Por Bruna Galati
Em 2017, a agtech Cromai revolucionou o segmento agrícola quando o assunto é mapear a plantação de cana-de-açúcar e soja para identificar onde estão localizadas as ervas daninhas e então aplicar inseticidas e herbicidas apenas nos pontos necessários.
A startup desenvolveu uma plataforma com Inteligência Artificial que lê as imagens das plantações mapeadas por drones e consegue identificar rapidamente onde estão as ervas daninhas. Depois, é possível integrar a plataforma em tratores, que irão aplicar os remédios somente na área necessária, economizando dinheiro e matéria-prima, além de evitar a aplicação desnecessária de pesticidas em toda plantação.
“Com a plataforma, reduzimos em média 65% do uso de herbicidas e de água em campo, auxiliando também na questão ambiental. Isso garante um retorno financeiro de até R$ 150 por hectare para os produtores, tanto os pequenos quanto os grandes grupos. Por conta do nosso impacto, começamos a crescer de forma bem interessante e hoje estamos presente em nove dos dez maiores grupos do mercado de cana-de-açúcar”, explica Guilherme Castro, fundador da Cromai.
Com a tecnologia, a Cromai estourou a bolha do setor agrícola, onde venceu diversos prêmios – como Agrishow Startups 2023, a Agrobit 2023 e a Embrapa Soja Open Innovation – e foi o grande destaque da premiação do South Summit Brazil 2024, evento que reuniu o ecossistema de inovação em Porto Alegre (RS), na semana passada, onde mais de 2 mil startups de 80 países se inscreveram no desafio.
“O sentimento que tive ao receber esse prêmio foi o de gratidão. Sinto que o Brasil ainda precisa de exemplos de empreendedores nacionais, olhamos muito para fora quando o assunto é inovação, mas temos muito potencial, e poder fazer desse fomento para o ecossistema brasileiro é incrível”, compartilha Guilherme Castro, CEO da Cromai.
História da Cromai
A Cromai surgiu como decorrência da trajetória acadêmica de Guilherme, engenheiro mecatrônico formado pela Universidade de São Paulo. Quando se formou, não havia muitas oportunidades no Brasil, então migrou para a Alemanha para fazer mestrado – onde teve o primeiro contato com IA e empreendedorismo, por volta de 2010.
Quando voltou ao Brasil, trabalhou em uma startup de educação e no Mobly, hoje um gigante de itens para casa e decoração. Mas o que palpitava mesmo seu coração era desenvolver um negócio do zero e solucionar uma dor da sociedade. Durante o doutorado, entre 2013 e 2016, focou os estudos no empreendedorismo e na IA. No final, fundou a Cromai.
“A escolha de fundar uma startup no setor agro veio do fato de eu ter crescido rodeado de agrônomos. Meus pais são agrônomos, meu avô era agrônomo e meu bisavô foi um dos primeiros agrônomos formados na Esalq, na Universidade de São Paulo”, conta Guilherme, que diz que apesar do vasto conhecimento agronômico no Brasil, ainda havia pouca utilização de tecnologia no campo.
Além de ter crescido no meio de agrônomos, Guilherme estudou o mercado e percebeu uma grande dor durante suas conversas com produtores: eles tinham pouco conhecimento do que estava acontecendo em campo. A estratégia deles para proteger a plantação de qualquer ameaça era aplicar fungicidas por toda parte. “Eu achei uma dor muito forte, porque a IA era uma solução fantástica para dizer para o produtor o que realmente estava acontecendo no campo e assim ele pudesse ter uma agricultura muito mais eficiente e usar o produto onde realmente era necessário.”
Soluções da Cromai
O primeiro produto que a Cromai lançou foi para o mercado de cana-de-açúcar. Os produtores usam drones para mapear a plantação, sobem as imagens na plataforma e a IA, desenvolvida pela startup, analisa onde estão as ervas daninhas, classifica suas espécies e gera arquivos para pulverização localizada. Depois, basta o produtor plugar o software no seu maquinário/trator e ele será direcionado para a região exata que acontecerá a pulverização.
“O primeiro passo que tive como empreendedor foi separar a área de IA das áreas de produtos e tecnologia. Na época não via nenhuma empresa trabalhando dessa forma, depois descobri que a Tesla fazia isso. Tínhamos um time específico para desenvolver essa competência que é parte do nosso core. Fizemos a IA do zero, desde os modelos até toda estrutura computacional, os processos e esteiras de treinamento”, explica Guilherme sobre a construção da plataforma.
Recentemente a startup lançou o mesmo produto para o mercado de soja. “A gente começou com dois dos cinco maiores grupos do segmento, mas a ideia é alcançar os pequenos produtores também. Hoje atuamos em 10 estados do Brasil e temos uma equipe de 170 pessoas”, explica Guilherme.
Também desenvolveu duas novas soluções para o setor de cana-de-açúcar. O mais antigo, que já está com bastante tração, é o de detecção de impureza vegetal na usina através de um sensor com IA que pode ser aplicado nas câmeras que ficam na entrada das usinas.
“Todas as cargas que chegam na usina depois da colheita passam pelo nosso sensor que consegue verificar a qualidade da colheita por imagens”, informa Guilherme. A solução já está instalada em 45 usinas e permite a identificação de impurezas vegetais nas amostras colhidas, possibilitando ajustes precisos nos parâmetros de colheita e na regulagem dos processos internos das indústrias de cana-de-açúcar. Além disso, Guilherme ressalta a importância desses sensores na avaliação dos fornecedores de cana, permitindo a bonificação dos que apresentam boa qualidade na colheita e a cobrança dos que entregam materiais de baixa qualidade. A meta para 2024 é instalar cerca de 100 sensores em diferentes usinas.
A outra solução, recentemente lançada, é voltada para o reconhecimento das linhas de plantio de cana-de-açúcar e a detecção de problemas que possam prejudicar a produtividade ao longo do tempo. Esse lançamento, solicitado pelos próprios clientes da startup, contribui para a tomada de decisões gerenciais, como a reforma de áreas de plantio e a implementação de manejo adequado para garantir altos índices de produtividade no cultivo.
Próximos passos da startup
Questionado sobre as dificuldades iniciais da startup, Guilherme pontua a mudança de comportamento do produtor para usar esse tipo de solução. “O produtor vai deixar de aplicar um processo que faz há décadas, que é pulverizar o campo inteiro, e precisa confiar numa tecnologia para economizar, ter mais produtividade e ter resultados melhores. Às vezes, essa mudança de mentalidade demora um pouco, até testar o produto e pegar confiança 100%, é um processo.”
A startup está concentrando esforços para expandir sua atuação. Além dos setores de cana-de-açúcar e de soja, eles querem conquistar o setor de algodão e milho. Hoje, a startup já está em 9 dos 10 maiores canaviais do Brasil. “Nosso objetivo nos próximos dois anos, até o final de 2025, é estar presente em todos os 30 maiores grupos do setor”, afirma Guilherme.
Em 2025, a startup prevê o faturamento de R$ 50 milhões e este ano quer chegar no breakeven. Além disso, recebeu aportes recentes, o último foi de R$ 12 milhões liderado pela Totvs.
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