Eu escrevi este artigo em inglês logo depois que o último episódio da série foi exibida na TV, em Outubro de 2013. Como já passaram alguns meses imagino que todos já tenham tido a oportunidade de assistir tudo. Para mim esta foi uma das melhores séries de TV das últimas décadas. Chega perto do “The Sopranos”.
Não vou revisar cada detalhe da série já que existem muitos blogs fazendo isso com mais competência do que eu faria. Vou assumir que você já assistiu a série e vou contar partes do final, então vá assistir antes de continuar lendo.
As pessoas amam a série, elas torcem pelo Heisenberg mesmo sabendo que ele comete vários crimes. Pessoalmente, acho que não tem nada a ver com as ações, literalmente, mas sobre a história que o autor está contando.
Esta é a história de uma startup de muito, muito sucesso, literalmente a história da “startup de garagem”, mas nesse caso num van. Walter e Jesse começam com uma ideia, alguns trocados e muito esforço e trabalho, cozinhando metanfetamina no meio do deserto. Mas eles tem uma característica de grandes empreendedores: mesmo com pouco dinheiro, sem recursos, Walt não abre mão da qualidade do produto. Jesse é a metáfora do empreendedor amador, que largou a faculdade, tentando acertar na loteria sem experiência, sem pensar adiante.
Para mim toda a ideia de Breaking Bad é sobre empreendedorismo. Walt não é somente um experiente professor de química, com conhecimento e talento reais; ele também é um grande homem de negócios. Ele provou isso muitas vezes. Um exemplo é entender que para pontuar alto, somente crescer organicamente do jeito do Jesse de distribuição nas ruas, não é suficiente.
Aí entra Gus Fring, Los Pollos Hermanos, e a explosão em canais de distribuição. É assim que se escala um negócio. Gus é o “Investidor Anjo” do Walt. E não fica mais fácil depois de conseguir o investimento, fica muito mais difícil. Jesse se cansa rápido de trabalhar tanto no laboratório, como todo jovem idealista que não entende trabalho pesado de verdade. Mas Walt está focado em pontuar alto, a qualquer custo.
E o show mostra como negociar com parceiros que você particularmente não gosta ou confia. E você está jogando um jogo exigente. Uma vez que tem a oportunidade, não precisa fazer todo o trabalho sujo com as próprias mãos: faça cachorro grande comer cachorro grande, jogue o Cartel contra o Gus. E se tudo der errado, você sempre pode explodir a enfermaria.
No processo o que vemos é o crescimento do Jesse. Walt foi um grande mentor e suas aventuras o tornaram mais forte. O final é também sobre Jesse entender o que ele realmente é e possivelmente se tornar melhor – em termos de autoconhecimento. Agora ele estará preparado para se comprometer, sacrificar, em vez de ser somente um idealista. No mundo real temos que nos comprometer, temos que fazer sacrifícios, haverá danos colaterais, não dá para fazer uma omelete sem quebrar alguns ovos. Nada que vale a pena é fácil e o processo nunca será bonito.
E o final é fantástico porque finalmente Walt admite: quando você está empreendendo, nunca deve fazer isso por outros. Nunca deve ser por sua família, por seus amigos, pelo bem da humanidade. Deve ser para você e apenas para você sozinho. Se não estiver fazendo por você, está errado. Esse é o conceito mais básico de empreendedorismo. Beneficiar (ou prejudicar) os outros é sempre um efeito colateral das ações feitas com intuito único de benefício próprio. A menos que esteja fazendo para você, se as coisas dão errado você sempre vai usar os outros como a saída fácil, a desculpa. “Deu errado, mas eu fiz com boas intenções.” Boas intenções não tem nenhuma importância, resultados importam. Se fizer tudo por você mesmo, será sempre sua única responsabilidade. Sem desculpas.
E ter sucesso não se resume a glória e fama. Como Breaking Bad mostra, quando seu negócio crescer, a concorrência se torna mais agressiva, ataques se tornam mais violentos, e todos querem seu pedaço da pizza. Só depende de você para defender seu próprio território. E muitas vezes você não pode se defender sozinho. Algumas vezes precisa de bons mercenários e sempre um bom advogado, como Mike Ehrmantraut e Saul Goodman, para cobrir seus passos. Você precisa de parceiros de sangue frio para realizar os negócios que você não pode fazer o tempo todo.
Marie representa o que há de pior, mais podre e mais degradante no mundo: a medíocre normalidade. Pessoas tão entrelaçadas no status quo, tão tediosas quanto a sua própria existência, que tem inveja mortal das pessoas que não seguem sua minúscula e insignificante versão de “verdade”, o caminho de “ser normal”. Pessoas cheias de preconceitos, tão cheias de si mesmas que elas vão julgar tudo e todos o tempo todo. Você deve se manter o mais longe possível desse tipo podre.
Skyler era o mesmo que a Marie, mas estando tão perto do Walt ela luta contra si mesma, ela sofre para sair da caixa, para se acostumar a se arriscar, para pensar de formas diferentes. Ela passa por todas as fase comuns de transição: negação, raiva, negociação, depressão, aceitação. No final vemos que ela finalmente entendeu.
Walt não era o vilão, ele era um homem fazendo o que sabia fazer de melhor. Alguém que valorizava tanto o que fazia que jamais deixaria qualquer coisa ou qualquer um de pará-lo. E isso é “garra”, uma coisa que qualquer um que queira ser um empreendedor precisa ter, nesse mesmo nível. Alcançar objetivos não importa o que tenha que ser feito.
Walt é o melhor exemplo de empreendedor, é realmente como Tony Soprano. A Máfia é o melhor MBA.