* Por Henrique Carbonell
Quem resolve empreender no Brasil sabe que não é tarefa fácil. A própria complexidade inerente à operação de uma empresa mistura-se a questões econômicas e tributárias externas, fazendo o empresário ter atenção máxima a todos os detalhes. A partir de março, mais uma peça entrou nesse tabuleiro, dificultando as jogadas das empresas: a pandemia de covid-19.
O avanço rápido da doença provocou uma onda de incertezas, congelando investimentos e diminuindo receitas em muitos setores, justamente nessas horas que é preciso demonstrar uma habilidade imprescindível na arte de empreender: a negociação.
Com mais de cinco meses de pandemia, e números de infectados e de mortes que teimam em não diminuir, os empreendedores começam a demonstrar adaptação ao novo cenário, buscando alternativas para sobreviverem ao momento difícil e, claro, crescerem assim que possível.
A pesquisa Pequenos negócios e o enfrentamento da crise do coronavírus, realizada pelo Sebrae, aponta, entre outras tendências, a operação mais sustentável, com foco na produtividade e sem desperdício financeiro, bem como a ampliação de parcerias com fornecedores e parceiros.
É a medida mais adequada à realidade que as empresas de diferentes segmentos e tamanhos estão encarando atualmente. Quando o presente é desafiador e o futuro, incerto, quais são os próximos passos no tabuleiro corporativo? O erro aqui é imaginar que se deve caminhar sozinho entre as adversidades. A ordem agora é rediscutir contratos, realocar investimentos e readequar os planejamentos às novas demandas – algo que só é possível quando as organizações se unem em busca de soluções em conjunto que atendam a todas as partes envolvidas.
Não há como manter projetos e acordos estabelecidos antes da pandemia diante das transformações que a doença está provocando em todo o mundo. Prazos de pagamentos e de processos podem – e devem – ser renegociados e estendidos, permitindo que todos possam se adequar aos novos desafios.
Fornecedores de soluções tecnológicas devem buscar um caminho em comum com seus clientes, garantindo haver o mínimo de problemas para todos. Fala-se tanto em “novo normal” nas relações de trabalho e nos modelos de negócios, então por que a parte operacional deveria continuar no jeito “antigo”?
O ditado popular nunca pareceu tão verdadeiro quanto agora: em tempos de pandemia, é melhor ter um pássaro na mão do que dois voando. Melhor do que insistir em manter um planejamento financeiro feito antes da pandemia, com todo o desgaste que isso pode causar no relacionamento com seus stakeholders e na própria imagem da marca, é apostar na aproximação com essas empresas, reforçando a preocupação do negócio com a rentabilidade de toda a cadeia e, mais importante, mostrando-se disposto a agir em prol de um bem comum ao setor em que atua.
Fazer uma boa negociação é o objetivo de qualquer empreendedor – e matéria-prima necessária para o sucesso da organização. Contudo, é preciso reconhecer que a negociação só é boa quando traz vantagens a todas as partes envolvidas. Essa premissa já era obrigatória em situações normais e torna-se essencial agora.
Quando há mais dúvidas do que certezas no futuro, o melhor é sentar, se aproximar de seus parceiros e entender o que pode ser mudado para não prejudicar ainda mais a rentabilidade de toda a cadeia. Juntos fica mais fácil superar as adversidades que surgirão no caminho.
Henrique Carbonell é sócio-fundador da Finanças 360º, empresa especializada em sistema de gestão financeira com conciliação automática de vendas por cartão para o pequeno e médio varejo.