A guerra em Israel chega hoje ao 11º dia. O conflito, que teve origem em 7 de outubro, já fez mais de 4 mil vítimas e contabiliza mais de 14 mil feridos, tornando-se o conflito mais mortal da história de Gaza e em 50 anos para Israel.
O ecossistema de startups local, tanto israelense quanto palestino, também está sofrendo as graves consequências da situação. Israel ganhou o posto de “nação das startups” por abrigar em seu território um dos ecossistemas mais vibrantes do mundo: é o país com mais startups per capita – cerca de 7.300 – e teve no último ano um investimento de capital de mais de US$ 15 bilhões. Mais de 14% da força de trabalho do país está dedicada a empresas de tecnologia, que representam cerca de 20% do PIB local.
Mas territórios palestinos, como a própria Faixa de Gaza, de alguns anos pra cá, também vinha atraindo os olhos de grandes companhias de tecnologia. É o caso da Nvidia, que no início de 2020 empregou pelo menos uma centena de palestinos que trabalhavam para a Mellanox, startup que a gigante de tecnologia adquiriu por US$ 7 bilhões. Desde 2011 o Gaza Sky Geeks, uma iniciativa apoiada pela Alphabet, apoia o empreendedorismo tecnológico de palestinos em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Além desta, empresas como Apple e Microsoft também operações terceirizadas em território palestino, especialmente com profissionais de tecnologia e P&D.
Os impactos nos ecossistemas palestino e israelense
Em 2022, mais de 5 mil pessoas concluíram cursos de programação e desenvolvimento no GSG. Agora, a situação do maior centro tecnológico de Gaza é outra. “A área ao redor do edifício Mercy Corps, que abrigava Gaza Sky Geeks, foi arrasada. A estrutura está de pé, mas destruída. A frente está meio arrancada”, disse Ryan Sturgill, ex-chefe do hub, ao TechCrunch.
Com a chegada dos ataques que vitimam palestinos e israelenses, o futuro desses ecossistemas tão promissores é incerto. “Mais de 300 mil palestinos trabalham em Israel, mas principalmente em trabalhos manuais e construção. No setor de alta tecnologia, há algo em torno de 100 a 200”, explica Moha Alshawamreh, engenheiro palestino que vive e trabalha em Tel Aviv.
“O início da guerra em Gaza impactou os trabalhadores [palestinos] de alta tecnologia, uma vez que já não podem entrar em Israel, já que as fronteiras estão fechadas”, conta. “Não tenho certeza de como [os palestinos que trabalham em startups em Israel] estão gerenciando ou qual sua situação atual, uma vez que eles não têm eletricidade ou local estável e seguro”, diz.
Beny Rubinstein, CEO do Banco BV em Israel, também falou ao Startupi sobre o cenário local: “Fomos acordados abruptamente no sábado [7 de outubro] às 6:35 da manhã por sirenes de mísseis em Tel Aviv. Rapidamente, levei meu filho ao bunker da nossa casa: o quarto da minha filha. As explosões tornaram-se rotina, ocorrendo 5 ou 6 vezes diariamente. O espaço, agora com mantimentos e janelas blindadas, é nosso refúgio”, conta.
Agora, Beny diz que a família se “adaptou” à nova realidade, dividindo tempo entre trabalho remoto, cuidado com os filhos, acompanhamento das notícias e preparativos para novos alertas de ataques.
“Antes do conflito, o cenário do empreendedorismo em Israel era altamente dinâmico e resiliente. Naturalmente, os recentes atos terroristas do Hamas e as consequentes incertezas e riscos associados a eles têm potencial para desacelerar o investimento estrangeiro no curto prazo, como evidenciado pelo declínio dos voos para o país”, afirma o brasileiro-israelense.
Ele acredita que o ecossistema israelense de tecnologia enfrentará desafios para se recuperar, ainda que a guerra tenha um fim em breve. “No entanto eu, assim como muitos dos meus parceiros aqui em Israel, seguimos extremamente confiantes quanto à resiliência do ecossistema de inovação israelense para o médio e longo prazo. Um dos grandes líderes aqui com quem tive o prazer de colaborar, Avi Hasson, CEO da Startup Nation Central, reconhece também a dificuldade de fechar grandes negócios em meio ao conflito, porém ele e outros são otimistas sobre o setor de tecnologia de Israel se recuperando, como fez após conflitos anteriores.”
Até o momento, já são mais de 360 mil reservistas convocados por Israel para compor o exército durante a guerra. O país avalia ainda a convocação de mais 60 mil pessoas. Grande parte deles são israelenses que vivem em outros países, mas estão voltando voluntariamente para fazer parte das forças armadas locais.
O serviço militar obrigatório também é um fator que transforma diretamente o ecossistema local. “Isto impactou a todos nós: aos palestinianos da Cisjordânia e de Gaza, e aos israelenses – nós aqui com o coração pesado ao ver as notícias, os habitantes de Gaza estão sendo bombardeados, e os israelenses da mesma forma, nos abrigos. Muitos dos meus colegas de trabalho foram chamados para o dever de reserva”, afirma Moha.
“Apesar do ambiente desafiador, muitas empresas de tecnologia estão demonstrando solidariedade, usando seus escritórios para coletar suprimentos para os soldados, e fundos como o Insight Partners estão comprometendo suporte financeiro para organizações benéficas em Israel. Seguimos trabalhando com nossos clientes e parceiros em todo o mundo, que aliás têm demonstrado extrema preocupação e muita empatia neste momento trágico e desafiador que atravessamos”, diz Beny.
Players globais reagem à guerra
Mais de 500 empresas de capital de risco ao redor do mundo assinaram uma declaração conjunta expressando apoio a Israel e apelando à comunidade global de investidores para apoiar o ecossistema tecnológico do país. Entre elas estão nomes como Bain Capital Ventures, Bessemer Venture Partners, GGV Capital e 8VC. Além da carta, que pede apoio ao ecossistema e aos empreendedores de Israel, outros grandes nomes do mercado se uniram à causa israelense. A Insight Partners comprometeu-se a doar US$1 milhão para ajuda humanitária, a General Catalyst prometeu US$ 250 mil, e os sócios da First Round anunciaram uma doação pessoal de US$ 500 mil.
Beny cita como exemplo a startup Gem Security, sediada nos EUA e que tem funcionários atuando em Israel. Ele conta que a startup, que recentemente arrecadou uma Série A de US$ 23 milhões, estava se preparando para expansão quando alguns funcionários foram chamados para se apresentar ao exército. “O CEO da empresa reiterou recentemente que o que está acontecendo não mudará nada em seus planos de permanecer em Israel no que diz respeito à tecnologia”, conta. Outras empresas, como a MDI Health, destacam a adaptação ao novo normal, com muitos funcionários trabalhando remotamente enquanto outros foram convocados para o serviço de reserva (cerca de um quinto dos seus 40 funcionários em Tel Aviv).
“Embora o conflito atual em Israel tenha causado uma interrupção imediata nos negócios e investimentos, o sentimento predominante entre os líderes do setor é de resiliência, adaptabilidade e otimismo em relação ao futuro do ecossistema de startups do país. Eu, assim como vários outros players do ecossistema local, me mantenho fundamentalmente otimista sobre a indústria”, finaliza.
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