Por Bruna Galati
No ano passado, R$ 68 milhões foram investidor por anjos em startups brasileiras, de acordo com uma pesquisa da Anjos do Brasil. O que deixou o setor aquecido e com expectativa de que os investimentos em 2023 cresçam e cheguem aos R$ 85 milhões.
Entretanto, comparado a outros países, o Brasil ainda está engatinhando neste tipo de investimento. Ainda de acordo com a pesquisa, existem 7.834 investidores-anjo no país e, desse total, 16% são mulheres. Esse dado mostra a necessidade de expandir os olhares para esse tipo de investimento, principalmente em relação ao público feminino.
Para analisar esse cenário, o Startupi entrevistou Carol Gilberti, CEO da Mubius Womentech Venture, que ressaltou a importância dos investidores-anjo para a sustentabilidade e desenvolvimento das startups no Brasil.
“Não adianta só fomentarmos o ecossistema e fundarmos startups, se não tivermos os investidores-anjo que fazem com que a startup fique de pé e injetam dinheiro quando elas mais precisam. Meu propósito é alavancar e estruturar negócios liderados por mulheres, mas também conscientizar as pessoas normais, CNPJs a serem investidoras. É. a democratização do acesso a esse tipo de investimento”, afirma.
Muitas pessoas ainda acreditam erroneamente que é preciso ser bilionário para investir em uma startup, porém, atualmente, é possível aportar valores mais acessíveis, como R$ 1 mil, em empreendimentos em estágio inicial. Esses pequenos investimentos têm o potencial de contribuir significativamente para o crescimento desses negócios.
Por exemplo, uma pessoa física pode aportar no portfólio da Mubius Womentech Venture e estará fomentando 30 startups lideradas por mulheres e com soluções voltadas para o público feminino. “Lá na frente, daqui a cinco, seis, sete anos, esse negócio pode trazer um grande retorno financeiro. E a startup não precisa se tornar um unicórnio para dizer que teve resultados positivos, dar certo é ter clientes, emitir nota, ter uma fatia do mercado. Vamos ser zebras ou camelos, vamos entender o que é real e botar o pé no chão”.
Questionada como ela convenceria alguém a se tornar investidor-anjo, Carol Gilberti disse que iniciaria o discurso falando que o investimento-anjo é diferente de investimentos tradicionais em ações e bolsa de valores.
Para ela, essa modalidade de investimento é uma relação pessoal e intima, onde o investidor conhece a fundo o propósito do fundador daquela startup. Ao contrário da bolsa de valores, onde os investidores muitas vezes desconhecem os detalhes dos empreendimentos. O investimento-anjo permite uma conexão direta com o empreendedor e seu projeto, possibilitando a contribuição financeira e o acesso a rede de contatos – famoso smart money do anjo.
Carol explica que o investidor-anjo busca mais do que um retorno financeiro, busca deixar um legado, ser parte de uma transformação no mundo e apoiar o desenvolvimento de negócios com propósitos sólidos.
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Trajetória de Carol Gilberti
Desde pequena, Carol tinha um forte vínculo com a tecnologia. Aos oito anos, enquanto morava nos Estados Unidos, recebeu seu primeiro computador, que a encantou com jogos como Tetris e outras famosas opções da época. No entanto, sua verdadeira paixão sempre esteve na comunicação e em áreas ligadas à arte, como dança e teatro.
Carol Gilberti se formou em jornalismo com um sonho claro: contar histórias por meio da informação. Sua inquietação a levou a conquistar esse objetivo de maneiras diversas. Antes de chegar lá, trilhou um caminho por diferentes setores do jornalismo, incluindo experiências em TV, assessoria de imprensa, hard news e jornalismo corporativo. Ela percebeu, contudo, que ser CLT não estava alinhado com suas aspirações.
Seu primeiro emprego em São Paulo, em uma empresa do mundo corporativo, a fez questionar o ambiente tradicional de trabalho, com horários fixos e longas jornadas em um escritório. Essa vontade de uma rotina mais livre a levou a trilhar um caminho próprio, impulsionado por sua vasta experiência de trabalho desde os 16 anos, quando morava nos Estados Unidos.
Por ser fluente em língua inglesa, começou a dar aula de inglês, o que lhe proporcionou a liberdade que buscava. Mas depois de anos atuando como professora, percebeu que tinha deixado de lado seu objetivo de mudar o mundo através de histórias. Quando seu filho completou 2 anos, Carol sentiu a necessidade de fundar um negócio próprio. Foi em 2013 que teve a oportunidade de trazer uma empresa do Rio de Janeiro para Belo Horizonte, onde morava.
A empresa se chamava “Vem para o piquenique” – e hoje é conhecida como “Vai Ter Festa” – e tinha como pilar a sustentabilidade e vendia decorações de festas feitas com materiais recicláveis, além de trazer um intuito de utilizar os espaços públicos da cidade para fazer festas. “O Rio de Janeiro já é uma cidade com uma cultura muito forte ligada ao ar livre, tudo é feito fora de casa e Belo Horizonte não tinha essa cultura, muito menos de fazer festa de aniversário fora de buffet. Quando eu trouxe essa ideia para BH, já estava fazendo o que faço hoje, que é romper com certas barreiras culturais e trazer uma certa inovação para o mercado”, compartilha Carol Gilberti.
“Eu já estava atuando com inovação. Porque trabalhar com inovação é trabalhar com mudança de comportamento, mudança de conceitos. A inovação nem sempre é atrelada a tecnologia. As pessoas hoje têm essa mania de achar que inovação é sempre alinhada à tecnologia e a inovação é muito mais simples do que isso, é uma questão de mudança de comportamento, mudança de cultura, equidade e diversidade.”
Surgimento do Mulheres Elétricas
Em 2015, a empresa Vai Ter Festa ganhou destaque em Belo Horizonte, tornando-se uma verdadeira sensação entre os canais de notícias. A história de Carol Gilberti, uma mãe de dois filhos prestes a completar quarenta anos, que apostou em uma nova tendência para o mercado, capturou a atenção de muitos. Nesse momento, a empreendedora começou a se questionar: onde estavam as outras mulheres empreendedoras?
Impulsionada por essa inquietação, ela reuniu-se com sete outras mulheres para fundar o grupo Mulheres Elétricas. O coletivo produziu uma série de conteúdos no YouTube, abordando temas como empreendedorismo feminino, maternidade e a atuação no mercado, sexo pós-casamento, desafios maternos, entre outros assuntos relevantes. O sucesso foi tanto que o programa logo ganhou espaço na rádio Band News FM de Belo Horizonte, e Carol estava de volta à atuação jornalística, entrevistando convidadas inspiradoras.
“O caminho do empreendedorismo não é fácil. Passamos por muitas derrotas, perdas de sócias e muitas quedas, é um caminho que percorre muita frustração e vontade de desistir, mas também temos vitórias que nos mantêm aqui. Eu precisava me reinventar. Então fui em busca de ajuda e de conexões, para aprender e fazer o networking”, comenta.
Em 2019, o Mulheres Elétricas promoveu um evento em parceria com o Cubo sobre mulheres no mundo da tecnologia, chamado “Dois lados da mesa”, com o objetivo de debater o empreendedorismo feminino com mulheres que já tinham recebido aporte e mulheres que eram investidoras.
“Foi aí que coloquei oficialmente meu pé no ecossistema e comecei a entender que por mais que eu estava ali fomentando esse debate, tinham poucas mulheres nesse papel e como eu poderia contribuir para esse aumento? Em 2020, entrei para o cargo de Gerente de Inovação na Aleve, uma das verticais da FCJ. Foram cinco meses até surgir a oportunidade de criar e comandar o departamento de comunicação do próprio grupo da venture builder, queria que todos conhecessem a FCJ.”
Dois anos depois, em 2022, aconteceu o lançamento da Mubius Womentech Venture, que apoia startups protagonizadas por mulheres e que trazem soluções para fortalecer os valores femininos, sem excluir profissionais homens. Hoje, já são seis startups no portfólio e 26 pessoas físicas investindo. Além disso, Carol Gilberti investe como pessoa física na FCJ Venture Builder, Aleve Legaltech Ventures e por conta própria, e seus aportes são principalmente voltados para startups de ESG.
“Estou na ponta da empreendedora, na ponta da executiva, na ponta da sócia, na ponta da investidora, na ponta da esposa e mãe. Assumi muitos papéis durante a minha jornada no mercado e com meu conhecimento posso contribuir para o fomento de outras startups, esse é o papel do investidor-anjo”, completa.
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