No dia em que o resultado do programa Startup Brasil saiu, surpreendeu um pouco o valor dissonante que a mineira Uaizo solicitou: R$ 30 mil, em franca discrepância com os valores solicitados pelas outras aprovadas (quase todos acima dos R$ 100 mil). Claro, ficamos curiosos e fomos atrás da empresa – e descobrimos muito além disso.
“Na verdade, foi um erro – não sabemos se foi do nosso lado ou do sistema da CNpQ [que recebeu os projetos]. Tomamos muito cuidado ao submeter, mas sistema é um pouco difícil de usar. Pode ser que tenhamos errado”, contou o cofundador da Uaizo, Fernando Ferreira Campos.
Mesmo assim, o CNpQ reconsiderou o pedido e retificou o valor: são R$ 198 mil para investir em um sistema cuja promessa é melhorar o modus operandi do e-commerce no Brasil.
Ainda está em fase de protótipo, mas a ideia do produto é botar inteligência automática na gestão do e-commerce. A maneira mais eficaz de levar um cliente para o site é comprando anúncios em sites de busca, como o Google. Cada vez em que ele é clicado, contudo, a empresa paga. “Às vezes o custo envolvido com a aquisição do cliente final é maior que a própria margem de lucro. Preços e condições mudam várias vezes durante o mesmo dia na internet, porque a concorrência é grande”, diz ele.
Explica-se: como não existem as características típicas do comércio tradicional, como distância entre pontos comerciais ou mesmo a capacidade de readaptação da concorrência a tempo de não prejudicar as vendas, na internet a concorrência é horizontal, mano a mano. A gestão do e-commerce costuma ser feita manualmente e, se funciona bem nos pontos físicos, é um entrave para as vendas na internet.
Aí que entra o produto da Uaizo, usando big data e a inteligência artificial para automatizar a gestão do e-commerce. “Por exemplo: se você fez um anúncio no Google e o estoque acabou, o programa pausa automaticamente a propaganda, algo que, hoje, é feito manualmente. Isso é uma das ações que, combinadas e automatizadas, fazem que a margem de lucro seja maior no final do mês”, conta Campos.
Ele admite que a ideia é inspirada na Amazon, que tem uma equipe especializada no desenvolvimento de um sistema similar, porém proprietário. “Ainda não existe um modelo comercial de sucesso dessa ideia, embora muitas empresas estejam começando a desenvolver isso”, afirma. “Mesmo nas grandes varejistas esse método é terceirizado, o que também deu forma à nossa ideia”.
A startup espera que o produto esteja pronto para vendas até o final do ano. “Não é um app ou um projeto de site simples, envolve complexidade, tempo, dinheiro e pessoas”, diz. Atender o território nacional e clientes internacionais é um objetivo claro da empresa.
Campos, inclusive, tem carreira sólida na tecnologia. Trabalhou no exterior durante um tempo e, ao voltar, entrou na equipe de desenvolvimento de telefones da Motorola. Em seguida, assumiu o cargo de CCO na Samba Tech – cargo que deixou para fundar a atual startup junto com Luiz Tangari. Este, por sua vez, também tem vasta experiência com startups – é a sua terceira – e, depois de vender a Aorta no ano passado, ingressou nas pesquisas sobre big data e descobriu essa lacuna no e-commerce que a Uaizo quer preencher.
E, mesmo com aquela confusão – e subsequente correção – nos valores destinados pelo programa Startup Brasil (que eu narrei lá em cima), a Uaizo ainda não sabe se vai participar. Campos explica: “A parceria tem que fazer sentido para os dois lados, startup e aceleradora. A proposta tem que ser atraente. Estamos na dúvida. Não faz sentido ocupar a vaga de outra empresa no programa”.