É comum estrangeiros, críticos e entendidos em geral reclamarem de clones e cópias no Brasil, empresas que pegam um modelo comprovado no exterior e executam aqui. O argumento é claro, pois isso não se trata de inovação, de validar um modelo, identificar um comportamento mal atendido e atendê-lo. Como no caso dos cupons de ofertas diárias no Brasil: diversos países já utilizavam, já estavam na onda do groupon, mas os brasileiros não eram nem acostumados a comprar cupons nem a ter ofertas diárias de descontos.
Isso poderia nos deixar dizer que as startups brasileiras de compras coletivas eram clones, mas s atentarmos para o fato de que tiveram de evangelizar um hábito de consumo, então talvez elas tenham inovado sim, trazido inovação, mudado a forma como consumimos, como movimentamos o mercado (independentemente de outras empresas terem feito isso em mercados que já conheciam cupons e ofertas diárias). Por outro lado, já ouvi fundador de startup famosa dizer que teve que fazer a empresa parecer menos inovadora para conseguir entrar no mercado, e só depois se diferenciar.
Conversando com algumas pessoas que também participaram do TC Disrupt em Nova York, pude notar como o acabamento de um produto não é suficiente para uma startup. Investidores – que poderiam ajudar a empresa a alcançar outros patamares – e até clientes podem acabar entendendo mal o posicionamento dos negócios de empreendedores capazes e bem intencionadas, que tenham construído um produto muito interessante. Eu mesmo deixei de ver várias coisas simplesmente porque o posicionamento não interessava – talvez tenha perdido de entrevistar o próximo Zuckerberg, Jobs, Gates. Da mesma forma que investidores deixam escapar investimentos em empresas que acabam dando muito certo.
Um exemplo de startup que às vezes chega a passar por questões deste tipo é a Peela, que faz negociações com fornecedores de entretenimento (atividades ou ítens) e vende cartões pré-pagos. Boa Compra, Trip, Michel Teló, Galinha Pintadinha, City Tour São Paulo e Cursos 24 Horas são algumas das marcas que aderiram ao modelo. É fácil de entender um cartão pré-pago, especialmente por ser usado como cartão-presente (gift card). No Brasil, diversos varejistas tem, além de seus braços de financiamento, seus cartões pré-pagos – é um modelo que funciona por aqui e, considerando duas rodadas de investimento feitas pela Trindade, vem dando certo.
Conversei com o co-fundador Guilherme Coelho para entender um pouco mais sobre como uma inovação significa uma coisa em um determinado contexto, e pode significar outra coisa em outro contexto. “Aqui em Nova York, e antes lá em San Francisco, muitas pessoas acharam o modelo pouco atraente, mas porque tinham em vista um mercado diferente, o norte-americano, que não é igual ao mercado brasileiro. Então tenho que explicar que no nosso mercado é uma oportunidade importante porque apenas 30% da população é bancarizada”, comentou ele, que já obteve sucesso com seus empreendimentos prévios, a ZeroUm Digital e a Aprex (sem contar que já foi apresentador-vendedor da Shop Tour na TV).
Assista à conversa no vídeo par entender como lidar com estas questões de posicionamento. E você, na sua startup? Vem encarando este tipo de questão? Compartilhe sua história!