A primeira reunião do Startup20 no Brasil, fórum de discussão sobre startups das delegações do G20, aconteceu no Amapá entre os dias 23 e 26 de fevereiro, e colocou as startups da Amazônia sob os holofotes globais. De acordo com Ingrid Barth, presidente da Associação Brasileira de Startups, a escolha do Amapá como sede foi influenciada por sua experiência pessoal em explorar diversas regiões do Brasil. Antes de assumir a presidência da associação, Ingrid realizou visitas exploratórias em várias localidades, incluindo a Amazônia, onde foi profundamente tocada pela diversidade e potencialidades encontradas na região.
Ela ressaltou que, ao contrário da imagem comum associada à Amazônia, caracterizada apenas por sua vasta floresta e populações tradicionais, ela encontrou uma realidade muito mais complexa e rica em ideias inovadoras e projetos promissores. “Quando a gente pensa em startups, a gente foca muito na região Sul e Sudeste. Mas por aqui no Norte também acontecem coisas incríveis sobre inovação e empreendedorismo que devem ser compartilhadas com o resto do mundo”, diz.
A presidente da Associação Brasileira de Startups também destacou o papel estratégico do Amapá e do ecossistema de startups da Amazônia na discussão global sobre questões ambientais, como clima, transição energética e biodiversidade. Ao sediar a primeira reunião do Startup20 na região, o Brasil tem a oportunidade de demonstrar seu compromisso com a inovação e sustentabilidade, enquanto lidera essas discussões de importância global.
Startups da Amazônia focam em diversidade
Ao se aprofundar no ecossistema local, Ingrid percebeu que havia um grande desconhecimento sobre as iniciativas e potenciais econômicos da região Norte do Brasil, o que a levou a questionar por que essas informações não eram mais divulgadas e por que o investimento local em startups não era mais expressivo. Por isso, a Abstartups tem colocado cada vez mais em sua agenda a importância de dar visibilidade às startups locais e de incentivar o investimento interno, contribuindo assim para o desenvolvimento econômico regional.
E o desenvolvimento local está diretamente ligado à preservação da floresta e utilização de matérias primas locais. Entre as soluções em exposição no Startup20, diversas startups focadas em reutilização dos resíduos do açaí se destacaram, já que as sobras do fruto se tornaram um problema ambiental na região, especialmente para as cidades de Macapá e Santana, no Amapá, pelo descarte inadequado e a não utilização da matéria prima para fins mais nobres.
Mas as startups locais estão mudando esse cenário. Um exemplo é a ReM Tijoloeco, primeira startup amapaense que produz tijolos ecológicos. Utilizando fibra do açaí, fibra de vidro e entulho de obras como matéria-prima dos tijolos, a startup também ajuda as obras a economizarem no acabamento, uma vez que os tijolos da ReM possuem acabamento próprio, dispensando o uso de reboco, pintura e tintas.
“Sentimos também a necessidade de criar uma construtora feminina, feita somente com mulheres arquitetas, pedreiras e eletricistas, para a construção de um chalé no Oiapoque. Estamos qualificando mulheres indígenas, ribeirinhas e quilombolas, para trabalharem na construção civil e terem uma nova fonte de renda”, conta Monica Pereira, cofundadora da ReM. A startup, nascida em 2021, tem a capacidade de produção de 5 mil acessos por dia e já exporta para o exterior.
Outra empresa local participante do evento é a Mazodan, empresa que cria produtos industrializados para construção civil utilizando minérios e sedimentos do Rio Amazonas, causadores dos processos de assoreamento e degradação ambiental. O uso desses minerais resolve o problema de destinação desses sedimentos, abrindo uma nova cadeia produtiva dentro da construção com materiais que até então não tinham uso.
A empresa, que fez parte do Programa Inova Amazônia, do Sebrae, abre uma nova cadeia produtiva dentro do setor de construção civil. Michael Carvalho, sócio da Mazodan, fala sobre a solução: “Nós defendemos um manejo sustentável do uso dos minerais dos rios, para que o próprio ribeirinho, indígena ou quilombola, colete isso. A gente tem um povo local que protege nosso bioma, mas precisamos dar condições sustentáveis para que a gente utilize esse modelo extrativista”. A empresa já produz uma argamassa colante que, com três quilos, é possível substituir até 60 quilos de argamassa convencional, e uma massa texturizada de parede produzida inteiramente com sedimentos do rio Amazonas.
Durante o evento, Ingrid Barth enfatizou a necessidade de mudar a mentalidade paternalista, muitas vezes associada às iniciativas em regiões como o Norte do Brasil. Em vez de assumir uma postura de “ajuda”, ela defende a valorização e promoção das capacidades locais, reconhecendo que as comunidades da região têm muito a contribuir com seu próprio desenvolvimento.
A escolha do Amapá como sede do Startup20 não apenas destaca o potencial empreendedor e inovador da região norte do Brasil, mas também reforça o papel do país como líder global na busca por soluções tecnológicas e sustentáveis. “A gente quer voltar os olhos do mundo para o Brasil, e apresentar o cenário de inovação da Amazônia é um grande passo para isso”, completa a presidente.
* A jornalista viajou ao Amapá a convite da Abstartups
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