de empresas, negociações, termos contratuais.
Visualizar previamente como vai funcionar – de fato – um modelo de negócio inovador já é algo bastante difícil; planejar os passos para alcançar o sucesso com isso, e projetar o tamanho do sucesso, é muito mais delicado ainda. Não há experiência nem técnica que sejam suficientes para dizer isso com precisão. Mas todo mundo sabe que na hora de uma startup receber sócios investidores – sejam anjos (pessoas físicas) ou empresas gestoras – é necessário chegar a algum “valuation”, precificar a empresa. O que nem todo mundo sabe é que há formas diferentes de se calcular isso, técnicas já validadas com empresas mais tradicionais, nem sempre ideais para startups.
Há alguns dias, ouvi uma conversa muito interessante entre alguns investidores, em um encontro marcado pelo GVcepe na BM&F Bovespa para alinharem expectativas sobre um novo estudo sobre Venture Capital e Provate Equity que vem sendo preparado. Participaram Mario Spata (BNDES), Cezar Mufarej (Tree Labs), Francisco Jardim (SP Ventures/Criatec), Luiz Abreu (NSG Capital) e Francisco Perez (Inseed).
Cito abaixo algumas frases marcantes (e soltas, não sequenciais) que surgiram na discussão. Depois assista ao vídeo com a conversa inteira.
- Há um gap educacional sobre venture capital;
- Um dos papéis de uma aceleradora é auxiliar neste tipo de compreensão;
- No início, faz-se due dilligence, valuation, assinatura do contrato e daí acontece um gap de métricas até o esperado retorno dentro de 10 anos;
- Ir mal é algo normal nos negócios, especialmente na área de investimentos de risco. Só é necessário fazer provisão contábil quando o prejuízo for consumir o patrimônio;
- Temos um sistema que é perverso para o auditor, pois ninguém quer ver o que está ruim;
- Quando acontece algo ruim na contabilidade, não significa que os gestores não estão olhando o dia-a-dia;
- Não há um sistema contábil que mostre o que é necessário para o investidor acompanhar o dia-a-dia da empresa;
- O único tecnicismo é vestir de tecnicismo uma série de planilhas;
- Há diversas metodologias de valuation mas elas tem imperfeições;
- Investimento em early stage é impreciso, pois não tem série histórica ou projeção;
- O investidor não pode ser o controlador, pois o empreendedor tem que se sentir mais dono, para tocar o dia-a-dia;
- Somos potencializadores, não gestores;
- Em alguns investimentos, para resolver o impasse do valuation, eu me comprometo a devolver equity para o empreendedor na medida em que ele for batendo as metas. Desta forma, fica bom para todos de uma forma equilibrada.
Vamos ver o que o estudo vai nos mostrar, quando estiver pronto. E vamos ver se isso serve para tornar o venture capital mais fácil. Mesmo se não chegarem ao ponto de estarem baseadas em acordos fechados com apertos de mão e emails, como Paul Graham instituiu recentemente na aceleradora Y Combinator ou não repetirem a façanha do Rally.org, que levantou 8 milhões de dólares de diversos investidores em apenas duas semanas. Mesmo se não for com “devolução progressiva de equity para os fundadores”, conforme feito pelo Francisco Jardim.