* Por Fabiany Lima
Sonhar alto é um pré-requisito para qualquer empreendedor. É comum acreditar que sua ideia vai impactar muitas pessoas, sua startup crescerá e você ficará rico. Não há nada de errado nesse pensamento, ainda que seja importante ter os pés no chão e analisar racionalmente cada passo que for dado.
Porém, a ideia de ser bem-sucedido é quase instintivamente associada à captação de investimento. Medimos a qualidade de uma startup pelo aporte que ela conseguiu levantar e aí temos um problema. Precisamos entender que o investimento é um processo estratégico do ciclo de vida de uma startup. Ele não representa o sucesso, não é o ponto final e muito menos uma obrigação.
Assim como há um planejamento para as decisões de marketing ou vendas, a captação de recursos também requer uma estratégia. Ao começar um negócio, por exemplo, o ideal é adiar ao máximo a busca por investimentos, utilizando o bootstrapping (quando os empreendedores tiram o dinheiro do bolso e direcionam o lucro para a própria empresa). Isso te dará mais liberdade para colocar o produto no mercado e facilitará as possíveis adaptações que ele precisará receber. Enquanto puder, o recomendável é caminhar com as próprias pernas.
Chegará um momento em que será preciso um investimento maior, que o boostrapping não pode resolver: alguma novidade na plataforma, o acréscimo de uma funcionalidade ou uma expansão. Seja qual for o motivo, uma hora você pode perceber que precisa de mais dinheiro para seguir em frente. Mesmo quando isso acontecer, se questione mais uma vez: será que realmente compensa bater na porta dos investidores? Não há mais como crescer sem esse apoio?
Essa escolha será apenas o ponto de partida para novas decisões. É preciso entender exatamente quais são suas necessidades e o que você está procurando. Só assim será possível saber que tipo de aporte terá sentido para o seu negócio. Estude minunciosamente suas opções, converse e negocie ao máximo com os investidores. Basicamente, o investimento pode vir de duas formas: somente pensando em dinheiro (smart money), que funciona bem em algumas etapas e com empreendedores mais maduros, ou uma composição de dinheiro somado ao que o investidor pode agregar em conhecimento e contatos.
Quando finalmente o acordo for selado, é importante manter um bom relacionamento com aqueles que confiaram no seu projeto. Dê feedbacks constantes sobre o que está acontecendo, marque encontros pessoais para atualizá-los das grandes novidades e saiba ouvir seus conselhos. Você pode precisar de uma nova rodada de investimentos no futuro, então mantenha o networking ativo.
Por fim, vale lembrar que quando uma startup recebe um aporte, o investidor não está fazendo um favor a ela. Certamente, ele analisou rigorosamente a ideia e acreditou que teria bons resultados se apostasse nela. O mesmo deve valer para o empreendedor: pense estrategicamente se é o momento certo e quais são as melhores opções diante do objetivo que você tem em mente. Independente do valor ou do investidor, a sinergia entre ele, o projeto e o empreendedor é fundamental para que tudo caminhe tranquilamente no dia-a-dia, já que essa é uma relação de longo prazo e que envolve interesses mútuos.
Fabiany Lima já teve empresas no mercado tradicional, trabalhou em startups, e teve a oportunidade de participar de investimento-anjo, programas de aceleração, Startup Brasil, equity crowfunding e Startup Chile. Fundou três startups e hoje é CEO da Timokids, um aplicativo de livros infantis que ganhou diversos prêmios e causa impacto social através da educação em mais de 160 países. É palestrante, mentora, colunista de empreendedorismo e escreveu 12 livros infantis.