Em termos de inovação e tecnologia, o Ceará é uma inegável potência brasileira. O estado é o maior do nordeste em número de startups, com mais de 400, que captaram mais de R$ 2 bilhões em investimentos só em 2022.
Na edição deste ano do Startup Awards, premiação concedida pela Associação Brasileira de Startups e considerada uma das mais importantes do setor para o Brasil, o Ceará novamente está sob os holofotes: há representantes do estado concorrendo em todas as 15 categorias da premiação.
Mas não é a primeira vez que o Ceará é destaque na premiação. Em 2021, Camila Forte foi eleita a Heroína do Ano. Camila é Consultora Técnica do SENAI e professora universitária, e dedica grande parte de sua carreira profissional a fomentar o ecossistema empreendedor do país, especialmente de seu estado. “Antes de tudo, sou cearense”, afirma ela, com muito orgulho.
Nascida na capital do estado, Camila foi criada em Caucaia, região metropolitana de Fortaleza, cidade em que vive até hoje. “Aqui é tudo arborizado, tem casas com grandes quintais, é fora da curva de quem se aproxima desse ecossistema de tecnologia e inovação. Eu nunca quis sair dessa cidade”, conta.
E, assim como a cidade, Camila também foi uma criança fora da curva. “Sempre fui muito peculiar, muito curiosa. Por um tempo, achei até que fosse ser jornalista, porque costumava falar pelos cotovelos. Foi na faculdade que eu entendi o que era empreendedorismo, de fato, mas na verdade eu sempre empreendi.”
De uma família de empreendedores tradicionais, ela começou aos 7 anos a empreender: “como meus pais eram donos de um mercadinho, eu pegava as caixas de chicletes da Xuxa e da Angélica, recortava as imagens da caixa e vendia na escola como adesivos”, conta. A criatividade para os negócios é algo que transformou a vida de Camila e, consequentemente, de seus mentorados.
Transformando o Ceará, mentoria por mentoria
Durante seu estágio na Federação das Indústrias do Estado do Ceará, Camila começou a ter contato próximo com empreendedores e entender suas dores. Com oito meses de estágio, foi contratada pelo Instituto Senai de Tecnologia e lá, a partir de sua insistência e interesse pelo mercado, passou a apoiar a área de projetos. “Eu nunca tive vergonha de pedir as coisas. Era uma área que eu queria trabalhar, então eu fui falar com o meu chefe. A gente sempre tem que ‘meter as caras’ para conseguir o que quer. E quanto mais eu conhecia os empreendedores, mais eu me apaixonava”, diz.
Encantada pelo poder de inovação dos empreendedores que conhecia, Camila foi se interessando por eventos da comunidade. Em 2015 participou de seu primeiro Startup Weekend, ainda como staff. A partir dali, tornou- se organizadora do evento. “Isso foi um divisor de águas para eu me aproximar do ecossistema. Eu já fazia parte dele, mas muito mais na minha carreira acadêmica. Foi ali que tudo transformou”, conta.
Camila, que é formada em Administração pela Faculdade do Nordeste, em Caucaia, conta que seu reconhecimento como liderança dentro do ecossistema aconteceu de forma totalmente orgânica. “Quando vi, estava organizando uma série de eventos e ações para apoiar os empreendedores da região, mas sempre trabalhando no Senai. Quando os empreendedores me procuravam, eu sempre fazia de tudo para ajudá-los a tirar as ideias do papel e fazer pontes entre eles e players também fora do Ceará, expandindo as barreiras territoriais deles”, diz.
Durante o bate-papo com o Startupi, Camila relembra a primeira vez em que participou do CASE e cita nomes do ecossistema que serviram de inspiração para o trabalho que estava começando a fazer naquela época. “Eu não tinha dinheiro para ir para o evento, aí eu descobri que a ABStartups selecionava helpers para o evento. Eu fui selecionada e, lá, conheci muitas pessoas importantes para esse mercado, como o João Kepler. Lembro de ter assistido a premiação do Startup Awards sentada no chão e ver a Dani Junco (fundadora da B2Mamy) fazer um discurso emocionante no palco, quando ganhou o prêmio dela. Eu nunca imaginei que quatro anos depois seria eu subindo ali”, relembra.
“Eu não tinha dimensão do impacto do trabalho que eu fazia no ecossistema nacional”, comenta. Para ela, todo o trabalho que faz vem de sua profunda crença no conceito de giveback, isto é, devolver ao ecossistema todas as oportunidades que lhe foram dadas.
Planos para o futuro
Embora dedique grande parte de sua trajetória profissional a empreendedores, os planos de Camila de empreender ficarão, pelo menos por enquanto, no campo das ideias. “Eu ainda não posso me aventurar nisso, porque é uma jornada muito árdua, e eu divido meu tempo entre o Senai e as faculdades, com meus alunos”. Atualmente, ela dá aulas de Empreendedorismo e Inovação e Gestão de Startups na Universidade de Fortaleza.
Apenas em 2020, Camila mentorou mais de 1.000 negócios. Em toda sua trajetória como líder de comunidade, mais de 100 eventos foram organizados por ela, fora as outras dezenas de workshops facilitados e lives realizadas no lugar de palestras, durante a pandemia.
Entre seus sonhos, estão conhecer o Vale do Silício e transformar a vida de seus pais. O maior deles, entretanto, está prestes a se realizar: “transformar o Ceará em um grande centro de negócios. Quando as pessoas pensarem em empreendorismo, pensarem no Ceará como uma das maiores referências nacionais.”