Silverguard divulga estudo e revela que os golpes envolvendo o sistema de pagamento instantâneo Pix geraram perdas financeiras significativas aos brasileiros. A média de prejuízo por vítima chegou a R$ 2.100. O levantamento, que se baseou em dados do Banco Central e de mais de cinco mil relatos na Central SOS Golpe, destaca o crescimento das fraudes digitais e o papel do Pix nesse cenário, que representou cerca de 45% das transações financeiras no país em 2024.
Segundo o relatório, os golpes têm se expandido à medida que o Pix se torna cada vez mais popular e acessível. Embora o Pix seja uma ferramenta segura e eficiente, sua praticidade facilita golpes em que a própria vítima realiza transferências voluntárias para os criminosos, uma tática conhecida como APP (authorised push payment fraud). O cenário de digitalização favoreceu a ação dos golpistas: de cada dez operações financeiras realizadas no Brasil em 2024, nove foram feitas por meios digitais.
A pesquisa revela diferenças no tipo de golpe conforme a idade e classe social da vítima. Entre os mais jovens, o golpe mais frequente é a compra de produtos ou serviços de perfis falsos. Já entre os idosos, a tática de pedir dinheiro emprestado é a que predomina. O WhatsApp é o canal inicial de 69% dos golpes contra pessoas com mais de 60 anos, enquanto o Instagram lidera entre menores de 18 anos.
As perdas também diferem conforme a faixa etária e classe social. Vítimas da classe AB, por exemplo, registraram perdas de até R$ 6.300 em média, enquanto na classe C o prejuízo médio foi de R$ 3.500. Entre as vítimas da classe D e E, as perdas caíram para R$ 1.500. No caso dos idosos, os prejuízos foram quatro vezes maiores do que entre jovens de 18 a 24 anos, demonstrando a vulnerabilidade de pessoas mais velhas frente às táticas de persuasão dos golpistas.
Os criminosos dependem amplamente de redes sociais e serviços de telefonia para realizar golpes. Plataformas da Meta, como WhatsApp, Instagram e Facebook, concentram a maioria das fraudes, sendo responsáveis por 79% dos casos. A Silverguard identificou ainda que criminosos utilizam uma rede de serviços para operacionalizar os golpes, incluindo o registro de URLs, hospedagem de sites e contas bancárias falsas.
O estudo também ressalta o fenômeno da “corporativização do golpe financeiro digital” no Brasil. Segundo Marcia Netto, CEO da Silverguard, o aumento das fraudes digitais está levando criminosos a se organizarem em estruturas complexas, semelhantes a empresas, com divisões de tarefas e até metas de produtividade. Esse modelo de atuação amplia a capacidade dos golpistas e torna a prevenção mais difícil, exigindo a integração dos setores financeiros e de tecnologia para aprimorar os mecanismos de proteção.
O “Mecanismo Especial de Devolução” e seu potencial subutilizado
O estudo destaca a importância do Mecanismo Especial de Devolução (MED), uma ferramenta criada pelo Banco Central em 2021 para permitir o bloqueio imediato de valores em casos suspeitos de fraude. Contudo, apesar de ser uma medida eficaz, o desconhecimento do MED é um dos principais obstáculos para sua utilização. Segundo os dados, 68% das vítimas desconhecem o mecanismo, e apenas 5% sabiam como utilizá-lo.
Com uma taxa de devolução de apenas 9%, o MED ainda não consegue atender completamente as necessidades de vítimas de golpes, especialmente considerando a rapidez com que o dinheiro transferido acaba sendo retirado ou transferido para outras contas. Especialistas da Silverguard defendem que a qualificação das denúncias no MED, com informações mais detalhadas, aumentaria a eficiência na recuperação de valores.
A pesquisa de 2024 da Silverguard recomenda uma atuação mais coordenada entre instituições financeiras, operadoras de redes sociais e autoridades para combater o crescimento dos golpes digitais. A criação de um antifraude social é uma das propostas que a empresa defende, sugerindo uma rede colaborativa que conecte todos os setores envolvidos e aumente a agilidade no bloqueio de contas suspeitas.
Para isso, Márcia destaca a necessidade de melhorar a análise e o bloqueio de contas falsas ao primeiro sinal de denúncia, reduzindo a exposição das vítimas. Embora muitas instituições financeiras hesitem em aplicar medidas mais rápidas por receio de falsos positivos, a executiva argumenta que uma abordagem preventiva é essencial para evitar que milhares de pessoas sejam prejudicadas.
Entre os tipos de golpe mais frequentes, destacam-se as vendas falsas de produtos (45%), promessas de investimentos com alta rentabilidade (15%) e empréstimos fraudulentos (10%). A pesquisa também alerta para os efeitos emocionais negativos que essas fraudes causam, especialmente em pessoas idosas, que frequentemente perdem suas economias e lidam com sentimentos de vergonha e desamparo.
O estudo aponta que, além das perdas financeiras, as vítimas experimentam profundas dificuldades emocionais. A sensação de ser enganado pode causar impactos nas relações familiares e, em casos mais graves, levar à depressão e até ao suicídio.
A pesquisa sobre os golpes com Pix em 2024 confirma a complexidade crescente dos crimes digitais e ressalta a necessidade de uma resposta coordenada entre diversos setores da sociedade. Enquanto o Pix segue sendo uma ferramenta útil e segura para milhões de brasileiros, os criminosos continuam a explorar brechas, utilizando cada vez mais a tecnologia e as redes sociais para obter ganhos financeiros.
A prevenção dos golpes exige mais do que medidas isoladas; demanda um esforço conjunto entre bancos, plataformas digitais e a sociedade em geral para criar um sistema de proteção eficiente e ágil. A implementação do antifraude social e o uso mais eficaz do MED são passos importantes, mas a conscientização e educação do usuário também são fundamentais para reduzir as vulnerabilidades e fortalecer o ambiente digital.
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