O mercado de tecnologia no Brasil enfrenta uma crise de mão de obra. Com a digitalização acelerada de empresas e a transformação digital em alta, a demanda por profissionais qualificados em TI cresce mais rápido que a formação de novos talentos. De acordo com um levantamento do Google for Startups em parceria com a Associação Brasileira de Startups, o país enfrentará um déficit de 530 mil profissionais do setor até 2025. O estudo cita ainda que, anualmente, 53 mil profissionais se formam, mas a demanda mas a demanda por mão de obra, até o próximo ano, será de 800 mil. Esse cenário tem levado empresas brasileiras a buscarem alternativas inovadoras para suprir essa necessidade crescente de desenvolvedores.
Diante desse contexto, uma startup está oferecendo uma solução vantajosa para as empresas brasileiras e também para profissionais em países africanos de língua portuguesa: a Africandev. Criada em 2024 pelos cofundadores Marcos Jamir (CEO), Louison Mwanonganga (CTO) e André Rubens, a Africandev conecta desenvolvedores de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Moçambique a empresas brasileiras, oferecendo uma alternativa de mão de obra qualificada, experiente e econômica. A startup opera como uma ponte entre o Brasil e a África, não apenas suprindo uma lacuna urgente no mercado brasileiro, mas também proporcionando oportunidades de trabalho e crescimento para desenvolvedores africanos.
Marcos, que amadureceu o projeto da Africandev enquanto trabalhava na empresa de tecnologia IN8, percebeu uma oportunidade após precisar de mais desenvolvedores na equipe e experimentar a contratação de profissionais africanos. “A software house estava precisando de programadores e tive a oportunidade de trazer trabalhadores africanos para trabalhar lá em 2021”, relembra. Após resultados bem-sucedidos na alocação de mais de 100 profissionais entre 2021 e 2023, a empresa se tornou independente e passou a se concentrar exclusivamente na conexão de profissionais africanos com projetos no Brasil.
Em janeiro de 2024, a Africandev se formalizou, e a resposta do mercado brasileiro tem sido positiva. “A nossa virada de chave foi no WebSummit Rio 2024. Foi lá o primeiro momento em que a gente se divulgou, foi a hora em que a gente foi pro mercado para todo mundo saber que a gente existe,” conta. Desde então, a startup já atendeu dezenas de empresas brasileiras e registra crescimento de 700% desde o início do ano. A expectativa é que até o final de 2024, a Africandev tenha 40 desenvolvedores alocados em empresas brasileiras e que esse número ultrapasse 100 até o final de 2025.
O modelo de negócios da Africandev é baseado em bootstrapping, o que significa que a empresa opera com capital próprio, sem investimentos externos, o que confere ao time de fundadores maior controle sobre o crescimento da operação. A startup tem se mostrado eficiente na entrega de profissionais: “A gente é um parceiro que faz o processo de recrutamento e seleção. O cliente faz um período de teste com os profissionais alocados no projeto, para entender se tem sinergia. Hoje, nós disponibilizamos os profissionais para os projetos em até 3 dias”, explica. A seleção é rigorosa, e os candidatos passam por testes técnicos conduzidos pelas próprias empresas, o que garante que o talento contratado possua as habilidades específicas requeridas para cada projeto.
Além da qualidade técnica, a Africandev oferece um custo-benefício atraente para empresas brasileiras, que conseguem experimentar a contratação de desenvolvedores mais experientes e comprometidos em relação ao perfil geralmente disponível no mercado. Marcos destaca: “A gente traz programadores muito comprometidos, porque querem pegar essas oportunidades no Brasil. A gente também traz pessoas com experiência maior do que o mercado hoje oferece.”
A expansão do ensino técnico e superior em TI nos países africanos tem contribuído para a formação de novos profissionais capacitados, e muitos desses desenvolvedores veem na Africandev uma oportunidade de crescimento profissional. Países falantes de português no continente africano têm investido fortemente em educação tecnológica e na capacitação de jovens em áreas como programação e desenvolvimento de software, gerando uma nova geração de talentos dispostos a atuar em projetos internacionais. Como é o caso de Cabo Verde, país natal de grande parte dos desenvolvedores contratados pela startup: com cerca de 500 mil habitantes, o país tem investido em inovação, tecnologia e empreendedorismo para criar um ecossistema digital robusto, com o objetivo de se tornar um hub tecnológico relevante para o continente africano e além.
No horizonte, Jamir vislumbra uma expansão da Africandev para além do Brasil. “O plano de internacionalizar a Africandev existe. Sempre em países que falam português. Depois ir para inglês e francês”, revela ele. No entanto, o foco atual é o Brasil, mercado onde ele vê grande potencial para crescer e consolidar a startup.
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