Claudia Rosa vem de uma família grande, animada e festiva, características que ela carrega consigo até hoje. “Sou a sexta filha de uma família de oito irmãos”, conta. Ainda na infância, ela perdeu o pai, o que fez com que a mãe, ela e os irmãos precisassem ser criativos para manter as contas em dia. Além da alegria herdada do pai, outros ensinamentos a acompanharam por toda a vida. “Sempre fui muito estudiosa, educada e tranquila. Também peguei esse lado sonhador do meu pai”, diz.
Aos 14, começou a trabalhar. Seu primeiro emprego foi no centro de São Paulo, em um escritório de advocacia. “Naquela época, eu já projetava pra mim algo diferente da realidade em que eu vivia”, comenta. Claudia se formou em Administração e, em 1997, tornou- se consultora de empresas na PwC, que mais tarde foi adquirida pela IBM, empresa em que ela trabalhou até 2012.
Essa experiência com gestão empresarial foi o divisor de águas para o que viria depois. “Trabalhar na IBM me trouxe muita base de tecnologia, porque é uma empresa de renome mundial em software e hardware. Nós fazíamos os projetos de consultoria para os clientes, mas sempre com uma visão de tecnologia”, conta. “A IBM sempre teve centros de inovação, de tecnologia, fóruns, palestras… Então eu tive muita oportunidade de conhecer conceitos como ferramentas e também ver a aplicabilidade disso em clientes.”
Trajetória de Claudia Rosa no mundo do empreendedorismo
Claudia é, antes de tudo, mãe: são duas meninas, uma de 18 anos e uma de 13. “Quando me tornei mãe, descobri que tudo o que eu achava que era a minha vida, não era absolutamente nada perto do que é ser mãe”. Foi esse sentimento, despertado pela maternidade, que fez com que Claudia deixasse sua carreira consolidada em uma das maiores multinacionais de tecnologia do mundo para transformar sua trajetória. “Eu queria criar algo meu e queria também, de alguma forma, mudar minha vida”.
Foi então que ela começou a empreender. Em 2012 Claudia montou seu próprio e-commerce, e sentiu na pele, pela primeira vez, os desafios do empreendedorismo. “Até então eu trabalhava em um prédio com mais 5 mil pessoas. De uma hora pra outra, me vi em uma sala praticamente sozinha. Empreender é muito solitário, especialmente quando você não tem outras pessoas com quem trocar ideias”, relembra. Em 2016, ela abriria outro negócio: uma proptech.
Foi quando começou a empreender que ela conheceu Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora e referência de mercado, que a convidou para ser embaixadora da RME. “A Ana é uma das minhas referências de jornada empreendedora e investidora. Ela sempre acreditou em mim e me colocou muito à vontade para colaborar como eu achasse melhor”, diz.
Então, Claudia passou a, também, vestir o chapéu de mentora de startups. Só nesse período, foram mais de 2 mil. “Eu comecei a ver que poderia agregar ainda mais aos empreendedores do que a negócios pontuais. Eu revisava estratégia de vendas, de operação e KPIs”. Dedicada a transformar esse cenário, as mentorias passaram a ser mais dinâmicas e com mais conteúdos técnicos para as startups.
Ao perceber o impacto que suas mentorias tinham nas startups, ela decidiu que era momento, então, de começar a aportar nestas empresas. “Eu preparava as startups para receber investimentos. 100% delas saíam das minhas mentorias com o pitch pronto”. Foi então que outra mulher referência de mercado entrou em seu caminho: Maria Rita Spina, atual membro do conselho da Anjos do Brasil, maior rede de investidores-anjo do país.
Transformando a realidade de mulheres no ecossistema
“Em reunião com a Maria Rita, percebi duas realidades: a primeira delas é que a atuação do investidor-anjo não é muito diferente do que eu já fazia com as startups, e a segunda é que não tinham muitas mulheres atuando. E é essa segunda realidade que eu queria mudar”. Claudia, ao começar a investir em startups, lá em 2016, comenta que se sentiu encantada com esse mercado e a forma como poderia transformar para melhor o negócio de alguém.
Para entrar em seu portfólio, o empreendedor deve apresentar um problema real, uma solução bem estruturada e ter fundadores apaixonados e envolvidos com o negócio. Para aprender cada vez mais sobre o mercado, Claudia Rosa foi se cercando de mulheres que fazer o empreendedorismo brasileiro acontecer: quando conheceu Luiza Trajano, foi convidada para participar do grupo Mulheres do Brasil.
“Ver a Luiza tão ativa, se doando tanto, foi uma revelação. Eu já tinha a referência da Ana e da Maria Rita, e depois eu tive uma ponta da Luiza Trajano, que é uma potência. Minha trajetória é uma somatória de outras mulheres que são referência, e alguns homens também”, afirma. Um de seus ídolos do mundo dos negócios – com quem ela sonha em ser mentorada um dia -, é Jorge Paulo Lemman, fundador do império que mais tarde se tornaria a AB InBev, a maior fabricante de cervejas do mundo.
Além da Anjos do Brasil e do grupo Mulheres do Brasil, Claudia Rosa também é parte da Bossanova Investimentos, venture capital mais ativa da América Latina, e do MIA (Mulheres Investidoras Anjo). Para ela, o papel do investidor-anjo é fundamental na trajetória de uma startup: “muitos empreendedores nunca trabalharam em uma grande empresa, então eles não têm essa expertise em estratégia de marketing e organizacional, por exemplo. Essa minha experiência tem muito a contribuir.”
O objetivo de Claudia é contribuir com todos os tipos de empreendedores, mas grande parte de sua luta é para transformar o cenário de mulheres empreendendo e investindo no Brasil. “Acredito muito no poder das mulheres, como empreendedoras e empresárias. Redes que não enxergarem lideranças femininas como fator de crescimento econômico e diferencial de gestão vão ter um problema”, diz. E isso não é apenas uma crença de Claudia: dados da consultoria McKinsey mostram que ter mais mulheres no mercado de trabalho, especialmente em cargos de liderança, pode gerar um aumento de até US$ 12 trilhões no PIB global até 2025. Um estudo do Banco Mundial mostra ainda que a produtividade de um país pode subir em até 25% apenas com a eliminação das desigualdades no emprego.
“Eu quero incentivar mulheres que possam contar comigo e com a minha rede, quero ser referência para elas, eu quero ver mais mulheres investidoras no mercado”, afirma. “Quero fazer com que as mulheres se sintam fortalecidas e representadas. Muitas delas não sabem que têm redes de apoio e de investimento específicas para mulheres negras, que empreendem com educação, impacto social… Mostrar esse horizonte para elas impacta toda a cadeia de valor do mercado.”
Para ajudar a diversificar e democratizar o acesso ao mundo do empreendedorismo e investimento, Claudia apresenta o programa Ela Investe, disponível semanalmente no YouTube e no canal Markket, do Grupo Box Brazil.
Claudia, que já investiu em mais de 150 startups, ainda tem muitos projetos em vista para serem realizados em um futuro próximo. Entre seus grandes sonhos, encurtar o caminho para mulheres no ecossistema empreendedor é, sem dúvida, um dos principais: “quero ser reconhecida como a mulher que transformou o mercado de venture capital no Brasil”.