O que vocês acham mais importante? Esta semana vimos o anúncio de uma regulamentação federal que isenta o pagamento dos 15% de imposto sobre rendimento até 2023 dos investimentos feitos em empresas pequenas e médias que abrirem capital no Bovespa Mais (veja mais aqui). Esta notícia não gerou muita repercussão porque o Bovespa Mais vem sendo assunto desde o final de 2013 e porque a polêmica e as dúvidas dos empreendedores foram para o lado errado – eu já explico.
Tivemos também o lançamento da nova boneca Barbie Entrepreneur, com o endosso de algumas empreendedoras representativas (umas até bem “nova-geração”, como a líder do Girls Who Code). No Brasil, ninguém comentou ainda, mas nos Estados Unidos a notícia foi bem recebida.
Este editorial foi lançado na newsletter do Startupi:
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Curto e grosso: esta semana, teve gente que perguntou na cara do Ministro da Fazenda Guido Mantega, no evento de anúncio das novas regras do Bovespa Mais, se era tudo apenas uma manobra eleitoreira. Eu estava lá e pude sentir que… nem chegou a haver tensão (até porque foi uma pergunta bem frouxa mesmo, a cara do momento em que vivemos). A resposta dele foi direta: “estamos tratando disso há pelo menos um ano e foi durante o nosso Governo que a Bovespa mais cresceu”. Aí ele perguntou “é verdade ou não é?” para o presidente da Bovespa, Edemir Pinto, que respondeu “é verdade”. A iniciativa foi da Bolsa de Valores, depois outras entidades aderiram (ABDI, BNDES, CVM) e o Governo Federal entrou, regulamentando a isenção do imposto sobre rendimentos (a taxa é de 15%) sobre investimentos feitos em empresas pequenas e médias que venderem ações no Bovespa Mais.
Mas a polêmica não é apenas sobre esta questão. O fato é que um percentual quase invisível de brasileiros investe no mercado financeiro, enquanto em alguns países latinos o percentual já passa de 10% da população. Isso é bastante interessante, mas apenas se empresas abrirem seu capital desta forma! Até o momento, 11 já participam do Bovespa Mais. Relembrando: além de o governo isentar os investidores, a Bovespa isenta as empresas dos custos (de análise, listagem e anuidade) e a CVM isenta as empresas do custo de publicação (leia tudo aqui).
Ao longo da semana, conversei com uma variedade de empreendedores, investidores e até especialistas jurídicos para entender como receberam a notícia. No geral, todos ainda acham que fazer IPO é coisa para empresa grande e rica e uns apontaram um problema: os grandes custos envolvidos em Ofertas Públicas Iniciais são os cobrados pelos bancos de investimento, que “cuidam de tudo”. Bem, fui atrás de outros especialistas para questionar sobre isso.
Quem ganha quanto em cima do IPO da sua empresa
Descobri que, além dos custos que as entidades estão isentando, existem sim – e não estão no pacote de isenção – os custos dos bancos de investimento e dos advogados. Quanto aos advogados: são proibidos de trabalharem abaixo da tabela de preços da categoria e, qualquer empreendedor que já teve contrato com venture capital sabe que há horas em que realmente precisamos contar com advogados – e abrir capital na bolsa é uma dessas horas. Em tempo: advogados acabam cobrando uma comissão de 0,6% do valor captado na abertura. Vamos não problematizar isso.
Já bancos de investimento não estão sujeitos a nenhuma regulamentação que os obrigue a cobrar x ou y, mas podemos visualizar que os concorrentes poderiam acabar processando por concorrência desleal pois IPOs acabam envolvendo uma remuneração bastante considerável. Quer saber o valor?
Bem, antes dos números, vamos à outra concepção de valor: de que vale ter um banco de investimento para fazer o IPO? Obrigado ninguém é (a contratar). Sim, você pode ir pra bolsa por conta própria, mas não há caso de quem tenha ido, assim como também não tenha caso de banco de investimento que não tenha conseguido garantir antecipadamente a venda da maior parte das ações da empresa, fazendo com que o momento inaugural da empresa no pregão já seja um sucesso. Entende-se que neste mercado não há “soft launch”, você tem que ir com tudo. E quanto se paga por isso? Adiantado, nada. Trata-se apenas de uma taxa de sucesso (success fee), portanto uma comissão, que vem sendo praticada em 3,5% sobre o valor que a empresa captar no mercado primário (significa: no exato momento em que o papel é lançado no mercado, colocado na vitrine, pois depois o papel já começa a ser vendido por quem comprou, e aí não incide mais nenhuma taxa).
Imagine que você acabe vendendo tudo (que tem para vender) no primeiro instante, e pague a comissão sobre tudo. Bem, digamos que você captou R$ 100 milhões: terá de pagar uma comissão de R$ 3,5 milhões para o banco que atuou como vendedor, o banco que fez a sua empresa, “de repente”, trazer R$ 100 milhões a mais para casa (e ainda vão sobrar R$ 96,5 milhões). Somando todas as comissões e taxas: total em torno de 7%, bem mais barato do que qualquer dinheiro que se pegue no mercado (financiamento, empréstimo, crédito…).
Em tempo: não citei custos de auditoria relacionados ao IPO porque, de fato, os custos de auditoria não se devem ao IPO. Apenas, acontece que geralmente, para você vender grandes lotes de ações antecipadamente, os compradores vão querer confiar nos números que você apresentar sobre sua empresa (ao menos uns dois ou três períodos auditados) e é uma auditoria quem acaba cuidando disso. Por quanto? Olha, na casa de milhão (ou milhões) se a empresa for complexa e a auditoria for uma das mais prestigiadas, mas existem outras menos badaladas que conseguem fazer um trabalho suficiente, satisfatório na sua empresa por quantias em torno de R$ 350 mil (isso, claro, faz sentido se você tem faturamento, pois na Bolsa ninguém quer saber de empresa que não vende bastante produtos ou serviços). Pense que você está “gastando esse dinheiro” para poder trazer muito mais para dentro.
Dito isso, há o fato de que alguns acharem que isso só serve para empresas pequenas que já são grandes (oi?) e vão captar várias centenas de milhões. Bem, é fato que, mesmo no mercado brasileiro, as captações não costumem ser menores de R$ 50 milhões, então vamos convir que este patamar não está tão longe assim de startups que já andaram captando alguns milhõezinhos com anjos, aceleradoras, gestoras de venture capital e até venture capital corporativo (como é o caso mesmo de algumas aceleradoras).
Brincando de firminha com a Barbie Empreendedora
Se tem uma coisa que a gente fez no meio empreendedor brasileiro foi difundir a figura do startupeiro, do cara que não está simplesmente abrindo mais uma empresa, mas sim está praticando as mais novas metodologias de geração de valor e modelagem de negócio. (Antes disso, a gente crescia querendo ser advogado, engenheiro ou médico; depois era jogador de futebol ou artista pop). Em havendo esta identidade startupeira como farol, pode surgir uma verdadeira comunidade e ficou mais palpável a energia da inovação passando de uma pessoa para outra. O resultado: adolescentes crescem não apenas querendo um dia ser startupeiro, mas já crescem lançando suas startups – a exemplo de João Pedro Motta, Davi Braga, Pedro Franceschi e prováveis centenas ou milhares de outros.
A Mattel já produz e vende bonecas Barbie há 55 anos e já lançou 150 modelos na linha “Barbie Profissional”. Em 1964, surgiu o modelo Barbie Career Girl; em 1999 a Working Woman Barbie Doll; em 2007 a Secretary Barbie. Nenhuma delas tem um visual tão diferente entre si (veja) ou com relação à Barbie Entrepreneur, lançada esta semana, mas a pequena diferença no nome pode fazer um forte impacto – e não sou apenas eu quem acredita.
A brinquedista entrevistou uma série de empreendedoras inspiradoras, inclusive Reshma Saujani – fundadora e CEO da Girls Who Code – e publicou em seu site como inspiração (acompanhando, claro, o lançamento do caça-níquel de 13 dólares, que vai chegar no Brasil em algum momento por algo em torno de R$ 120). É lógico que, no fundo, o que muda (um pouco) é a estilização da mesma velha boneca. Mas as empreendedoras estão falando – até para o Techcrunch – que uma boneca, ainda mais quando vem com acessórios e cenários, sempre envolve muitas e muitas horas de envolvimento emocional e até social em torno da temática sugerida pelo brinquedo – que, ainda por cima, vem nas versões Hispânica, Asiática, Afro-Americana e uma sem denominação demográfica, com cabelo loiro (o modelo original da Barbie).
Então, de certa forma, considerando a frieza “não-me-toque” dos startupeiros com relação ao novo Bovespa Mais, analistas de mercado poderiam imaginar que a boneca Barbie Entrepreneur vai fazer mais impacto na evolução do empreendedorismo brasileiro.