Por Bruna Galati
Desde pequena, Lilian Primo Albuquerque se dedicava para alcançar seus objetivos. Com 12 anos fez sua primeira empreendida na frente do restaurante dos pais – e brinca que foi sua primeira falência. Pegou dois engradados de cerveja e um tabuleiro de botão dos irmãos para fazer a mesa onde venderia brinquedinhos que comprava na 25 de Março. Infelizmente o público não se interessou muito pela compra, talvez se ela tivesse apostado na escola teria mais chance de um negócio duradouro.
Dois anos antes, já frequentava uma feira de informática. De início era apenas para pegar os brindes das palestras, era a diversão da pequena de 10 anos, mas foi lá que ingressou no mundo da tecnologia e a paixão por informática começou. Ao ganhar um computador dos pais, sua diversão era desmontá-lo para ver o que tinha dentro e montar tudo de novo.
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Cursos e mais cursos
Com 14 anos, concluía o seu primeiro cursinho de informática e foi chamada para ser monitora, sua função seria acompanhar o professor e ajudar os alunos. No primeiro dia, o professor faltou e Lilian ficou encarregada de dar aula. “A coordenadora me entregou o avental de professor e a apostila da aula, eu teria que dar aula para pessoas muito mais velhas que eu. No início fiquei morrendo de medo, mas depois que terminei fui convidada para ministrar 8 turmas. Virei professora de informática entre 14 e 15 anos.”
O instinto empreendedor de ter ideias para solucionar problemas e batalhar pelo que acredita surgiu cedo em Lilian. Conheceu o CIEE – Centro de Integração Empresa-Escola – e todas as vezes que eles atualizavam a grade com novos cursos de informática, ela se inscrevia. Ela saia de casa às 5 da manhã e deixava um bilhete para a mãe avisando onde tinha ido. “Nossa comunicação era por pager, o celular era muito caro na época. Eu recebia uma mensagem dizendo para ligar para ela e ia até um orelhão.”
Lilian compartilha que suas palavras favoritas na juventude eram “bolsa de estudos”, foi quando conseguiu uma bolsa pela Cisco, empresa de tecnologia. Ela era a única menina em uma sala com 25 meninos, mas isso nunca a impediu de seguir seus objetivos. Em dois anos, se formou e foi convidada para ser professora do curso, mas por não ter idade, ela assinava como monitora. “Fiquei uns meses estagiando com isso e ingressei na faculdade, comecei a estudar sistema de informação. Por vir de escola pública, eu não tive a base de ensino que outros alunos tiveram, tinha que fazer reforço nos finais de semana para conseguir acompanhar a aula.”
Alguns anos depois, em 2007, finalizava seu MBA em gestão empresarial pública e privada pela FAAP, com uma bolsa de estudos da Marinha e do Exército. “O que eles têm a ver comigo? Nada, mas eu soube da oportunidade, fiz uma prova, fiz uma entrevista e consegui fazer meu MBA com bolsa pela Marinha e Exército.”
Carreira na IBM
Em 2004, surgiu a IBM – empresa de informática – na sua vida. Ela foi contratada como estagiária para substituir um gerente que atendia a América Latina e iria tirar férias em 1 mês. Lilian topou o desafio com a condição de que o gerente ensinaria tudo que ela deveria saber para conseguir fazer o seu melhor. Ficou um tempo em operações até que se encantou por vendas, onde ficou quase 12 anos.
“Tive 9 posições, fui gerente de pessoas, tive oportunidade de ir para a Índia, onde desenvolvi um manual operacional e fiz consultorias, fui líder de pessoas em área de vendas também, a gerente mais nova da IBM na época”, explica. Sua trajetória, desde a infância, mostra que idade é realmente apenas um número e que com garra e esforço, é possível chegar onde quiser.
Além de que Lilian tinha uma estratégia diferente para lidar com o seu time, ela estava conectada com eles o tempo todo. Antes das redes sociais explodirem, seu contato com os colaboradores era através do SMS e do Facebook, perguntava o que estavam fazendo e se precisavam de ajuda, também publicava na rede as ações do time. Tudo isso era muito novo para o ambiente corporativo, uma vez que as empresas ainda estavam no formato de não ter relação próxima com os funcionários e muito menos publicar as conquistas e atividades do time em uma plataforma.
Na IBM, Lilian passou pela venda de hardware, software e serviços, até que foi para a oposição onde trabalhava com startups e empresas. Falava com os CEOs e entendia os próximos passos da empresa, para poder vender o portfólio da IBM, foi quando se aproximou do ecossistema de startups e começou a entender seus processos.
Nessa mesma época, Lilian decidiu participar do summit da Singularity University, evento com especialistas da SU do Brasil e do exterior para apresentar o impacto das tecnologias exponenciais nos diversos mercados. Ela foi muito questionada do porquê estava indo, uma vez que seu cargo na IBM não era um dos mais altos da empresa, mas ela respondeu. “Eu me prontifiquei a ir, tirei minhas férias e abracei o desafio. Não é porque meu executivo tem um cargo mais alto, que não posso ter a oportunidade de investir no meu desenvolvimento.”
Lilian Primo: nova investidora-anjo
Em 2017, Lilian visitou o Vale do Silício e compartilha que foi uma experiência com muito networking e imersão. Conheceu CEOs de grandes empresas e suas conexões continuam até hoje e entendeu mais sobre o ecossistema, agora vendo na prática. Dois anos depois foi para Israel – com o apoio de uma bolsa de estudos do governo. Conheceu startups e empresas, foi nas aceleradoras e aprendeu práticas que poderia aplicar no Brasil.
Voltou para o país e já ingressou no conselho executivo do Êxito – Instituto Latino-Americano de Empreendorismo e Inovação e foi chamada para ser vice-presidente de TI da ANEFAC. Na mesma época, fundou a Mobye, startup de mobilidade que atua com veículos elétricos com o objetivo de garantir a integridade do planeta e sociedade, e a LPAS consultoria, onde dá palestras, escreve conteúdos, faz mentorias com empresas e startups e traz a visão de tecnologia e empreendedorismo.
Nesse meio tempo, Lilian conheceu a Bossanova Investimentos, venture capital mais ativa da América Latina, e resolveu que estava na hora de colocar caixa nas startups, além do seu smart money. “O investimento pela Bossanova tem um risco muito menor, o mercado estava mais aquecido e a entrada de caixa para as startups estava sendo diferente, a forma dos comitês de investimento e da análise prévia do fundo era muito mais segura”, explica.
Lilian participa de diversos comitês de investimento dentro da Bossanova, mas o principal é o projeto Ladies, que visa realizar investimentos em startups que sejam lideradas por mulheres ou que tenham soluções destinadas ao público feminino.
A sua tese de investimentos, junto com a Bossanova, além de investir em startups com mulheres na liderança, é olhar para o LTV – valor do tempo de vida de um cliente – da startup e o seu faturamento. Analisar o roadmap, os fundadores, a escalabilidade do negócio, o valuation e os KPIs. “Também entendemos o mercado, avaliamos o produto e ouvimos nosso conselho, nós nos complementamos para fazer o investimento, cada um tem seu conhecimento e experiência de mercado.”
Nas investidas na pessoa física, Lilian olha o modelo de negócio, vê se faz sentido ingressas com apenas smart money ou com o caixa. Com a sua formação em conselho empresarial, ela ajuda nos conselhos de duas startups. Já são mais de 80 startups investidas, onde 13 delas oferece mentoria, além do investimento.
“Já levei uma startup para uma aldeia indígena para conversar com o cacique porque achei que fazia sentido ela entender o segmento de agro deles. Outra startup já conectei com clientes e outra entrei no board do conselho. Esse é nosso papel como investidor-anjo, nós usamos nosso conhecimento de mercado e nossas vivências para contribuir no fomento da startup, nas suas conexões e aprendizados”, completa Lilian.
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