Em 2019, os brasileiros fizeram quase 30 milhões de viagens. Um ano depois, todos foram pegos de surpresa com o isolamento social em consequência da pandemia e grande parte dos passeios foram cancelados. A Organização Mundial do Turismo (OMT) informou que o setor perdeu US$ 935 bilhões em receitas, o que representa 10 vezes mais o prejuízo registrado em 2009, quando o mundo sofria o impacto da crise econômica.
Dentro do segmento de prestação de serviços, o turismo foi um dos mais afetados pela pandemia, mas como foi para os empreendedores que vivenciaram essa experiência em suas empresas? Para entender as estratégias elaboradas pelo setor, o Startupi entrevistou Max Oliveira, CEO da MaxMilhas.
Segundo o cofundador, depois de um crescimento escalável e sem grandes problemas, a empresa avistou um sinal de alerta ainda em maio de 2019, quando a companhia aérea Avianca Brasil fez seu último voo e deixou o mercado nacional, mas antes já havia cancelado diversas viagens. Os clientes pediram cancelamento e reembolso de suas passagens e a primeira reação da MaxMilhas foi devolver o dinheiro para todos. Mal sabia a companhia que mais adiante um vírus afetaria de forma sem precedentes esse setor.
Antenado nas primeiras notícias sobre o coronavírus, que estava causando o fechamento dos estabelecimentos, Max pensou em antecipar os recebidos dos bancos e adquirentes para uma possível emergência. Em uma empresa B2C (Business-to-consumer), o comprador paga seu produto em parcelas no cartão de crédito e a companhia pode pedir na agência financeira para sacar esse dinheiro antes da data dos pagamentos.
“Com as informações sobre o Covid-19, pensei em retirar o dinheiro do caixa por precaução, mas no dia seguinte, quando fui botar em prática, o Brasil parou e os bancos e adquirentes congelaram os pagamentos. O nosso dinheiro acabou de um dia para o outro, estávamos recebendo só cancelamento e parou de entrar venda”, explica Max, que reflete sobre os aprendizados após a crise da Avianca.
O empreendedor percebeu que não seria possível reembolsar todos, uma vez que não teria dinheiro suficiente. Com sorte, uma semana depois o governo liberou uma medida que permitia que as empresas de turismo pagassem os reembolsos 12 meses depois, com cobrança de juros, ou desse crédito para o cliente usar sua passagem nos próximos 18 meses.
“Isso deu fôlego para o turismo, mas foi muito difícil porque continuamos sem dinheiro. Tive uma semana para tomar todas essas decisões, tinha um pouquinho no caixa e saí negociando com o escritório, com a Amazon, com todo mundo que você imaginar, mas infelizmente teve que chegar em funcionários”, comenta ele, triste, sobre o desligamento de 167 colaboradores – 40% do time. Para contribuir com a MaxMilhas, alguns até receberam o FGTS em parcelas e o restante dos profissionais tiveram redução de 25% a 50% do salário.
MaxMilhas e as estratégias de bootstrapping
A MaxMilhas foi lançada em 2012, com o investimento de R$ 28 mil de Max Oliveira. Quase 10 anos depois, a startup continua em “bootstrapping”, o que significa que ela se mantém sem receber aportes externos. Esse histórico também permitiu que a companhia soubesse agir em um momento de dificuldade financeira. “As nossas vendas caíram 90% e nós não tínhamos a mesma quantidade de colaboradores para tocar os projetos, mas por ser uma bootstrapping, sempre fomos muito eficientes quando o assunto é corte de gastos. Em setembro, depois de 6 meses, chegamos no nosso break even e paramos de gerar novos prejuízos”, conta Max.
O empreendedor conta que no primeiro ano de pandemia, as estratégias da MaxMilhas eram voltadas para a sobrevivência. Já em 2021, foi possível começar a investir e voltar com as recontratações, mesmo não dando lucro. Foram cerca de 269 pessoas contratadas durante o ano, superando em 43,8% o número de colaboradores contratados em 2019.
“Contratamos muitas pessoas para o setor operacional, porque tinham muitos reembolsos para serem processados, créditos para serem utilizados e dúvidas dos clientes. Contratar para resolver cancelamento da pandemia não gerou receita, mas era necessário”.
Em maio de 2021, a MaxMilhas fez sua primeira aquisição, a compra da Lance Hotéis, startup que oferece a possibilidade de reservar hospedagem em resorts e hotéis com negociação de preço, com o objetivo de se tornar uma plataforma que otimiza a busca de clientes interessados em viajar. Outra estratégia, para continuar vendendo mesmo com as restrições da pandemia, foi criar o “Max Experiências”, pacotes onde os clientes podiam escolher a data para viajar.
Próximos passos pós pandemia
“Em 2022, vamos consolidar os dados da pandemia e acredito que seremos a única empresa de turismo a passar sem prejuízos, porque o nosso caixa não foi afetado. Por exemplo, com aquele tanto de passagens canceladas, nós recebemos as milhas de volta e eu tinha duas opções, ou pedir o dinheiro de volta para o vendedor ou revendê-las. O bom é que o vendedor já está pago, então o dinheiro só vai entrar, vamos sair da pandemia no zero a zero”, explica Max que afirma que as vendas atualmente já superaram a média mensal de 2019, pré-pandemia.
Pós-pandemia, o CEO acredita que o setor de turismo ainda tem muito a explorar e evoluir na tecnologia, principalmente para facilitar o acesso a passagens aéreas, pacotes de viagens e hospedagens, com valores mais acessíveis.
“Hoje as pessoas pesquisam por muito tempo passagens aéreas, é um processo silencioso e doloroso. Estamos fazendo um produto que não é preciso pesquisar passagem, eu entendo seus interesses e consigo fazer esse processo para você de forma mais rápida, fluída e até divertida. Isso é uma grande revolução, isso vai mudar o setor de turismo que tem muito para evoluir”, complementa fundador da MaxMilhas.