* Por Tatiana Pimenta
Há pouco mais de um ano a OMS declarou que estávamos diante de uma pandemia do novo coronavírus. Naquele momento, início de março de 2020, o pânico e a incerteza tomaram conta.
Como CEO de uma startup, me vi diante da necessidade inicial de elaborar planos de contingência. Nos primeiros dias era praticamente impossível entender a magnitude do impacto ou como os mercados reagiriam à crise sanitária que chegava.
Em menos de um mês ficou claro que o setor de saúde, em especial o de cuidados com a saúde mental, iria experimentar um crescimento exponencial de demanda.
Como empreendedora, enfrentei o desafio de preparar o time e a empresa para a turbulência iminente. Embora não pudéssemos prever a escala do sofrimento ou até que ponto a pandemia exporia as desigualdades sociais, pudemos ver desde o início como ela estava impactando os negócios de um forma geral.
Junto com nosso board desafiamos premissas, analisamos com cautela as prioridades e optamos por seguir uma execução focada em atender o mercado corporativo em seus projetos de saúde mental. O resultado foi um crescimento de 5x frente a 2019. O espírito empreendedor, a flexibilidade e a resiliência foram testados ao extremo.
Nenhum CEO ou empresa estava preparada para reagir a uma pandemia. Trata-se de um evento inesperado que afetou a todos, sem exceção. Lembro dos inúmeros exemplos de Carlos Domingos em oportunidades disfarçadas, livro que recomendo a leitura. A Covid é devastadora, dolorida, afeta a todos, em maior ou menor grau, mas o que será que podemos fazer diante deste cenário? Que aprendizado podemos colher para participar da construção de dias melhores? Que oportunidades ainda se encontram disfarçadas?
O coronavírus acelerou a transformação de muitas indústrias, antecipou a regulação de setores que talvez levassem anos para mudar. Um belo exemplo é a regulamentação do atendimento remoto para serviços de medicina, nutrição, fisioterapia e muitos outros que há anos brigavam com conselhos de classe. E bastou a pandemia chegar para todos entenderem que o online funcionava e muito bem. Essa mudança de comportamento provavelmente levaria anos ou décadas para ocorrer.
Mas o que nós, empreendedores, podemos fazer daqui para frente? Foi refletindo sobre isso que elenquei alguns pontos para termos em mente. Vem comigo!
Não se esqueça do seu propósito
Como diria Simon Sinek, comece pelo porquê! O que motivou você a fundar sua empresa? Um dos pontos mais importantes diante de uma adversidade é entender a razão pela qual demos início a uma jornada. No meu caso, a depressão foi tão dolorida que me fez entender que precisava criar algo para democratizar o acesso a serviços de saúde mental.
Os últimos quase 400 dias podem ter trazido novas perspectivas sobre o que é importante para você, por quais grandes causas você deseja lutar ou quais são os principais problemas do mundo que deseja resolver. Talvez seja o momento certo para reafirmar sua missão de longo prazo e não ceder a tentações que podem surgir no meio do caminho.
Será que não é a hora de se questionar se você está sonhando grande o suficiente? Se o seu time está alinhado com a visão e cultura da empresa? Vale refletir sobre isso! Reconecte-se com seus valores e propósito, eles serão bons guias.
Prepare-se para a tempestade
Mar calmo nunca fez bom marinheiro, já dizia o ditado popular. Diante de todos os desafios, medo, angústia e volatilidade que estamos vivendo, o melhor é estarmos preparados para dias ainda mais complexos. Ainda vivemos diante de uma grande incerteza. Ultrapassamos a barreira de 300 mil mortos no Brasil e não fazemos a menor ideia se algum dia teremos algo próximo do que experimentamos até 2019.
Mesmo com o avanço da vacinação, as incertezas persistem. É difícil prever como serão os próximos 12 meses, portanto minha sugestão é fazermos planejamentos menores, de 3 ou 6 meses. Aqui na Vittude usamos OKRs como metodologia de gestão e isso nos ajuda a manter o time orientado a um objetivo claro, desafiador, mas tangível.
É sempre válido discutir cenários e ter alternativas de contingência. Enquanto você se prepara para aproveitar as oportunidades à frente, seja ágil ao ajustar suas estratégias. Saber quando pisar no freio ou no acelerador será importante para o futuro.
Foque no essencial
Concentre-se no que realmente importa. Defina poucas metas, mas que reflitam o bom desempenho de seu negócio. Entenda claramente o seu posicionamento no mercado, quais são seus diferenciais frente aos concorrentes e execute com maestria.
Tome cuidado para não se distrair com métricas de vaidade. Crie valor para seu cliente, comunidade e colaboradores. No mundo atual, o maior ativo que temos é a mente do nosso time. Sem o potencial criativo de uma equipe saudável, nossas empresas provavelmente padecerão em pouco tempo.
O home office trouxe muitos benefícios, mas também revelou desafios para mantermos o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Com isso nossa saúde mental ficou em cheque. Muitos colaboradores estão esgotados e entristecidos depois de um ano de isolamento.
Mantenha um diálogo aberto sobre os desafios que seu time enfrenta. Uma liderança forte sempre coloca as pessoas em primeiro lugar.
O que vem depois?
É inegável que a realidade tem sido exaustiva. Porém, vale pensarmos que a mudança também traz oportunidades e a restrição gera criatividade. Toda crise traz consigo necessidades de adaptação. Aliás, como diria Charles Darwin, quem sobrevive não é o mais forte, nem o mais inteligente e sim aquele que melhor se adapta.
Essa semana uma matéria da UOL divulgou que 2020 marcou a estreia de 13 milhões de consumidores na internet. Foram 29% de clientes online a mais do que em 2019. Ao todo, o comércio eletrônico faturou R $87,4 bilhões em 2020, um avanço de 41% sobre o ano anterior, e somou 194 milhões de pedidos. Cerca de 79,7 milhões de consumidores compraram pela internet no ano passado, o que equivale a 38% da população brasileira.
Veremos muitos novos negócios surgindo, muitas consolidações acontecendo. Investimentos, fusões, aquisições e muito mais. Precisamos estar preparados para o futuro!
O mundo pós-vacina será frutífero! Aproveite sua resiliência, capacidade criativa e use a adversidade a seu favor.
Tatiana Pimenta é CEO e fundadora da Vittude. Única brasileira finalista da premiação internacional Cartier Women’s Initiative Awards em 2019. Engenheira que se apaixonou pela Psicologia, pelo estudo constante do comportamento humano e da felicidade. Com mais de 15 anos de experiência profissional, foi executiva de sucesso em empresas de grande porte como Votorantim Cimentos e Arauco. É colunista dos portais Money Times, Startupi e Superela.