A trajetória da Morfo, startup franco-brasileira fundada em maio de 2021, começou nas vastas terras da Guiana Francesa, onde Hugo Asselin, um dos cofundadores, trabalhava com reflorestamento em áreas desgastadas pela mineração. Com o passar do tempo, foi percebendo dificuldades no setor que posteriormente se tornariam a força por trás da criação da startup.
“Ele viu todas as dificuldades do reflorestamento em primeira mão. A falta de conhecimento da floresta, a ausência de uma base científica para a regeneração, e os desafios operacionais em áreas remotas e de difícil acesso, além da falta de transparência em áreas de reflorestamento. Para ocorrer um avanço no setor, era crucial desenvolver novas tecnologias”, compartilha Adrien Pages, cofundador da Morfo.
Inspirado por essas experiências, Hugo compartilhou sua visão com seu irmão Pascal Asselin e com Adrien – os dois eram empreendedores seriais, mas ainda não tinham trabalhado com soluções de impacto global, foi aí que toparam o desafio. “Vimos o reflorestamento não apenas como uma oportunidade de regenerar áreas degradadas, mas como uma maneira de impacto social. Florestas geram empregos, promovem o conhecimento científico e cidadão, e, acima de tudo, melhoram o ar, a água e o solo – a base do que consumimos”, ressalta Adrien.
Assim nasceu a Morfo, startup com solução para restauração em grande escala dos ecossistemas florestais nativos. As primeiras soluções foram desenvolvidas em parceria com o laboratório público francês IRD e foram aplicadas na Guiana Francesa, depois na África e agora no Brasil. A regiões para reflorestamento costumam ser tropicais e subtropicais, como a Mata Atlântica e a Floresta Equatorial Africana, que eram florestadas e foram desmatadas, tornando-se improdutivas.
“Até o momento, mais de mil pessoas trabalharam direta ou indiretamente com a MORFO em nossos projetos no Brasil, Gabão, Gana, Costa do Marfim, França e Guiana Francesa. Estamos convencidos de que essa estreita colaboração com as partes interessadas locais é essencial para o sucesso de longo prazo de nossos projetos de reflorestamento”, afirma a startup em comunicado, que já tem 19 projetos de reflorestamento em andamento.
Soluções da Morfo
A solução da startup é um processo de reflorestamento em várias etapas:
- Análise
Primeiramente, os dados são coletados via drones e satélites e envio de profissionais ao campo para analisar a área a ser reflorestada. “Nós verificamos o solo, a compactação, composição, risco de espécies exóticas e etc. Porque para reflorestar uma região é necessário entender que ela não será homogênea e precisaremos desenhar uma estratégia de reflorestamento”, explica Adrien.
- Seleção e coleta de sementes
Hoje, a startup tem um catálogo em evolução de 200 espécies que selecionam de acordo com os projetos em restauração de ecossistemas, e plantam pelo menos 20 espécies locais em cada projeto. A escolha das espécies para plantio é feita através da análise dos dados coletados na primeira etapa.
“A restauração de ecossistemas não se trata apenas de plantar árvores individuais, mas de criar ecossistemas vegetais completos. A promoção da diversidade de espécies vegetais em nossos projetos de restauração é uma das prioridades da MORFO. Selecionamos as espécies plantadas para maximizar a biodiversidade e recriar o ecossistema natural, imitando os estágios da sucessão ecológica da floresta”, explica o cofundador.
Adrien diz que o estudo das espécies é fundamental, porque antes não havia tanta pesquisa e também não era necessário fazer um reflorestamento com uma grande biodiversidade, então eles analisam, por exemplo, a capacidade de resistência de uma espécie em momentos de falda de água.
- Plantio
Os drones dispersam as sementes em cápsulas que contêm todos os elementos biológicos e nutricionais necessários para o reflorestamento de longo prazo. Um único drone pode processar até 50 hectares por dia, com cada drone capaz de plantar 180 cápsulas por minuto em terrenos íngremes e de difícil acesso. Isso é 50 vezes mais rápido do que uma solução de reflorestamento tradicional e sem os meses de crescimento no viveiro. Além disso, o uso de drones permite baixar o custo operacional e faz com que o plantio seja feito com flexibilidade e no melhor momento, considerando as mudanças climática atuais.
As sementes são colocadas em cápsulas de sementes para serem jogadas no solo. Essas cápsulas contêm todos os elementos biológicos e nutricionais necessários para a restauração de ecossistemas longo prazo. Os três principais benefícios do uso de cápsulas são: proteção das sementes; alimentação durante os estágios iniciais de crescimento; restauração de solos degradados.
Além dos drones, a startup usa o plantio manual, que é sempre realizado pela população local e por ONGs. Em um projeto no norte do Rio de Janeiro, a MORFO usou drones para replantar 75% da área, enquanto a população local ajudou a replantar os 25% restantes. O ITPA forneceu conhecimento sobre o bioma da Mata Atlântica, acesso a um viveiro para o plantio manual e trabalhadores locais para realizar o plantio.
- Monitoramento florestal
A evolução das plantações é monitorada de perto por meio do monitoramento da biomassa, da biodiversidade e do estoque de carbono, usando imagens obtidas por drones e satélites. “Para isso desenvolvemos uma plataforma de monitoramento online para que todos os autores dos nossos projetos – universidades, empresas, estado, órgão público, financeiro – tenham acesso e transparência às regiões reflorestadas e para validar os projetos, porque se não estiver funcionando podemos traçar novas estratégias”, explica Adrien.
O monitoramento da MORFO é regular e de longo prazo. Ele se estende por um período de 5 a 30 anos. Esse período varia de acordo com a complexidade e a escala do projeto de restauração, bem como com os objetivos de conservação e preservação dos ecossistemas.
Em geral, nas florestas subtropicais, as árvores podem crescer mais rápido do que em outros tipos de floresta devido às condições ambientais favoráveis. As florestas subtropicais se beneficiam de um clima quente e úmido, com temperaturas relativamente altas durante todo o ano e chuvas abundantes. Essas condições permitem que as árvores desfrutem de um período mais longo de crescimento ativo e tenham acesso constante à água e aos nutrientes do solo.
“A velocidade de crescimento das árvores pode variar consideravelmente, dependendo de vários fatores, como o tipo de espécie de árvore presente, a idade das árvores, as características do solo e outras condições ambientais específicas de cada região. No laboratório, alcançamos taxas de sobrevivência de 80% em média (de 55 a 100%, dependendo da espécie). No campo, trabalhamos com a natureza, às vezes em terras muito degradadas. Nosso objetivo, combinando nossas várias tecnologias, é chegar mais perto dessa taxa percentual”, explica a startup.
Próximos passos da startup
A Morfo cobra uma taxa por hectare para a análise, o plantio e o monitoramento da plantação, por um período mínimo de 5 anos. O preço por hectare depende de vários fatores, como a localização da terra, o acesso e sua condição atual. Os seus clientes são principalmente organizações que possuem terras para restauração de ecossistemas. Podem ser estados, governos locais, ONGs ou empresas.
Um dos cases de sucesso da startup é um projeto na Guiana Francesa, onde a startup está restaurando uma área degradada por mineração dentro da Floresta Amazônica, onde era possível acessar apenas por helicóptero. Nos dois primeiros dias, mesmo com o difícil acesso, foi possível fazer a análise de 30 hectares e em 9 meses foi possível fazer mais de 50% da região. “Algo interessante é que essa área não tinha cobertura de solo, era muito pobre e com risco de não ter evolução, mas usamos uma técnica de adubação verde e de cobertura vegetal que funcionou perfeitamente, foi um sucesso e a região teve um ótimo avanço”, compartilha o cofundador.
A startup já fez uma rodada de investimento seed com fundos europeus de R$ 20 milhões que permitiu desenvolver a primeira solução da MORFO e fazer os primeiros projetos e hoje está avaliando se será necessário abrir uma nova rodada. “Estamos acelerando nossas atividades no Brasil e vamos crescer muito nos próximos meses com o objetivo de ser líder em pesquisas sobre reflorestamento e organização de projetos com qualidade. Pensamos que o Brasil tem essa janela de oportunidades com a economia verde e pode ser um dos países líderes dessas questões de climas e biodiversidade e queremos fazer parte dessa conquista”, completa Adrien.
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