* Por Henrique Volpi
Setembro, mês da mobilidade, está praticamente acabando e deixando uma reflexão: ainda há um longo caminho a ser percorrido rumo à utilização mais sustentável dos meios de transporte.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% da população mundial se expõe mais do que o ideal à poluição. E, todos os anos, mais de 4 milhões de pessoas morrem em decorrência de doenças respiratórias ligadas ao excesso de poluentes.
E de onde vêm essa poluição? Um estudo do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema) indicou que 72,6% da emissão de gases de efeito estufa no Estado de São Paulo tinha origem nos automóveis.
Você já parou para pensar que essa realidade poderia ser mudada? O primeiro passo é a população adotar maneiras de se locomover mais sustentáveis, como as bicicletas e patinetes, por exemplo.
Esse hábito, aos poucos, vem sendo inserido no cotidiano, intensificado principalmente durante a pandemia. A pesquisa Mobility Futures 2021: The Next Normal, da Kantar Insights, apurou que houve um aumento de 3% no uso desses tipos de veículos na Europa – como também uma queda de quase 6% na utilização de transportes coletivos como ônibus, trens e metrôs.
Seja para fugir de aglomerações ou mesmo adotar um estilo mais consciente e saudável de viver, a Covid-19 levou à uma reflexão da maneira como os modais de transporte e a mobilidade urbana são encarados pela população.
Popularizadas, as bicicletas são mais do que democráticas, com modelos para todos os bolsos, necessidades e idades – seja para o lazer, um deslocamento curto ou longo. Elétricas ou mesmo dobráveis, podem ser facilmente guardadas em casa.
No Brasil, hoje, existem mais bicicletas do que carros. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) levam em conta que são cerca de 50 milhões de bikes contra 41 milhões de automóveis! E os números não param de crescer, principalmente puxados por um volume de vendas nunca visto antes.
Apenas no primeiro semestre de 2021 as vendas aumentaram 34,17% e muitos modelos não são encontrados à pronta entrega. A Aliança Bike, que levantou esse número, inclusive afirma que o crescimento vai continuar por um bom tempo.
E a indústria brasileira de bicicletas trabalha a pleno vapor. Foram 355 mil unidades fabricadas só no primeiro semestre de 2021, número 42,6% maior do que em 2020. Os dados são da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo).
Sejam importadas ou produzidas no Brasil, ao se adquirir uma bicicleta os benefícios não são vistos apenas na saúde, diminuindo os problemas de saúde trazidos pela vida sedentária. O proprietário começa a fazer parte de uma comunidade formada por grupos com os mesmos interesses e a movimentar a economia.
No ano passado foram abertas quase 5 mil empresas no setor, criando apenas no comércio varejista 1.119 empregos formais. E em 2021, até o mês de julho, foram 1.259 vagas com carteira assinada. E, apenas em São Paulo, as vagas no comércio varejista de bicicletas subiram 18%. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
O cenário é animador, sem dúvidas. Mas ainda falta muito para que o Brasil seja um exemplo no quesito mobilidade urbana. São Paulo, a maior cidade do país, também detém o título de maior malha cicloviária, com 681 km de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas. E o plano é alcançar quase 1 mil kms em três anos.
Outro bom exemplo é São José dos Campos (SP), que praticamente dobrou seus números em quatro anos, de 79 kms em 2017 para 155 kms atualmente. Mas muito ainda precisa ser feito em outras cidades, como Porto Alegre, que tem apenas 60 quilômetros de ciclovias.
E, com a falta de locais exclusivos e bem cuidados para pedalar, a consequência são os sinistros envolvendo ciclistas. Somente Porto Alegre registrou um crescimento de 65% em 2021, com 132 acidentes até junho deste ano.
Infelizmente ainda falta muito para que o Brasil se torne um exemplo de mobilidade urbana, assim como a Holanda é conhecida como a terra das bicicletas. Por lá, de 10 pessoas, nove utilizam a bicicleta como meio de transporte, seja para o trabalho ou para o lazer. Há um código exclusivo para esse tipo de veículo, que é respeitado por todos.
Está nas mãos da população pressionar o poder público para que a situação melhore!
Henrique Volpi é sócio-fundador da Kakau Seguros, formado em Administração pela PUC-SP, com especializações em fintech pelo MIT e em liderança do futuro pela Singularity University. Trabalhou em empresas como BMC, EMC Dell e Servicenow. Foi co-autor do livro “The INSURTECH Book: The Insurance Technology Handbook for Investors, Entrepreneurs and FinTECH Visionaries”.