Aos 19 anos, Cassio Spina começou a empreender. Com o que conhecimento que adquiriu lá atrás, Cassio se tornou um dos mais importantes investidores-anjo do Brasil. Para conhecer essa história, o Startupi bateu um papo com ele, fundador e CEO da Anjos do Brasil. “Eu gosto de tecnologia desde garoto, sempre fui muito curioso”, conta.
Ainda na adolescência, Cassio aprendeu a programar de forma totalmente autodidata. No início da faculdade de Engenharia Elétrica, desenvolveu seu próprio software. “Para mim, eu fazia aquilo quase como um hobby”, conta. Até que uma empresa viu valor nesse “hobby” e quis comprar o produto que Cassio oferecia. “Ali eu pensei: por que eu vou vender só para uma empresa, se eu posso oferecer esse serviço para várias?”. Assim começou sua trajetória empreendedora.
Durante os anos em que tocou o próprio negócio, Cassio recebeu investimentos de grandes fundos, e começou a aprender de perto o dia a dia, as ferramentas e as estratégias de grandes investidores. Ao completar sua jornada empreendedora e vender sua última empresa, no início dos anos 2000, ele viu a oportunidade de devolver à comunidade empreendedora aquilo que aprendeu durante os anos e decidiu que era hora de passar para o outro lado e começar a apoiar empreendedores como ele. Em 2009, começou a dar os primeiros passos no mercado de investimento-anjo no Brasil.
“Nessa época, esse setor estava começando a emergir, mas ainda era muito pequeno o cenário”, conta. “Eu sentia a necessidade de ter mais conexões e estreitar relacionamento com outros investidores, porque os grupos que existiam, além de poucos, não eram muito ativos”. E assim, em 2011, surgiu a Anjos do Brasil, hoje uma das maiores redes de investidores-anjo do país.
Início da Anjos do Brasil
Além do contato próximo com seus próprios investidores, Cassio recorreu aos players do maior mercado do mundo quando o assunto é investimento: o Vale do Silício. Lá, ele aprendeu com alguns dos principais investidores do mundo sobre o mercado, e faz questão de manter esse intercâmbio com os investidores da Anjo: frequentemente, a organização realiza missões para Israel, em que os participantes podem trocar ideias e ter insights com grandes nomes globais de investimentos.
O que começou como um blog – e posteriormente um livro -, conseguiu unir 10 investidores para trocarem informações e criarem uma rede de apoio. 11 anos depois, já são mais de 500 investidores na rede da Anjos do Brasil, que é mantida por voluntários, patrocinadores, apoiadores, cursos, eventos e outras atividades contribuem para manutenção da organização. “Nos primeiros anos, nós realizamos 2 ou 3 investimentos por ano. Em 2021, batemos o recorde de mais de 30 aportes realizados.”
Cassio conta que o caminho para chegar até essas centenas de investidores foi longo. “Quando eu comecei, a primeira coisa que eu fiz foi pesquisar no Google sobre investimento-anjo, e não encontrei nenhum conteúdo em português, a não ser por uma notinha de rodapé de uma publicação”, diz. Por isso, educar o mercado é tão importante para ele.
Para ele, fomentar o ecossistema empreendedor com informações e troca de experiências é uma das partes mais importantes para o desenvolvimento e sucesso do setor. Além de fundador e Diretor-Presidente da Anjos, Cassio também assume o papel de Advisor em Inovação e Corporate Venture da Cyrela, é Líder do Comitê de Startups da ABES, Diretor Sênior da ACE Cortex e tem em seu currículo uma série de veículos de imprensa para o qual foi e é colunista. “Eu acredito que todos esses papéis estão interconectados, tudo o que eu faço é para ajudar a desenvolver esse mercado”, afirma. “O investimento é algo que eu faço por prazer e por propósito”.
Processos de aprendizado de Cassio Spina
Para Cassio Spina, uma das principais vantagens de realizar e receber investimento-anjo é o conhecimento que se leva junto com o aporte de capital. “A principal forma de aprendizado é a execução, mas é fundamental que o empreendedor aprenda também com a bagagem de quem já fez, já falhou e conhece o caminho. Se o empreendedor falhar, que seja em algum lugar onde ninguém ainda falhou”, diz.
E esse processo de levar conhecimento para o ecossistema empreendedor como um todo já rendeu a Cassio diversas premiações por sua atuação no ecossistema e algumas centenas de palestras realizadas. Mas, para ele, a principal recompensa por seu trabalho é outra: “o que mais me motiva é quando eu recebo um feedback de algum empreendedor que aprendeu algo comigo, quando eu ajudo a impactar o negócio de alguém. O maior legado que a gente pode deixar na vida é ajudar o outro.”
Atualmente, Cassio mantém 32 startups em seu portfólio, de um total de 44 empresas já investidas até hoje. Agnóstico setorialmente, ele investe em startups de educação, tecnologia, saúde e qualquer outro setor que tenha alguma afinidade e possa agregar de alguma forma, desde que sua única exigência seja cumprida: “o que eu olho, principalmente, é o perfil do empreendedor, qual inovação ele vai desenvolver e se aquilo tem potencial de aceleração”, conta.
Para ele, há algumas principais características que fazem com que um empreendedor chame a atenção: “o empreendedor tem que ter dedicação, cabeça aberta e, principalmente, ser apaixonado pela execução, nunca pela ideia que ele teve.”
Dicas de ouro
Para ter sucesso no investimento-anjo, ter capital para aportar não é, nem de longe, o suficiente. Em sua carreira, Cassio já passou por desafios, viu colegas falharem e hoje ele tem clareza de quais são os pontos mais importantes para que outros investidores tenham êxito em suas missões. São eles:
Estratégia: “A primeira coisa que um investidor tem que ter é estratégia de portfólio. Obviamente que investir em startup tem um risco elevado, mas é fundamental criar um portfólio ao longo do tempo. Se a pessoa chegar achando que de cara já vai investir em um unicórnio e investir só em 2 ou 3 empresas, é melhor não investir.”
Coinvestimento: “A segunda lição é investir com outros investidores, porque você vai aprender com eles, compartilhar informações, diluir seu risco e levar mais valor aos empreendedores, o que é essencial.
Mente aberta: “Em terceiro, ter a mente aberta. As melhores ideias, no começo, podem parecer horríveis. Muitas vezes a ideia, de cara, parece maluca, mas se você parar pra pensar aquilo tem um fundamento muito forte, desde que seja o empreendedor certo.”
Para quem busca investimento-anjo, Cassio também indica as melhores formas de ter sucesso:
Tenha um cofundador: “Ter mais de um empreendedor à frente de uma startup é extremamente importante, porque experiências e conhecimentos complementares tornam toda a jornada muito mais fácil e com mais probabilidade de sucesso”, afirma.
Execução é a chave: “Na hora de buscar investimento, principalmente, demonstre capacidade de execução. Mostre para o investidor o que você já fez e de que forma você poderá multiplicar aquele investimento que está buscando.”
Conheça a audiência: “ Um dos erros mais comuns dos empreendedores é fazer um pitch sem perguntar nada para o investidor. É importante você saber o grau de conhecimento daquela pessoa sobre o seu mercado, entender se ele é a pessoa ideal para agregar o que você precisa ao seu negócio. É preciso adequar seu pitch ao seu público”.
Mercado: por fim, o erro mais crucial que um empreendedor pode cometer na hora de apresentar um pitch é não conhecer o próprio mercado. “Se você não conhece quem são seus concorrentes diretos e indiretos e as particularidades do mercado em que você quer entrar, você está mostrando para o investidor que você é apaixonado pela sua ideia, não pela dor que você quer resolver, e isso nenhum investidor quer ver”, finaliza.