Em 2010, Daniel Alves iniciou o curso de Design de Interiores na Belas Artes. Esse era o passo que faltava para que ele, que já empreendia desde os 13 anos, encontrasse no design de interiores a sua forma de transformar o mundo. Ao encontrar sua sócia – e parceira de missão – deu início à trajetória do Arquiteto de Bolso.
“Sou apaixonado por inovação”, define-se. Ele começou, ainda menor de idade, empreendendo no mercado de alta coquetelaria, junto com um amigo. Como não podia manipular as bebidas alcoólicas, Daniel ajudava a empresa comercialmente. E o negócio deu certo. Além de se tornar uma empresa referência no setor, a Class | Alta Coquetelaria deu a Daniel a expertise necessária para os desafios que viriam no futuro.
Aos 16, Daniel estudou o curso técnico de Design de Interiores na ETEC Getúlio Vargas. “Ali um mundo se abriu pra mim, encontrei algo que eu não fazia ideia de que existia. O design é muito além de uma questão estética”, diz. “A gente passa 90% do nosso tempo de vida entre quatro paredes. Esses ambientes nos influenciam de alguma forma.”
Entendendo de forma mais profunda a relação entre indivíduo e espaço, Daniel Alves encontrou uma profissional que compartilhava com ele a mesma missão. É Marcia Milanez Monteiro – dona do escritório em que estagiava -, e assim criaram a Upik, uma startup cujo objetivo é democratizar o acesso a serviços de design de interiores. Para ambos, design de interiores não é só beleza: é bem-estar e está atrelado diretamente ao humor e emoção de cada morador daquela casa. E essa transformação na qualidade de vida por meio do ambiente deve estar acessível a todos.
O mercado de arquitetura e construção civil no Brasil é gigante. O mercado tem receita bruta anual de mais de R$ 345 bilhões e já são mais de 106 mil arquitetos e urbanistas no País. Embora esse número tenha crescido nos últimos anos, menos de 15% dos brasileiros que realizam obras e reformas o fazem com ajuda profissional. “Não ter acompanhamento profissional é ruim para o indivíduo que vai conviver naquele espaço, mas a realidade é que nem todo mundo têm acesso a esse serviço”, diz Daniel.
“Decor truck”
Focada no objetivo de democratizar o acesso a bons profissionais do setor, Márcia teve uma ideia que mudaria tudo: “e se montássemos um decor trailer?”. Em 2016, nasceu a Upik. Inspirada em foodtrucks, a startup funcionava dentro de um trailer Turiscar 1978, devidamente reformado e transformado em um escritório ambulante. A ideia era que o “decor trailer” ficasse uma semana em cada bairro, oferecendo consultorias por hora a preços acessíveis. Na época, os valores variavam entre R$ 300 e R$ 600. O que hoje é muito acima do preço mínimo cobrado pela startup, na época era um dos menores do mercado.
“Nessa época muita gente contratou nossos serviços. Muita gente, que nunca pensou poder pagar por um serviço desses, estava diante de especialistas, conversando por horas e compartilhando dores, medos e receios de uma obra. A gente estava dando voz para quem não se sentia ouvido e tinha esse tipo de serviço, tão necessário, como algo muito longe da realidade”, conta Daniel.
Embora a intenção fosse nobre, ainda estava muito longe do que os fundadores almejavam. Para democratizar o acesso a esses serviços, de fato, era preciso escalar tecnologicamente, “produtizando” a solução e entregando valor. “A gente não queria estar disponível em determinada região, mas em todos os lugares, independente de barreira.”
Conectando pontas
Enquanto uma parcela muito pequena de obras e reformas são feitas com supervisão de profissionais, mais da metade dos arquitetos no Brasil tinham uma remuneração inferior a R$ 4.500 na época em que a Upik foi criada. E os sócios entenderam que, para escalar a solução, precisavam conectar clientes a essa ampla gama de especialistas.
Foi quando Daniel e Marcia buscaram programas de aceleração. Passaram pelo SP Stars, Labs e procuraram empresas que estavam fomentando o ecossistema, até que chegaram à ACE, hoje um dos maiores hubs de fomento à inovação do país. “Dentro do ambiente de inovação, aproveitamos o momento para interpretar as necessidades do consumidor e refazer tudo”, diz Daniel. Eles se livraram das amarras – e do trailer. “Viramos uma ponte para ouvir desejos e anseios dos consumidores e traduzir em uma solução que faz sentido para o mercado.”
Como bons empreendedores, os sócios começaram a primeira versão da plataforma com foco em resultados, não em tecnologia. “Nosso MVP mais parecia um monstro do Frankenstein feito de formulários e integrações”, lembra Daniel. Do lado de fora das lojas de decoração, eles conversavam com clientes e entendiam as dores que os levavam até as lojas: a maioria das pessoas buscava por inspirações, tinha dúvidas técnicas sobre produtos e entendia, pelo mostruário das lojas, o que combinava.
Na época, os leiautes dos espaços apresentados pelos clientes ainda era 2D, o que fazia com que os clientes – leigos em arquitetura e design – não tivessem uma exata visualização de como ficaria o espaço depois de pronto. Com uma visão de onde queriam chegar e o apoio de especialistas em inovação, a Upik finalmente desenvolveu sua plataforma. Aí nasceu o Arquiteto de Bolso.
Arquiteto de Bolso: unindo psicologia e design
Para um design de interiores de uma casa, beleza não é suficiente. Além de gosto ser pessoal e subjetivo, cada cômodo tem que estar de acordo com a função que ele exercerá para aquela pessoa – ou família. Assim, O Arquiteto de Bolso se inspirou no psicodrama pedagógico, baseado num processo de sensibilização criado por Lys Assuncao na década de 70, que utilizava atividades integradas em grupos, para permitir o conhecer os desejos daqueles indivíduos além das palavras. Nesse caso, transmitir os sentimentos que os clientes têm – ou querem ter, ao adentrar seu lar.
“Desenhamos uma metodologia em que o bate-papo com o cliente conduziria pro checklist, definição de produtos, quantidade e preços, e tudo isso acomodado e abraçado numa dinâmica que navega entre a psicologia e o design de interiores”, explica Daniel. E toda essa consultoria “humanizada” pode ser até gratuita, graças às parcerias que o Arquiteto de Bolso tem.
O Arquiteto de Bolso, plataforma da Upik que conecta arquitetos e designers de interiores com clientes de forma 100% online, já transformou mais de 32 mil ambientes. São centenas de arquitetos cadastrados na plataforma, atendendo em 12 países. Funciona assim: na plataforma, o cliente seleciona a quantidade de ambientes que quer projetar e agenda uma consultoria online de até duas horas com um especialista. De lá, a pessoa sai com uma planta 2D humanizada do ambiente, perspectivas em 3D e a lista de produtos necessários para colocar o planejamento em prática.
Democratizando o acesso a esse mercado, o Arquiteto de Bolso já foi eleito pela Associação Brasileira de Design de Interiores o maior player do mercado. Já foi reconhecida por premiações do Sebrae, Leroy Merlin e Associação Objeto Brasil. “O grande sonho da Upik é que as pessoas possam reformar e decorar ambientes que habitem e tragam à tona a sua melhor versão”, diz o fundador.
Até agora, a Arquiteto de Bolso já captou R$ 150 mil pela ACE e R$ 615 mil de outros investidores, como Bossanova Investimentos, Primo Rico e GV Angels. O que começou com um sonho, hoje já tem cerca de 30 colaboradores e mais de 100 arquitetos cadastrados para atender os clientes da plataforma. Para o futuro, os objetivos são ambiciosos: “Nascemos pra Cuidar da Jornada do Morar. Apoiar as pessoas em todos os momentos de sua vida”, finaliza Daniel.