Por Bruna Galati
Nívia é uma menina de 10 anos com paralisia cerebral que frequenta a escola municipal José de Carvalho, no município de Coruripe, em Alagoas. Mesmo estudando há tempos na escola, grande parte dos alunos não sabiam que ela conseguia falar, isso em consequência da sua timidez em relação ao trato social. Foi com ajuda da metodologia Cognvox que houve um avanço no seu desenvolvimento, senso coletivo e sociabilidade. “Hoje ela brinca, fala com os colegas, realiza atividades e até sorri para a foto”, afirma a professora que trabalha no colégio.
A metodologia Cognvox, solução da startup com o mesmo nome, teve origem na tese de doutorado de Fabiana Wanderley, concluída em 2009, que se concentrou na pesquisa de indivíduos neurodivergentes, abrangendo aqueles com transtorno do espectro autista (TEA), transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), bem como aqueles com deficiência cognitiva, deficiência intelectual, síndrome de Down, paralisia cerebral, entre outras condições. Durante a pandemia, seu marido, Carlos Moreira, revisitou esse estudo e identificou a possibilidade de desenvolver um produto com base na tese que afirma que essas pessoas podem experimentar um desenvolvimento cognitivo por meio de interações com terceiros.
“Reli a tese e vi que era possível transformar aquilo em um negócio, mas antes fui estudar o mercado. Eu fiquei assustado com os números e com a ausência total de soluções dessa área, principalmente políticas públicas. Então juntei a tese, a minha formação de analista de sistemas e um grupo de pesquisadores pós-doutores e doutores pedagogos e psicólogos da Universidade Federal Rural de Pernambuco para transformar o método em um negócio”, explicou Carlos.
O resultado foi um produto dividido em três pilares: uma plataforma digital, com atividades personalizadas para cada aluno; um curso de preparação para os professores que estarão nas salas com esses alunos; atendimento psicológico para as famílias. O protótipo só pôde ser testado no segundo semestre de 2021, com a reabertura das escolas no período da pandemia.
“Embora nosso produto possa ser incluso em vários mercados, focamos no mercado público porque há um volume maior de alunos com neurodivergências e há uma escassez maior de ajuda. No segundo semestre de 2021, a Cognox conseguiu testar o seu projeto-piloto com 15 alunos de uma escola em Pernambuco. Na época, a plataforma ainda não estava integrada com inteligência artificial, mas os resultados foram positivos.”
Para as escolas públicas terem acesso ao método, a secretaria de educação do município ou estado precisa entrar em contato com a startup e contratar um plano. Há 4 tipos de planos disponíveis – light, pro, premium e master – e o valor varia conforme a quantidade de escolas e alunos que usarão a metodologia.
Com os resultados, a startup chamou atenção da CNPq, do FINEP e do Sebrae Nordeste, recebendo investimento financeiro para evoluir sua tecnologia. Em janeiro de 2023, a startup fechou seu primeiro contrato com a cidade de Coruripe, em Alagoas. Atualmente, a Cognvox atende a 24 escolas e 5 creches de Penedo, em Alagoas e 6 escolas em Coruripe. Além disso, está em negociações com outros três municípios e está explorando oportunidades no Reino Unido e Austrália. Com esses contratos em vista, a startup prevê um faturamento de R$ 10 milhões em 2023.
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Solução da Cognvox
A metodologia Cognvox segue a pesquisa científica de Fabiana e, portanto, permite uma abordagem personalizada. Cada aluno passa por uma análise individualizada que identifica suas deficiências e potencialidades. Essa abordagem é um contraste com as soluções convencionais, que geralmente são padronizadas e não consideram as peculiaridades de cada aluno. A Cognvox desenvolveu ao longo dos anos cerca de dez mil práticas pedagógicas, cada uma com dez formatos distintos. Essas práticas são aplicadas após a identificação das necessidades de cada estudante.
A Plataforma Tecnológica do Cognvox analisa, através da videografia e da análise interacional, aspectos do desenvolvimento cognitivo tais como: raciocínio cotidiano, tomada de decisões, linguagem, abstração do pensamento, generalização, processos inferenciais, dentre outros, com vistas a propor práticas pedagógicas que auxiliem os alunos na melhoria de suas capacidades cognitvas.
Após a avaliação individualizada de cada aluno, a Cognvox fornece aos estudantes um tablet e acesso à internet. Isso permite que eles participem de atividades de desenvolvimento específicas que são adaptadas às suas necessidades. Carlos Moreira enfatiza a importância de oferecer essas atividades em diferentes formatos, como jogos, dramatização, livros e filmes, para garantir que os alunos estejam engajados e motivados. Ele ressalta que não basta oferecer um único formato, pois a eficácia do aprendizado depende do interesse e da receptividade de cada aluno.
O desenvolvimento das práticas pedagógicas disponíveis na plataforma da Cognvox foi impulsionado por um financiamento do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a aplicação de inteligência artificial. Essas práticas foram projetadas para atender às necessidades específicas de alunos neurodivergentes. O projeto abrange 60 temas diferentes, divididos em um cronograma de cinco anos, abordando um tema por mês. Essa estrutura permite o desenvolvimento cognitivo gradual dos alunos.
“Nós construímos uma inteligência artificial que faz a sugestão da aplicação de práticas pedagógicas para esse aluno, criando o que a gente chama de PDI, que é um plano de desenvolvimento individualizado. Então, cada aluno, mediante a avaliação que a psicóloga faz, recebe um plano de desenvolvimento que é construído com a IA. E depois, essa mesma IA mostra para a psicóloga, através de gráficos e indicadores”, completa Carlos.
Além disso, a startup disponibiliza assistentes presenciais nas aulas para trabalhar com os alunos. Esses assistentes têm um papel essencial na aplicação das práticas e na coleta de dados para avaliação. A capacitação dos professores, outro pilar do modelo desenvolvido pela empresa, é feita por meio de cursos remotos já inclusos no pacote contratado pelo estado ou município.
A startup ainda oferece suporte psicológico tanto para os alunos quanto para suas famílias, “Isso é algo que pode fazer toda a diferença, considerando as longas filas de espera para atendimento psicológico no sistema público de saúde. Com a Cognvox, as famílias têm acesso a atendimento mensal por teleconsulta, proporcionando orientação e apoio valiosos”, completa.
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