Acho delicado falar em Dia do Orgulho Nerd ou Orgulho Geek. A data é hoje, e surgiu como Dia da Toalha, e falar em toalha pode ser um tabu para empreendedor: nenhum quer admitir a necessidade de “jogar a toalha”. Não quero fazer um editorial bunda-mole pautado pela data nem pelos confetes de celebrações incensadas.
Assim como a contracultura do final dos anos 1960 não foi apenas apropriada pelo marketing, mas também criada pelo, penso que hoje o mais grandioso sobre a nerdice é que ela vende. Ela nos vende para nós mesmos como se fôssemos diferentes. Então consumimos “cultura” para nos congratularmos.
Este editorial foi lançado na newsletter do Startupi:
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Ostentamos cultura para pertencermos ao grupo de quem não quer pertencer ao grupo dos sem cultura. Mas que cultura, que sistema, que esperteza reside nisso? Eu não condeno o consumo (são formas de exercer cidadania e cultura) muito menos conhecimento, e não quero aplicar uma escala de qual conhecimento é melhor.
Apenas acho que celulares e séries são tão cotidianos que não há nada especial para se vangloriar a respeito deles. Minha aliança tem um número pitagórico e tenho uma gravata da Grifinória (fashionistas gonna hate: isso não é uma grife), mas realmente, o fato de as pessoas não os reconhecerem como tais não importa, não diz nada nem sobre elas nem sobre mim nem sobre as coisas em si. Ah, também podem gostar das bandas (startups?) obscuras que eu gosto. Eu não quero ser mais indie, mais nerd, mais cool, mais cult ou mais blasé do que você.
Não temos de esfregar na cara de ninguém se temos algum conhecimento profundo sobre alguma coisa. Aliás, o recomendável nem é que o conhecimento seja especificamente profundo, mas proporcionalmente profundo e amplo. Ok, é disso que se trata ser nerd e geek, tudo bem. Mas a tiazinha e o tiozinho que moram lá na zona rural, manjam tudo sobre plantas e animais e condições ambientais, arrumam suas ferramentas, hackeiam seus tratores: também são nerds! Os políticos e concursados: são nerds em suas áreas.
Sua mãe é nerd, sua vó é nerd também: reconhecem uns 18 tipos de diferentes de choro de bebê! Penso até mesmo que as pessoas medíocres, medianas, que não tem vontade de nada, nem sabem ou fazem nada especial, também são nerds: deve ser difícil pra caralho ser um trolha hoje em dia. Gente que se esforçar tanto para decorar preconceitos e regrinhas sociais… verdadeiros atletas nerds também.
Sabe quando seu filho é super pequeno e você o parabeniza por qualquer passo torto, desenho irreconhecível? Pois é, todo mundo já foi paparicado nesta época e não é depois dos 20 ou 30 ou 40 que a gente deve esperar status social por saber mexer em app. Não adianta nem dar uma de bullying reverso, mágoa vingadora querendo ser o chefão de todo mundo só porque é um crânio: os verdadeiros seres de sucesso não obtem isso apenas por habilidades intelectuais, mas com muito – mas muito – tato e equilíbrio emocional, muito trâmite, muito jeito de lidar com as coisas. Fazer cubo de Kubrick (sic) em 1 minuto com um objeto cheio de partes coloridas na mão é uma coisa: fazer no “mundo real” todo dia pra dar um jeito de levar a empresa pra frente… isso sim é notável. But then again, faz-se isso há milênios.
Feliz dia da humildade e da simplicidade, yo! Não celebre ser nerd e geek, faça como os hipsters que fingem não serem hipsters 😉 Senão, fica cafona igual véio imitando Elvis no bingo: nem a armadura de Storm Trooper salva.