Por Bruna Galati
O último Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2010, revela que mais de 6,5 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência visual. Desse total, 506 mil pessoas são cegas, enquanto cerca de 6 milhões apresentam baixa visão. No entanto, é inegável que os recursos disponíveis para melhorar a locomoção desses indivíduos ainda são insuficientes.
É nesse contexto que surge a Lysa, uma inovadora solução que pode ser descrita como um “cão-guia robô.” Com inteligência artificial, esse dispositivo é capaz de navegar de forma autônoma, identificando obstáculos no ambiente, destacando objetos no caminho e evitando colisões, tudo isso com o objetivo de aprimorar a locomoção das pessoas com deficiência visual.
A mente por trás dessa criação é Neide Sellin, cuja jornada começou em 2011. Na época, Neide era professora de robótica em uma escola em Serra, município do Espírito Santo. Em sua turma, havia uma aluna com deficiência visual e pensou em desenvolver uma solução que melhorasse a qualidade de vida dela na escola. Foi a partir das conversas com a aluna que surgiu a inspiração para criar o revolucionário cão-guia robô.
A educadora deu continuidade ao projeto ao realizar uma pesquisa abrangente, envolvendo mais de 20 pessoas com deficiência visual, a fim de identificar seus principais desafios e aprimorar ainda mais a solução. Três anos depois, em 2014, Neide Sellin fundou a VixSystem, startup que desenvolve soluções através da robótica, incluindo a Lysa, robô delivery, monitoramento para escolas e máquinas de vigilância.
A startup recebeu reconhecimento nacional e internacional, conquistando mais de onze prêmios ao longo de sua trajetória. Em Singapura, a VixSystem teve sua solução do cão guia eleito como uma das doze tecnologias mais inovadoras do mundo.
Em 2021, a startup recebeu investimentos que atingiram R$ 2,8 milhões, vindos da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (FAPSP), da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES).
Estes aportes permitiram o aperfeiçoamento dos algoritmos da Lysa, principalmente os de navegação, com a adoção de uma tecnologia avançada de câmera e sensores, que permite a geração de um mapa do ambiente em tempo real para que o robô possa ir de um ponto ao outro sem intervenção humana.
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Trajetória da Lysa
Pesando pouco mais de quatro quilos, o robô possui câmeras, cinco sensores, navegação GPS e bateria de oito horas. Ele consegue calcular a melhor rota para o usuário com total autonomia, prevenção e mobilidade durante seu percurso. O produto já foi testado por mais de 200 pessoas com deficiência visual.
Neide Sellin criou uma plataforma robótica com inteligência artificial para garantir navegação autônoma e um aplicativo ligado a uma malha de sensores que detecta objetos aéreos, obstáculos e profundidade. Ele ainda informa se há itens à frente, o que ajuda a evitar colisões, enquanto cria uma rota segura. A primeira versão da Lysa foi lançada em 2017.
No mesmo ano, Neide esteve no programa Shark Tank e obteve R$ 200 mil de investimento-anjo para fabricar mais unidades da Lysa. “Eles ajudaram a selecionar fornecedores e a desenvolver o projeto de forma que ele se tornasse um produto industrial e escalável”, lembra e diz que até hoje recebe aconselhamento dos investidores.
Atualmente, a Lysa opera em diversos locais, incluindo aeroportos, museus e faculdades, totalizando cerca de dez empresas clientes espalhadas pelo Brasil. Também já estão sendo comercializadas na França pela startup Ximenes. O modelo atual da VixSystem é B2B e as empresas podem alugar o equipamento por R$ 1.700 por mês.
A solução oferecida pela startup é baseada em inteligência artificial e permite que os usuários definam seus destinos, com o robô usando aprendizado de máquina para navegar de forma autônoma, contornando obstáculos e fornecendo informações sobre o ambiente.
“O nosso objetivo principal é proporcionar dignidade e visibilidade às pessoas com deficiência visual, que muitas vezes enfrentam a invisibilidade na sociedade. Queremos tornar a locomoção dessas pessoas mais segura e facilitar sua participação ativa em diversos espaços, seja no ambiente de trabalho, nas atividades de lazer ou em suas rotinas diárias. Estamos focados em tornar esses espaços mais acessíveis e, olhando para o futuro, almejamos levá-los para as ruas, realizando o meu grande sonho”, explica Neide, que diz que os próximos passos da startup é torná-la B2C e com um valor mais acessível para a pessoa física.
Como funciona a Lysa?
- Para começar, a pessoa com deficiência visual acessa o painel no tablet da Lysa. A partir daí tem a opção de interagir via comandos de voz ou selecionando opções no menu. Essa interação permite que o usuário indique facilmente o local para o qual deseja se dirigir.
- O sistema usa tecnologia avançada, como sensor LIDAR e oito sensores infravermelhos, para mapear detalhadamente o ambiente. Esse mapa é essencial para a navegação segura e precisa.
- Após definir a rota, o dispositivo cria um mapa de navegação 2D e planeja um trajeto otimizado até o destino. Ele considera obstáculos, distâncias e outras variáveis para isso.
- A alça do robô possui um motor de vibração que alerta sobre obstáculos à frente. Se o usuário desativar o áudio, essa vibração eficazmente ajuda a identificar obstáculos no caminho.
- Um sensor infravermelho direcionado para cima monitora obstáculos no ar. Isso assegura que o dispositivo não só evite obstáculos no solo, mas também detecte objetos suspensos ou obstáculos próximos no espaço aéreo.
- A câmera integrada detecta objetos como móveis, decorações e degraus no caminho. Essa identificação detalhada permite que o dispositivo emita avisos sonoros, garantindo que o usuário esteja ciente dos obstáculos à frente para uma navegação confiante e segura.
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